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Lula continua caindo na aprovação e subindo na rejeição

Luiz Inácio Lula da Silva. - Imagem: Divulgação / Ricardo Stuckert
Luiz Inácio Lula da Silva. - Imagem: Divulgação / Ricardo Stuckert
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 24/03/2024, às 07h56


Há uma frase atribuída a Freud que talvez explique bem a derrocada de Lula nas pesquisas: “Quando Paulo fala de Pedro, sei mais de Paulo que de Pedro”. O último levantamento do Datafolha aponta que 33% dos entrevistados consideram o presidente ruim ou péssimo, enquanto 35% avaliam como ótimo ou bom. Ou seja, há um empate técnico entre a aprovação e a reprovação.

Quando comparado com o estudo realizado em dezembro, observa-se que houve oscilação negativa de três pontos percentuais na aprovação, e um aumento de idêntico percentual na reprovação. A situação do governo é preocupante. Tanto que Lula convocou reunião ministerial para cobrar de seus ministros empenho na divulgação das ações do governo.

Missão quase impossível

Não será tarefa fácil para a equipe ministerial. Ainda que exista um pacote de bondades para comunicar à população, a percepção das pessoas está contaminada pelos constantes aumentos dos alimentos nos supermercados e do combustível nos postos de abastecimento. E se não bastassem esses dados, para completar a tempestade perfeita, o próprio Lula entra na equação.

Entre todos os motivos que levam a esses números negativos, há fatores atribuídos ao próprio comportamento do presidente que chamam a atenção. Pessoas próximas ao chefe do Executivo dizem que esse resultado desfavorável se deve aos pronunciamentos de Lula sobre o conflito de Gaza e a política venezuelana, assim como suas insistentes críticas a Bolsonaro.

Perseguição injusta

Tendo em vista que grande parte da população tem a sensação de que o ex-presidente está sendo perseguido injustamente, ao falar mal dele em quase todos os discursos, dentro e fora do país, Lula acaba por associar sua imagem àqueles que ficam procurando picuinhas para incriminá-lo.

Se o presidente imaginava que ao tentar desqualificar Bolsonaro, com todo tipo de crítica, iria prejudicar sua atuação como cabo eleitoral nas eleições municipais, se enganou.

Errou também se planejou os rumos políticos a mais longo prazo, como a disputa à presidência da República em 2026. Há quem diga que poderá ocorrer uma reviravolta e Bolsonaro voltar a ser elegível. Pensando em ter de enfrentá-lo, ou como adversário direto, ou como padrinho de alguma campanha, é possível que esteja tentando eliminá-lo já, de uma vez por todas.

Uma surpresa para Lula

Lula não esperava, entretanto, que os seus ataques poderiam se voltar contra ele mesmo. Como disse Gregorio Marañón em “Os amigos do Padre Feijoo: “O crítico inimigo é também um colaborador”.

Nada mais acertado. O que se observa na política brasileira da atualidade é um exemplo perfeito desse pensamento. Quanto mais Lula critica Bolsonaro, quanto mais se preocupa em procurar defeitos em seu inimigo, mais o ex-presidente lota as ruas de aliados e mais cresce nas redes sociais. 

Os assessores não ajudam

O que mais surpreende é que, com toda assessoria disponível para ajudar o presidente em suas ações, ninguém o alertou para o risco de perder popularidade com esse comportamento beligerante desproporcional. Ou será que alertaram, mas a vaidade do chefe não deu ouvidos às sugestões?

É possível que o erro de cálculo tenha origem nas experiências anteriores de Lula. Sempre que ocupou o cargo de presidente, não mediu palavras para desqualificar seus antecessores.

Foi assim com Fernando Henrique Cardoso. Embora tenha recebido um governo azeitado, com tudo funcionando bem. Todas as vezes em que tinha oportunidade, afirmava que seu antecessor havia quebrado o país duas vezes.

O próprio FHC disse várias vezes indignado que não entendia esses comentários de Lula. Suas palavras, entretanto, não serviram para mudar a situação. A iniciativa do petista deu certo, pois o eleitorado aceitou essa narrativa e concordou em reconduzi-lo ao Palácio do Planalto.

Desta vez, provavelmente devido à força das redes sociais, as pessoas classificam os ataques como infundados, e afirmam que tudo não passa de jogo político apenas para prejudicar o desafeto. O resultado negativo das pesquisas para a imagem de Lula são a prova do equívoco desses pronunciamentos.

São quatro motivos que obrigam uma pessoa a mudar de atitude: dinheiro, poder, amor e um que pode encadear todos os anteriores, a necessidade de voto. Quem sabe ao ver a luz do perigo se aproximando de forma intensa, Lula resolva reformular suas estratégias. A ver.

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