por Adriana Galvão
Publicado em 14/11/2023, às 05h10
O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) acertou ao escolher o tema da redação de sua última prova: “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. Trata-se de uma questão que, para ser solucionada, exige envolvimento de todos e todas. A “mulher invisível” é sintoma histórico de uma sociedade patriarcal e machista.
Quem seria ela? “Ela” são milhões e milhões de mães, esposas e donas de casa que labutam diuturnamente sem remuneração para proporcionar bem-estar à família, exercendo tarefas que não raro se somam ao trabalho externo. O surreal da situação é que a sociedade não costuma enxergar nada de errado nisso, pois considera as atribuições domésticas inerentes ao seu modelo de mulher. A mulher ideal para alguns valoriza-se ainda mais quando presta cuidados calada, acrescente-se.
A ideia de que a mulher existe para cuidar da casa e da família tem raízes profundas, mas não invencíveis. Positivamente, o tema da redação do Enem mostra que há pessoas preocupadas em subverter mentalidades atrasadas e patriarcais.
O desafio depara-se com barreiras culturais e merece implementação de medidas que valorizem essas atividades da mulher, frequentemente ampliadas até os cuidados com pessoas idosas enfermas da família, por exemplo. De outra parte, a invisibilidade afeta a participação econômica das mulheres, perpetuando a desigualdade de gênero.
Segundo a Oxfam, uma das mais importantes ONGs do mundo, atuante no campo dos Direitos Humanos, as mulheres respondem por 75% do trabalho de cuidado não-remunerado no país, o que demonstra uma compreensão limitada do conceito de trabalho, atrelando-o ao gênero.
A professora Julia Ferreira, coordenadora de redação da plataforma Redação Nota 1000, escreveu um texto de apoio após a divulgação do tema do Enem pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), do qual extraímos o seguinte trecho, por o consideramos seminal:
“Cabe à sociedade civil - principal agente de mudanças sociais -, por meio da organização política, a criação de redes de apoio que possam repartir as demandas atribuídas às mulheres com mais pessoas, retirando a sobrecarga vivida por essa parcela da população. Com isso, espera-se que o trabalho invisível seja não somente legitimado, mas também valorizado. Também, cabe ao Ministério do Trabalho a revisão da remuneração por serviços de cuidado, reconhecendo a dimensão ontológica fundamental dessa atividade.”
Registre, não sem louvor, a iniciativa do Tribunal Superior do Trabalho em promover, no último dia 4 de outubro, o evento “Ver o Invisível - Seminário de Trabalho Doméstico e de Cuidado”, em parceria com a Enamat (Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho), focado mais especificamente na realidade das mulheres negras empregadas domésticas, não raro “invisíveis” como pessoas humanas aos olhos da sociedade.
Entre as palestrantes estava Mirtes Renata Santana, ativista e mãe do menino Miguel, que morreu ao cair do prédio em que ela trabalhava, em Recife. “Somos (as empregadas domésticas), na maioria, mulheres negras que deixamos de cuidar dos nossos filhos para cuidar dos filhos dos nossos patrões”. A frase, dita por Mirtes no seminário do TST, e a tragédia que vitimou seu filho ilustram um pouco o tipo de consequência que pode ser acarretada pela perpetuação da “mulher invisível”.
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