Por Marcus Vinícius de Freitas
Redação Publicado em 13/10/2021, às 00h00 - Atualizado às 07h44
Por Marcus Vinícius de Freitas
À medida que a comunidade global retorna à normalidade após um período longo de pandemia, a questão do terrorismo que ficou em segundo plano deverá voltar à pauta internacional. As razões para que isso ocorra são múltiplas. Em primeiro lugar, a atabalhoada saída dos Estados Unidos do Afeganistão enviou um sinal claro aos grupos terroristas de que a capacidade organizacional do país norte-americano vem deteriorando e sua saída representou a derrota da maior potência militar para um grupo político rudimentarmente equipado. O Talibã, que em 2021 luta para ser diferente daquele de 2001, deverá retornar à sua forma de atuação original não porque o deseje necessariamente mas porque a própria comunidade internacional basicamente o está forçando a isto, retirando-lhe recursos e mecanismos para assegurar viabilidade e sustentabilidade. Como resultado, até mesmo como forma de reposicionamento e busca de apoio popular, o retorno a velhas práticas deverá acontecer.
Em segundo lugar, além da fraqueza de Biden como presidente dos Estados Unidos, a pandemia foi particularmente devastadora para as comunidades mais pobres que migraram para os países desenvolvidos e que, se no passado recente já eram excluídas e discriminadas, com a conjuntura atual viram sua situação econômica deteriorar-se sobremaneira. Além disso, alguns grupos religiosos mais radicais passaram a ver a pandemia como um castigo divino em razão do desvio de conduta da humanidade. Os justiceiros de plantão, aliados à já reconhecida e repetida manipulação religiosa, tenderão a reafirmar aos fiéis seguidores a importância de combaterem ainda mais intensamente as sociedades em que vivem. Como resultado, pobreza, pandemia e a presunção dos intérpretes da voz divina, fomentarão o acirramento dos posicionamentos.
Em terceiro lugar, a incapacidade política dos agentes públicos em entender e lidar efetivamente com a questão do terrorismo tenderá a fomentar uma maior exacerbação dos grupos radicais que têm confrontado, sem o devido combate à altura à ordem social dos países. O que se tem observado, nos últimos anos, é um arrefecimento no combate ao terrorismo não pela redução de sua ação, mas porque a politização da questão e o seu respectivo custo enfraqueceram os mecanismos de combate efetivo.
Em quarto lugar, à medida que o conhecimento tecnológico avança, os grupos terroristas tenderão utilizar mecanismos de guerra cibernética muito mais letais que os ataques perpetrados até o momento. Estes grupos deverão misturar a questão tecnológica cibernética à pirotecnia dos ataques de escala, afinal a criação do pânico e do terror coletivo ainda continuam na ordem do dia para sedimentar a reputação dos grupos terroristas.
Não devemos esquecer que o terrorismo nada mais é do que um método de coerção pública que utiliza – ou ameaça utilizar – a violência como maneira de espalhar o temor a fim de atingir seus objetivos de ganhos políticos. Esta violência é sempre direcionada a vítimas inocentes, a fim de criar a necessária pressão sobre terceiros, como governos, a fim de que modifiquem suas políticas ou posicionamentos. O terrorismo, sem dúvida, é o mal do século XXI. De início, em 11 de setembro de 2001, os ataques às Torres Gêmeas e ao Pentágono revelaram um aspecto importante de uma vulnerabilidade que o poderio militar parece não ter capacidade de combater. Ademais, a globalização tem permitido a rápida troca de ideias e armamentos, que têm sido amplamente explorados pelos grupos terroristas. Com a modernização tecnológica, os grupos terroristas têm operado uma rede global altamente distribuída, compartilhando informação e permitindo uma intensificação de atuação por parte de células menores, que conduzem ataques letais de maneira coordenada. A grande preocupação residente na possibilidade de que alguns grupos terroristas venham a adquirir, fabricar ou utilizar armas de destruição em massa. Se isto acontecer, o Onze de Setembro terá sido pequeno diante daquilo que poderá ocorrer no futuro.
O terrorismo – religioso ou político – constitui um grande desafio porque o seu alcance pode ser devastador. É sempre importante relembrar que a Primeira Guerra Mundial resultou de um ataque terrorista que implicou a morte do Arquiduque Francisco Ferdinando da Áustria, em 28 de junho de 1914, em Sarajevo, por um jovem nacionalista sérvio, Gavrilo Princip, que, já tuberculoso aos 19 anos, dispôs-se a sacrificar a própria vida por seu grupo separatista Mão Negra.
Este é o problema do terrorismo: o seu alcance e as suas consequências. Ações militares poderão matar terroristas, como se comprovou no Iraque, Síria e Afeganistão. Porém, para eliminar o terrorismo, somente educação, fé sem fanatismo e ascensão social poderão surtir efeitos positivos. Do contrário, estaremos sempre enxugando gelo.
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