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COLUNA

Preocupa muito ver o Brasil metido no conflito entre Israel e o Hamas

Luiz Inácio Lula da Silva. - Imagem: Reprodução | Hugo Barreto - Metrópoles
Luiz Inácio Lula da Silva. - Imagem: Reprodução | Hugo Barreto - Metrópoles
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 12/11/2023, às 07h02


Nos últimos dias surgiram notícias preocupantes a respeito do envolvimento do Brasil no confronto entre Israel e o Hamas. Não é novidade para ninguém que Israel não gostou nada da postura de Lula sobre o episódio de Gaza.

O chefe do Executivo brasileiro tentou por todos os meios não denominar o Hamas como grupo terrorista, e, quando o fez, aproveitou para criticar a reação dos israelenses. Depois de ter sofrido o que sofreram, vendo suas mulheres e crianças brutalmente assassinadas, seria natural que esperassem outra atitude do Brasil.

A presença de Bolsonaro provocou revolta 

Entre todos os motivos que chegaram a esgarçar as relações entre os governos brasileiro e israelense está o encontro do embaixador de Israel, Daniel Zonshine, com políticos oposicionistas, entre eles Jair Bolsonaro.

Dá para imaginar como Lula e sua base aliada se sentiram com essa notícia. Saiu faísca por todos os lados. A presidente do PT, Gleisi Hoffman, mesmo não tendo comparecido ao encontro para o qual havia sido convidada, foi uma das mais indignadas. Em nota publicada no X afirmou:

“Mais uma vez o embaixador de Israel no Brasil intrometeu-se na política interna de nosso país, num ato público com o inelegível Jair Bolsonaro, realizado em pleno Congresso Nacional”.

Em sua defesa, o representante israelense alegou que “a presença do ex-presidente não foi coordenada pela Embaixada de Israel e não era de conhecimento antes do evento, ocorrendo de forma fortuita”. Essa versão foi corroborada pelo advogado de Bolsonaro, Fabio Wajngarten. Disse que o encontro aconteceu de surpresa.

Brasileiros deixam Gaza

Independentemente das consequências desses fatos, fica cada vez mais evidente a antipatia por parte daqueles que estão no comando do país hoje contra Israel. Agora, a permissão dada para que 34 pessoas que estavam na Faixa de Gaza, entre elas 24 brasileiros, deixassem o local passando pela fronteira com o Egito deveria dar uma acalmada nos ânimos. Infelizmente, as tensões entre brasileiros e israelenses continuam em tom elevado

O assessor do presidente Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim, bate e assopra. Na reunião convocada pelo governo francês em Paris para tratar da ajuda humanitária aos palestinos, Amorim usou o termo “genocídio”. Essa atitude coloca ainda mais combustível no estremecimento das relações entre Brasil e Israel:

“A morte de milhares de crianças é chocante. A palavra genocídio inevitavelmente vem à mente”.

Em outro pronunciamento, Amorim já havia questionado a demora para a liberação dos brasileiros. Suas palavras demonstraram grande descontentamento com o episódio:

“Não houve explicação para a não inclusão de brasileiros. Simplesmente foram dando prioridade a outros países”.

Esse é o momento em que se intensifica o processo de narrativas. Cada lado tentando defender seu ponto de vista. Tomara que as questões ideológicas não fomentem picuinhas que possam prejudicar ainda mais as relações entre os dois países.

Diplomacia admirável

Se a nossa diplomacia agir como sempre tem agido, buscando soluções de Estado e não de Governo, poderá dar continuidade à posição que sempre foi exemplar para o mundo.

Basta analisar o comportamento diplomático brasileiro no último século. Entra governo, sai governo e são preservados os princípios do Itamarati que remontam à época de Rio Branco, quando esteve à frente do ministério das Relações Exteriores por longos dez anos, de 1902 a 1912. Entre eles: não resolver litígios por meio da força e sim da diplomacia.

De forma até surpreendente, quem tem agido para diminuir as tensões na região do conflito é a China. Abre diálogo com um dos lados da equação por causa do seu bom relacionamento com o Irã, a Turquia, os árabes e os palestinos. Por outro lado, nos contatos que estabelece com os Estados Unidos, aliados de Israel, também viabiliza um canal para conversas.

Ainda bem que existe essa porta de saída para questões que aparentemente se mostram insolúveis. Tomara que o Brasil siga as tradições da nossa diplomacia e se mantenha distante desses embates. Que deixe as soluções por conta de quem efetivamente tem condições de resolver. Continuar cutucando Israel não nos proporcionará nenhum benefício.

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