Festas durante a pandemia aceleram moção de desconfiança refletem clara insatisfação dentro partido de premiê britânico, que deve perdurar depois da votação
Redação Publicado em 06/06/2022, às 00h00 - Atualizado às 11h06
Ainda que sobreviva à moção de desconfiança desencadeada em seu próprio partido, o premiê britânico Boris Johnson sai derrotado, com a imagem maculada por pelo menos uma dezena de festas patrocinadas por seu governo durante a pandemia.
Ficou claro o desagrado do público quando ele foi vaiado ao chegar, com a mulher Carrie, à Catedral de St Paul, nas celebrações do Jubileu de Platina de reinado da rainha Elizabeth II.
Os leais ao premiê podem argumentar que, se conseguir ultrapassar a maioria simples de 181 votos, como é previsto, ele terá um ano de imunidade contra novas tentativas de rebelião na legenda. E que não há um forte sucessor para ocupar o seu lugar.
Mas esta sobrevida não é garantia de nada. Sua antecessora, a também conservadora Theresa May, esteve nesse lugar. Ganhou em 2018 uma moção de desconfiança e seis meses depois foi forçada a renunciar. Johnson era um daqueles rebeldes.
Como bem recordou Gavin Barwell, na época chefe de gabinete da premiê, Johnson sairá inevitavelmente ferido da votação. Terá no seu encalço, até o fim do mandato, os rebeldes do partido.
Um deles é o seu czar anticorrupção, John Penrose, que horas antes da votação, renunciou ao cargo e insistiu que o premiê deveria fazer o mesmo por ter quebrado o código ministerial no escândalo conhecido como Partygate.
A investigação fez com que Johnson se tornasse o primeiro chefe de governo britânico a ser multado no exercício de suas funções. Foi arrogante e deu desculpas esfarrapadas sobre as reuniões sociais regadas a vinho na sede do governo, enquanto os britânicos amargavam o confinamento em suas casas. É acusado de mentir ao Parlamento.
Pesquisas revelam que a desconfiança e o desprestígio em relação ao premiê atingem todas as camadas sociais do país, embora a guerra na Ucrânia tenha lhe trazido alguma trégua. Mas a indisciplina partidária e a insatisfação popular vão além das festas clandestinas e se ancoram na alta da inflação, no aumento de impostos, na inoperância do Sistema Nacional de Saúde e nas políticas divisivas de Johnson. No voto desta segunda-feira, os conservadores medirão o tamanho desta raiva.
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