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Brasil e China negociam transformação revolucionária na agricultura

Apesar da ausência de Lula na viagem para a China, as conversas continuam entre os países

Brasil e China negociam transformação revolucionária na agricultura - Imagem: Unsplash
Brasil e China negociam transformação revolucionária na agricultura - Imagem: Unsplash

Nathalia Jesus Publicado em 27/03/2023, às 08h45


Com uma ideia ousada, o governo brasileiro busca abrir negociações com a China para financiar um projeto bilionário para transformar milhões de hectares de pastagem em áreas de produção agrícola. Para isso, a atual gestão pretende convencer o governo chinês a atuar como financiador do plano.

Mesmo com o cancelamento da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a China por conta de uma pneumonia, técnicos do Ministério da Agricultura tocam as reuniões e visitas a órgãos e entidades chinesas.

A viagem também era importante para a outra parte envolvida. A China pretendia recolocar Pequim na economia nacional, com a assinatura de mais de 20 acordos. Todos os planos foram adiados até a confirmação de uma nova data para a visita de Lula, segundo o colunista Jamil Chade, do UOL.

Atualmente, o Brasil é o principal fornecedor de alimentos para a China, e o país asiático é o principal destinas das exportações brasileiras.

Agora, o governo brasileiro quer que os chineses participem também da conversão de terras no país, inclusive para aumentar a produtividade e assegurar o abastecimento. 

Segundo os cálculos do Ministério da Agricultura, custará US$ 3 mil (R$ 15,7 mil) por hectare para a conclusão da conversão da pastagem para o cultivo. No Brasil, existem pelo menos 40 milhões de hectares que poderiam passar por esse processo, ou seja, o projeto exigiria um investimento de mais de US$ 100 bilhões (R$ 525 bilhões).

O que está em negociação

Uma das chaves buscadas pelo Brasil é a participação da COFCO, maior empresa de alimentos e agricultura da China. Somente em 2021, a estatal trabalhou com 130 milhões de commodities, o que siginificou uma movimentação de US$ 4 bilhões (R$ 220 bilhões). Recentemente, a empresa expandiu mundialmente, justamente na busca de garantias de abastecimento para o rápido crescimento chinês.

O projeto do governo brasileiro, agora, é de que os chineses financiem a conversão de hectares e que, ao longo dos anos, os próprios produtores façam o pagamento desses créditos em forma de soja, milho ou qualquer outro produto.

A segunda opção seria buscar a ajuda dos chineses em um financiamento direto ao BNDES. Nesse caso, o banco brasileiro facilitaria o crédito aos produtores nacionais que optarem pela mudança.

No entanto, o COFCO já teria manifestado interesse no projeto. O Brasil designou uma pessoa para iniciar as conversas com a estatal.

O governo também encomendou uma pesquisa para a Embrapa no intuito de avaliar a real dimensão das terras de pastagem desgastadas que ainda poderiam ser convertidas. Estima-se que a área pode ser duas vezes maior do que o número que se conhece hoje.

Carlos Fávaro, ministro da Agricultura, explicou que o governo brasileiro estimulará a conversão de 40 milhões de pastagens degradadas em áreas cultiváveis, o que permitiria praticamente dobrar a área destinada à produção agrícola sem desmatamento e com sustentabilidade.

Uma das mensagens foi passada em um evento realizado pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) em parceira com o Institute of Finance and Sustainability (IFS), o Climate Bonds Initiative (CBI) e o Global Environment Institute (GEI).

"Este é um programa que será incentivado pelo governo com linhas de crédito atrativas, para que o produtor, em vez de pensar em novos desmatamentos, capte recursos para converter pastagens, com uso de calcário, fertilizantes e matéria orgânica", disse o ministro.

Carlos Augustin, Assesor Especial do Ministro da Agricultura, também frisou que o financiamento a longo prazo seria de interesse dos chineses, já que contribuiria para o aumento da segurança alimentar dos país, que já soma 1,4 bilhões de pessoas.

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