Diário de São Paulo
Siga-nos
Atenção!

Casos de Hepatite A têm tendência de alta em SP

Em 2022, foram registrados 165 casos, e até o momento, em 2023 já são 204 ocorrências de Hepatite A

Em 2022, foram registrados 165 casos, e até o momento, em 2023 já são 204 ocorrências de Hepatite A - Imagem: Reprodução/Freepik
Em 2022, foram registrados 165 casos, e até o momento, em 2023 já são 204 ocorrências de Hepatite A - Imagem: Reprodução/Freepik

Ana Rodrigues Publicado em 29/09/2023, às 12h29


A cidade de São Paulo vem enfrentando um aumento de casos confirmados de hepatite A, desde o ano passado. A doença causa uma inflamação no fígado. Em 2022, foram registrados 165 casos, e até o momento, em 2023 já são 204 ocorrências.

Segundo o G1, os números superam a média de casos que foram observados antes da epidemia de 2017 a 2018. Na época, o surto de hepatite A na capital paulista, estava associada principalmente à prática sexual desprotegida, incluindo sexo oral e anal, bem como à ingestão de alimentos e água contaminados.

Durante o período, a maioria do casos ocorreu em homens com idades entre 18 e 39 anos, representando cerca de 80% das infeccções. Na época, a prefeitura em resposta, junto ao governo estadual, lançou uma campanha de conscientização direcionada a grupos específicos: gays, homens que fazem sexo com homens (HSH), travestis e pessoas trans.

Aparentemente, a situação voltou a se repetir com o mesmo público de 2017/2018. Dados recentes da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa) de São Paulo indicam que, no período de 2022 a 2023, a hepatite A vem afetando novamente mais homens com 70,8% que estão entre 19 e 40 anos, sendo 67,5%.

O aumento recente preocupa médicos infectologistas ouvidos pelo G1, que também questionam o encerramento da iniciativa de vacinação entre a prefeitura e o governo do estado. Na época de seu lançamento, o governo estadual chegou a classificar a ação na capítal como um "projeto piloto" que serveria para ampliar a recomendação da vacinação contra a doença para essa população vulnerável. No entanto, o programa foi encerrado e gays, HSHs, travestis e pessoas trans não estão mais contemplados na estratégia municipal.

"O programa pode ser temporário, a doença que não é", disse a médica infectologista Mafê Medeiros.

Ela ainda avaliou como "péssimo" o encerramento da iniciativa e ressalta que, embora a vacina esteja no Programa Nacional de Imunizações (PNI) desde 2014 com uma dose aos 15 meses de idade, sendo suficiente para conferir imunidade protetora, algumas pessoas acabam não tomando o imunizante quando jovens. Assim, isso representa um risco, especialmente para quem está envolvido em práticas sexuais orais-anais.

Antigamente, quando o saneamento básico era precário, a população era exposta a esse vírus desde a infância, desenvolvendo anticorpos naturais. No entanto, com a melhora do saneamento, as pessoas não são mais expostas e não desenvolvem imunidade natural. Isso afeta principalmente as pessoas nascidas a partir da década de 90, que não foram vacinadas na infância", disse.

Em seu último boletim, a Covisa mencionou porém, que até o momento não foi identificada uma fonte de contaminação comum entre os casos que foram notificados este ano, e que a equipe técnica continua monitorando atentamente a situação.

Entretanto, o mesmo documento destaca que a comunicação de várias doenças de notificação compulsória, incluindo a hepatite A, diminuiu significativamente em 2020 e 2021, devido ao impacto da pandemia de Covid-19.Posteriormente, houve um esforço para monitorar e notificar casos de hepatite aguda de origem desconhecida, o que pode ter resultado no diagnóstico de muitos casos como a hepatite A.

A tendência de concentração de casos em adultos jovens tem sido observada em países de baixa endemicidade, como na Europa, Estados Unidos, Japão e Chile, desde a década de 1970.

Conforme explicou o médico infectologista Alberto Santos Lemos, pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Imunização e Vigilância em Saúde do INI/Fiocruz, no Brasil as grandes capitais seguem esse mesmo padrão, o que é atribuído, em parte, à prática do sexo oral-anal, que é mais comum entre pessoas gays e trans e aumenta a vulnerabilidade à hepatite A, porém ele diz que os dados ainda são muito preliminares para que se conclua algo de forma mais incisiva.

Sabemos que está havendo predominância de casos no sexo masculino e na faixa etária de 19 a 40 anos, um padrão semelhante ao verificado no surto de 2017. Isso até pode indicar uma hepatite relacionada à prática do sexo oral-anal, mas não encontrei dados abordando essa questão", disse.

Aliado a isso, conforme explicou o alerta epidemiológico que divulgado na segunda-feira (25) pelo Covisa, até essa data, não havia sido constatado na capital um aumento nos resultados positivos nos testes de diagnóstico da hepatite A nos principais labortatórios da cidade de São Paulo, sejam eles com caráter público ou privado.

Já por outro lado, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) revelou recentemente um aumento significativo nos diagnósticos de hepatite A no Brasil em 2023. De janeiro a junho deste ano, os casos positivos aumentaram em impressionantes 56,2% em comparação com o mesmo período de 2022. A análise se baseou em dados de 60% dos laboratórios privados do país. Até o momento, os centros de diagnóstico já registraram 1.567 casos positivos de hepatite A, diferente ao primeiro semestre do ano anterior, onde registrou 1.003 casos.

Ao tratarmos com dados de vigilância, estamos sempre olhando o passado, sempre atrasados. Os números dependem do registro de fatos ocorridos no passado. Só nas próximas semanas poderemos saber com certeza, se realmente há ou não um aumento do número de casos de hepatite A no município", alertou Santos Lemos.

A hepatite A é causada por um vírus chamado HAV, que se espalha através de fezes contaminadas. O vírus provoca inflamação no fígado e é transmitido quando alguém não infectado ingere alimentos ou água contaminados pelas fezes de uma pessoa infectada. Ao contrário das hepatites B e C, ela não é uma doença crônica no fígado, mas pode levar a sintomas debilitantes e, raramente, a uma forma grave chamada hepatite fulminante, que pode ser fatal.

De acordo com a OMS, em 2016, 7134 pessoas morreram de hepatite A em todo o mundo, representando 0,5% das mortes relacionadas à hepatite viral.

O VHA é uma importante causa de hepatite aguda em todo o mundo, sendo responsável por cerca de 1,4 milhões de casos sintomáticos por ano, dos quais aproximadamente 35 mil evoluem para óbito", disse Santos Lemos.

A hepatite A pode ser contraída por:

  • Consumo de água não tratada ou contaminada;  
  • Ingestão de alimentos que tenham sido lavados ou cultivados com água contaminada;
  • Consumo de alimentos que tenham sido manuseados por uma pessoa infectada;
  • Contato físico próximo com uma pessoa infectada, incluindo relações sexuais e compartilhamento de agulhas para uso de drogas. 

Os sintomas da hepatite A geralmente aparecem algumas semanas após a infecção pelo vírus. Porém, nem todas as pessoas infectadas desenvolvem os sinais. Se ocorrerem sintomas, eles podem incluir:

  • Cansaço e fraqueza incomuns; 
  • Náuseas súbitas, vômitos e diarreia;
  • Dor ou desconforto abdominal, especialmente no lado direito superior, abaixo das costelas, onde fica o fígado;
  • Fezes de cor acinzentada ou esbranquiçada;
  • Perda de apetite;
  • Febre leve; 
  • Urina escura; 
  • Dor nas articulações; 
  • Amarelamento da pele e dos olhos (icterícia);
  • Coceira intensa.

Esses sintomas podem ser relativamente leves e costumam desaparecer em algumas semanas.

A melhor forma de prevenção é através da vacinação. Além disso, pode reduzir o risco de contrair a doença lavando as mãos regularmente, praticando sexo seguro, evitando compartilhar agulhas ou seringas e tomando precauções ao consumir alimentos e água, especialmente em áreas que a hepatite A é comum. Lembre-se de não preparar alimentos ou bebidas para outras pessoas enquanto estiver doente para evitar a propagação da doença.

Na rede pública, a vacina contra hepatite A é administrada no calendário infantil, com uma dose aos 15 meses de idade, podendo ser dada a partir dos 12 meses até os 5 anos incompletos. Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, para pessoas com mais de 1 ano de idade e condições médicas específicas, a vacina está disponível em duas doses, com um intervalo mínimo de 6 meses, nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE). Essas condições incluem hepatopatias crônicas, doenças hematológicas, HIV, tratamento imunossupressor, transplantes e doadores de órgãos.

Compartilhe  

últimas notícias