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Elon Musk tirou Bolsonaro das manchetes

Jair Bolsonaro e Elon Musk. - Imagem: Divulgação / Planalto
Jair Bolsonaro e Elon Musk. - Imagem: Divulgação / Planalto
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 14/04/2024, às 05h40


Se fizermos uma análise dos acontecimentos políticos dos últimos tempos, vamos constatar que Bolsonaro sempre esteve nas notícias mais importantes divulgadas pela imprensa. Um dia eram as joias. Em outro a carteirinha de vacinação. Depois a baleia. Mesmo tendo ficado inelegível, o ex-presidente nunca ficou esquecido.

E quanto mais sucesso fazia com as manifestações, como a do dia 25 de fevereiro na avenida Paulista, e pelas andanças por todos os cantos do país, carregando multidões por onde passava, mais alguma forma de desqualificá-lo aparecia. Quando parecia que a poeira iria baixar, eis que surgia um novo tema para desassossegá-lo. Faz parte do jogo político.

Véspera das eleições

Ainda mais agora que começam as disputas municipais. Especialmente nas grandes cidades, haverá luta renhida entre ele e Lula. Quem conseguir ajudar a eleger mais prefeitos e vereadores dará demonstração eloquente da sua força política. Por isso, os adversários fazem de tudo para diminuir a influência que o ex-presidente poderia ter junto ao eleitorado. Faz parte do jogo político.

De repente surge uma novidade que toma conta das principais manchetes do noticiário nos jornais, revistas, emissoras de rádio, de televisão e nos portais da internet: a troca de farpas entre Elon Musk e o judiciário brasileiro. De uma hora para outra, o bilionário resolveu dirigir sua artilharia pesada contra as decisões tomadas pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal). Esse episódio não estava previsto na cartilha do jogo político.

Bolsonaro fora dos holofotes

Essa notícia fez com que a imprensa deixasse Bolsonaro um pouco de lado. As informações se sucediam de maneira vertiginosa.Enquanto os jornalistas, atônitos, tentavam entender as dimensões da indagação feitas por Musk, no dia 6 de abril (sábado): “por que o ministro Alexandre de Moraes exige tanta censura no Brasil?”, eram bombardeados por outra novidade.

Nem haviam preparado a manchete e, no mesmo dia, o magnata diz que talvez seja obrigado a fechar o X (Twitter) no Brasil. Não dava para tomar fôlego, pois lá vinha outra bomba: Musk chamou o ministro de tirano, totalitário e draconiano. E, se não bastasse, afirmou que Moraes deveria renunciar ou sofrer um impeachment.

O governo reage

O governo, também envolvido nas acusações, deu uma mãozinha para apimentar o noticiário, já que resolveu revidar. O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta, já em 7 de abril, um dia após os comentários de Musk, disse: “Não vamos permitir afronta à nossa pátria”. Nem deu tempo de pensar na chamada de capa, pois no mesmo dia o dono do X incentivava os brasileiros que usam sua rede social a migrarem para o VPN. Assim poderiam ficar livres das proibições.

No dia 8 lá vem outra bordoada. Musk desafia Moraes a um debate de forma aberta. Bem, daí para frente a temperatura foi subindo cada vez mais. Entra em cena, então, o próprio ministro. Determinou que o X não desobedeça às ordens judiciais, não reative os perfis bloqueados, sob pena de multa diária de R$ 100 mil. E deixou claro que iria responsabilizar os gestores legais da empresa no Brasil.

Bolsonaro continua de fora

Pois é, com essa troca de farpas, não sobrou espaço para falar de Bolsonaro. Sem contar que a história ainda está longe de chegar ao fim. Demonstrando estar disposto até a encerrar suas atividades no Brasil, Musk informou que precisaria levar seus funcionários para um lugar seguro, retirá-los de posições de responsabilidade.

Barroso e o ponto final

O ministro Luís Roberto Barroso disse que para o STF esse assunto é página virada. Que não haverá mais debate público. Que tudo seria apreciado no Judiciário. Não parece, entretanto, que foi colocado um ponto final. Se Musk cumprir sua promessa de divulgar as mensagens “comprometedoras” que possui, muita água ainda irá passar por baixo dessa ponte. Tanto governistas quanto oposicionistas estão com a faca nos dentes, só esperando novas oportunidades para atacar ou defender.

Independentemente do que venha acontecer, o certo é que Bolsonaro continuará respirando um pouco mais tranquilo longe do noticiário. Se não por outros motivos, pelo menos essa situação de poder ficar fora das luzes por algum tempo já deve ter agradado o ex-presidente. Mas ele que não perca por esperar – logo novas notícias surgirão.

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