A Guerra dos Chips está acontecendo entre China e EUA e pode ter grandes consequências econômicas
Ana Rodrigues Publicado em 20/09/2023, às 12h16
Muito vem se falando sobre a 'Guerra dos Chips', principalmente por muitos acharem que é apenas mais uma batalha comercial entre Chinae Estados Unidos. O que muitos não sabem, é que o país que dominar a indústria de semicondutores terá praticamente a economia internacional nas mãos.
Atualmente, os chips são a alma da economia moderna e o cérebro de todos os sistemas eletrônicos em produtos de consumo em massa como carros, telefones, computadores, e até mesmo aviões de combate, segundo matéria do G1.
A indústria militar tornou-se cada vez mais dependente de semicondutores avançados para sistemas de computação, sensores e capacidade de comunicação”, diz Chris Miller, professor associado de História Internacional na Universidade Tufts (em Massachusetts, nos EUA), especializado em questões econômicas, tecnológicas e políticas.
Os semicodutores são também a força motriz por trás das inovações que vão revolucionar a forma como vivemos, como a inteligência artificial e a computação quântica. E, embora os Estados Unidos continuem como os líderes no design de chips, a maior parte da fabricação é feita no exterior. Os chips tecnologicamente mais avançados, são fabricados em Taiwan.
A medida que as tensão política aumentou nos últimos anos sobre a possibilidade da China invadir Taiwan, também cresceu a preocupação nos EUA sobre a vulnerabilidade do fornecimento de semicondutores.
Quando a pandemia provocou interrupções nas cadeias de abastecimento e as empresas entenderam que, apesar de terem custos baixos, não podem depender exclusivamente da China, elas começaram a olhar para outros países com a ideia de realocar suas operações.
Por que não o México?", indagou Chris Miller.
Muitas empresas começaram a se instalar em outros países asiáticos, porém o país latino-americano também está na corrida para atrair estes investimentos.
Há uma grande oportunidade para o México", argumenta o autor de livros como A Guerra dos Chips (Globo Livros, 2023) nesta entrevista à BBC News Mundo, serviço da BBC em espanhol.
Quando perguntado sobre, qual papel o México pode desempenhar no meio desta guerra de semicondutores que existe entre EUA e China, Miller explica que o país pode ter um papel importante na montagem e embalagem.
Existem muitas partes no processo de fabricação de semicondutores. Você tem o design, a produção das ferramentas, a fabricação dos próprios chips, a embalagem antes de serem enviados ao consumidor final. Nenhum país se concentra particularmente em todas as fases. O México pode desempenhar um papel importante na montagem e embalagem. O país já possui uma indústria de montagem desenvolvida no setor automotivo e no setor de dispositivos médicos. É por isso que o México pode expandir essa vantagem para as indústrias de montagem e embalagem de chips".
As empresas que fabricam semicondutores, tem o interesse de reequilibrar sua cadeia de abastecimento para não ficarem tão dependentes da Ásia Oriental. Atualmente, a maior parte da montagem e embalagem da indústria de chips é feita no Leste Asiático, países como, China e Taiwan. E, muitas dessas empresas gostariam de ver mais montagem e embalagem de chips na América do Norte.
Apesar de ainda não ter acontecido, Miller acredita que o México tem a geografia, a base industrial, a estrutura de custos para viabilizar a montagem e a embalagem. E quando questionado sobre o fato do país não se destacar como parte dos países que se destacam por fabricar tecnologia avançada, alegou que:
Acontece que os semicondutores são tecnologia avançada, mas exigem montagem e é nessa parte que o México tem vantagens. Além de carros e dispositivos médicos, também são montados servidores e computadores no México. Como empresas estão buscando mudar a cadeia de abastecimento para fora da China, serão necessários mais computadores e servidores montados no México no futuro. Todos esses produtos precisam de semicondutores. Então, não creio que seja correto dizer que o México não tem base tecnológica para somar-se à mudança. Existem várias indústrias que utilizam muitos semicondutores e ficariam muito entusiasmadas em ver o México desempenhar um papel maior na montagem e embalagem".
Também se foi questionado como o México irá atrair investimentos de empresas fabricantes da indústria de chips se não tiver um plano especificamente concebido para atingir esse objetivo, e Miller destaca que, o México precisa fazer mais no desenvolvimento de uma estratégia.
Em última análise, as empresas tomarão decisões de investimento motivadas pela lógica empresarial, mas o governo pode ajudar garantindo que os incentivos fiscais sejam concebidos da melhor forma possível para torná-los atraentes para as empresas. O segundo ponto é que o governo pode ajudar garantindo que as empresas tenham o fornecimento de eletricidade, água e energia limpa de que necessitam para atrair investimentos a longo prazo. E a última coisa, provavelmente a mais importante, é que existe um ecossistema suficientemente extenso para o desenvolvimento de economias de escala que reduzam custos, como fizeram China, Vietnã ou Taiwan".
Ainda finalizou dizendo:
O México tem isso em certas indústrias, como a automotiva, mas não nas indústrias de semicondutores ou na produção de certos componentes eletrônicos. O governo pode fazer mais para que as empresas percebam que há interesse em desenvolver esta indústria e resolver os problemas que as empresas enfrentam. Quanto mais investimentos você puder atrair, mais interesse haverá no futuro em novos investimentos".
É uma grande oportunidade para o México. E, a oportunidade acaba não tendo apenas a ver com a corrida pelos semicondutores entre os EUA e a China, tem muitas empresas multinacionais que estão na China e pensam o que fazer com sua produção.
Não são apenas as empresas americanas. As empresas japonesas, coreanas e taiwanesas também estão interessadas em transferir sua produção industrial para outros países. Nas últimas duas décadas, o México perdeu oportunidades porque muitas empresas se estabeleceram na China, mas essa era acabou. Agora há uma corrida entre o Sudeste Asiático e o México para atrair empresas que vão deixar a China. É uma daquelas oportunidades únicas em uma geração".Caso entre na cadeia de fornecimento de semicondutores, vão ser inúmeros os benefícios ao país, um dos principais deles é a criação de empregos de alta qualidade e bem remunerados que sejam relativamente de alta tecnologia. Há uma grande razão, pela qual todos os países tentam competir para atrair esses investimentos, a industria dos semicondutores pode ter impacto no crescimento econômico do país. Os chips possuem alto valor agregado, é tecnologia avançada.
O governo mexicano tem que ser mais estratégico na atração de empresas e tem que demonstrar que o país é o lugar certo para este tipo de indústria", disse Miller.E finalizou dizendo que, é possível sim que o México desempenhe um papel mais importante nas cadeias de abastecimento eletrônico.
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