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Quem levará vantagem na comparação dos 100 dias entre Lula e Tarcísio?

Luiz Inácio Lula da Silva e Tarcísio de Freitas - Imagem: Reprodução | Ricardo Stuckert/Presidência da República
Luiz Inácio Lula da Silva e Tarcísio de Freitas - Imagem: Reprodução | Ricardo Stuckert/Presidência da República
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 09/04/2023, às 15h01


Se tem um político que fica na dele é o governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas. Com espírito agregador, só reage, e sempre com argumentos consistentes, quando os opositores resolvem atacá-lo. Nas oportunidades em que se manifestou desde a sua posse, foi equilibrado, sensato e muito coerente.

Demonstrou competência na administração de crises durante a tragédia que se abateu sobre o Litoral Norte há pouco tempo. Sua atuação correta e pronta foi decisiva na administração de um evento de consequências tão tristes. Em suas entrevistas fornecia dados precisos de tudo o que estava acontecendo e das medidas que seriam tomadas. E cumpriu rigorosamente o plano estabelecido. Foi uma prova de fogo.

Outra qualidade de Tarcísio vista com bons olhos pelos eleitores é a sua fidelidade ao antigo chefe. Não houve um momento sequer em que ao se referir a Bolsonaro não tenha falado dele com admiração e agradecimento. Além de ressaltar todos os feitos do ex-presidente, faz questão de lembrar que, se não fosse pelo apoio dele, não seria ninguém. Que jamais teria conseguido vencer as eleições do mais importante estado do país.

Pois bem, completados 100 dias de governo os deputados petistas de São Paulo resolveram realizar um ato nesta segunda-feira, intitulado “100 dias, 100 nada”. O objetivo é mostrar os erros do governador nas áreas da Saúde, Educação, Assistência Social e Privatizações. Farão comparação com as realizações do governo Lula. Vão criticar o projeto de lei que dispensou a obrigatoriedade do atestado de vacinação contra a Covid-19 e o plano de privatização da Sabesp. Provavelmente, incluirão ainda a greve dos metroviários.

Do lado do Governo Federal irão ressaltar o novo desenho dos programas Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida. Evidentemente, não mencionarão os indicadores econômicos negativos do país, como, por exemplo, aumento da inflação, crescimento do desemprego, estagnação do PIB e rombo das contas públicas no montante de R$ 41 bilhões em fevereiro, o pior resultado da série histórica. Deixarão de fora também os elevados níveis de desmatamento na Amazônia e no Serrado. Na Amazônia levou medalha de ouro. No Serrado, de prata.

Essa manifestação tem tudo para ser um tiro no pé. Além da habilidade de Tarcísioem dar respostas com argumentos irrefutáveis, os aliados do governador e os opositores a Lula sairão a campo para fazer a defesa da gestão paulista e levantar cada detalhe do desgoverno do presidente. Se o noticiário for imparcial, no confronto das informações, provavelmente devido às circunstâncias atuais, com esse telhado de vidro, o chefe do Executivo tem tudo para sair em desvantagem.

Além desse risco, o PT fará um enorme favor a Tarcísio. Embora ele tenha afirmado que não pretende concorrer à presidência do país em 2026, pois imagina que o candidato seja Bolsonaro, a história poderá ser alterada. Se, por um motivo qualquer, conseguirem tornar o ex-presidente inelegível, projetarão o nome do governador de São Paulo na esfera nacional. Anteciparão a presença de Tarcísio na disputa. E, caso Bolsonaro não possa mesmo concorrer, o governador terá o apoio de alguém que será visto como vítima de uma jogada política.

A força eleitoral do ex-presidente continua muito representativa. Foram cerca de 60 milhões de votos nas últimas eleições. Essa votação, somada aos eleitores que se sentem decepcionados com o atual governo, mais o prestígio do próprio governador, poderá abrir as portas do Palácio do Planalto para o adversário de Lula no próximo pleito.

Tudo indica que essa iniciativa não foi lá muito bem planejada. Nesta semana já poderemos constatar a repercussão do manifesto. Com a enorme vantagem de Bolsonaro nas mídias sociais, os comentários tenderão a enaltecer o governador e a desqualificar o presidente.

Há grande curiosidade para saber qual será a reação da população. O PT nunca conseguiu conquistar o governo de São Paulo. Por algum motivo nem sempre muito bem explicado, existe grande resistência à essa agremiação política no estado paulista. Falar mal de um governador que acabou de ser eleito por expressiva votação, e que continua agradando a população, talvez seja ainda mais prejudicial a quem está se manifestando com motivos aparentemente frágeis e inconsistentes. Há momentos em que a melhor arma para esse tipo de batalha é o silêncio.

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