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Em ato antidemocrático, militar do GSI ameaça Lula: “Não vai subir a rampa do Planalto”

Ronaldo Travassos também defendeu o assassinato de apoiadores de Lula

Ronaldo Ribeiro Travassos também alegou que haverá uma guerra civil no país - Imagem: reprodução/Facebook
Ronaldo Ribeiro Travassos também alegou que haverá uma guerra civil no país - Imagem: reprodução/Facebook

Mateus Omena Publicado em 29/11/2022, às 17h25


Um militar da Marinha divulgou áudios e vídeos a um grupo bolsonarista no qual incentiva os atos antidemocráticos em frente aos quartéis das Forças Armadas e declara que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não tomará posse em 1º de janeiro.

Ronaldo Ribeiro Travassos aparece defendendo também o assassinato de brasileiros quw votaram em Lula nas eleições de 2022. O militar atua no GSI (Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República), chefiado pelo general Augusto Heleno, um dos aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL).

De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, Travassos foi procurado pela imprensa e declarou que não comentaria suas falas e argumentou não saber se era ele mesmo nos áudios.

Em um vídeo gravado no dia 24 de novembro, ele criticou colegas do GSI e da Presidência que não participaram nas manifestações no QG do Exército, em Brasília, pedindo golpe.

"Aí pessoal, tá lotado. 24 de novembro de 2022, horário do jogo do Brasil, mas o povo não quer nem saber, o povo está aqui lutando pelo Brasil. Eu tenho certeza que o ladrão não sobe a rampa. Agora, você que tá bonitinho em casa, quando seu filho virar boiola ou uma sapatão esquerdista, não reclame", declarou Travassos.

Em relação à hipótese de o presidente eleito Lula não tomar posse, o militar afirmou em um áudio ter feito a previsão a outro integrante do GSI, o general Joaquim Brandão, que é assessor especial de Heleno.

"O general Brandão me perguntou lá no gabinete: Marujo, o que você acha? Acho não, tenho certeza, o ladrão [em alusão a Lula] não vai subir a rampa. Por que você diz isso? Porque eu confio no povo que tá lá no QG, em todos quartéis Brasil afora, confio nos caminhoneiros e nos índios. Se as Forças Armadas não fizerem nada, nós vamos fazer."

Nas redes sociais, também há registros do militar nos atos do feriado de 7 de Setembro, capturados eleitoralmente pelo chefe do Executivo.

Em outros momentos, o militar também alegou que haverá uma "guerra civil" no país.

"Estevão, apagou por quê? É isso mesmo, tem um monte de colega omisso. Tem gente aqui nesse grupo, tem grupo de fora, meu prédio tem 17 moradores, dos 17, seis fazem o L. Nós precisamos saber quem é quem, porque a guerra civil vai rolar".

A mensagem enviada ao grupo era uma resposta a Estevão Luiz Soares, outro militar da Marinha lotado na Presidência.

Depois de falar em guerra civil, Travassos justificou que defenderia qualquer patriota, como intitulou os apoiadores de Bolsonaro, mas que não hesitaria em dar um tiro na cabeça do próprio irmão se ele fizesse o L - gesto característico dos apoiadores de Lula.

"Não tô falando isso de brincadeirinha, não, é sério. Quem faz o L é terrorista. Tem que morrer mesmo, ou mudar ou morrer, porque não tem jeito uma pessoa dessa".

Por outro lado, Travassos é militar da ativa e, então, não poderia participar de manifestações político-partidárias.

A Constituição Nacional também proíbe a filiação de militares da ativa a partidos políticos e a norma que rege a categoria diz que é proibida "quaisquer manifestações coletivas, tanto sobre atos de superiores quanto as de caráter reivindicatório ou político".

Repercussão das ameaças

Em nota, o GSI declarou que não é sua competência "autorizar servidores para que participem de qualquer tipo de manifestação" e que "as supostas declarações demandadas são de responsabilidade do autor em atividade pessoal fora do expediente".

A responsabilidade do GSI é garantir a segurança do presidente da República. Atualmente, portanto, de Bolsonaro e a partir de janeiro passará a trabalhar para Lula.

Em tese, durante a fase de transição, o órgão poderia auxiliar fazendo a proteção do presidente eleito em alguns locais, caso fosse chamado pelo novo governo, e eventualmente atuar na posse. No entanto, esse procedimento vem sendo rejeitado pela equipe da Polícia Federal que faz a segurança de Lula.

A PF excluiu o GSI da sede da transição do governo, no CCBB, em Brasília (DF). Também tem evitado sua participação na posse e concentrando a coordenação do evento.

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