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Chocante

Após 16 anos, gêmeas descobriram terem sido separadas propositalmente por motivo perturbador

O caso foi revelado por um documentário produzido pela emissora BBC

As gêmeas idênticas Kathy Seckler e Lori Pritzl foram separadas pela mesma agência de adoção - Imagem: Reprodução/BBC
As gêmeas idênticas Kathy Seckler e Lori Pritzl foram separadas pela mesma agência de adoção - Imagem: Reprodução/BBC

Mateus Omena Publicado em 18/09/2022, às 14h22


Duas gêmeas idênticas descobriram que foram separadas por uma agência de adoção em Nova York (EUA), como parte de um estudo científico que gerou muita polêmica no país.

De acordo com a emissora britânica BBC, o caso aconteceu na década de 1970. Kathy Seckler tinha 16 anos de idade quando soube que tinha umagêmea idêntica.

Em setembro de 1977, um amigo a revelou que ela se parecia com uma garota que ele conhecia, chamada Lori Pritzl, e perguntou se ela era adotada.

Kathy e Lori faziam aniversário no mesmo dia e as duas meninas tinham exatamente a mesma aparência. A primeira sabia desde pequena pela família que havia sido adotada, mas soube então que Pritzl também vinha da mesma agência de adoção.

Depois do susto da descoberta, Kathy entrou em contato com Lori para conhecê-la melhor. As duas chegaram a se encontrar numa rua e Kathy narrou o momento emocionante:

"Eu vi Lori atravessando a rua... com um grande sorriso no rosto", contou. "Depois nos abraçamos. Foi uma experiência profunda... eu me senti menos sozinha. Eu sempre me senti diferente por ser uma criança adotada... eu percebi que 'uau, tenho uma companheira ali'."

Elas passaram a conversar diariamente por telefone e descobriram muitas coisas em comum, como o gosto por cigarros e certos círculos de amizade.

As garotas moravam a cerca de 24 km de distância uma da outra e tinham amigos em comum nas duas famílias. Os pais das meninas não se conheciam até então, mas sabiam da outra gêmea havia cerca de uma década e foram instruídos a manter o segredo.

Com tantas coincidências e estranhezas a respeito de suas origens, Lori e Kathy começaram a investigar a maneira como foram adotadas e descobriram que foram usadas como elementos de um estudo controverso.

Gemeas
Kathy Seckler e sua gêmea idêntica Lori Pritzl mantêm um relacionamento afetivo desde a adolescência.     Imagem: Reprodução/BBC

O procedimento

Na década de 1960, uma agência de adoção chamada Louise Wise Services, em Nova separou deliberadamente pelo menos 10 conjuntos de bebês gêmeos ou trigêmeos, colocando-os em famílias separadas.

Lori e Kathy estão entre os seis grupos de gêmeos idênticos recém-nascidos que foram separados entre 1960 e 1969.

A instituição estava trabalhando em parceria com um grupo de psiquiatras e psicólogos para tentar descobrir “o que nos torna quem nós somos”. O objetivo era saber o quanto as identidades são definidas pela natureza e quanto pela criação.

Quando a pesquisa foi revelada, gerou-se um rebuliço no país, pois muitos gêmeos adotivos passaram a buscar respostas a respeito dos abusos que sofreram neste experimento, além dos impactos da separação de seus irmãos.

Em um documentário produzido pela BBC apresentou os relatos das irmãs Lori e Kathy, assim como de outras pessoas envolvidas no estudo.

"Na verdade, eles nos impediram de ser irmãs, que dirá gêmeas. E acho que o que eles fizeram foi simplesmente horrível", contou Kathy ao documentário. "Já foi um desafio saber que era adotada... [mas] privar-me de ter uma irmã gêmea foi simplesmente terrível."

Danos graves

Para as irmãs, ainda existem muitas dúvidas para serem respondidas, principalmente porque nenhuma pessoa que liderou o estudo foi responsabilizada.

Por outro lado, a revelação do experimento traz também um questionamento sobre os limites éticos da ciência em sua busca por conhecimento.

Kathy Seckler espera que contar a sua história torne as dolorosas reviravoltas da sua descoberta mais fáceis de suportar. Ela encara o fato de não ter tido a oportunidade de crescer ao lado de Lori, de criar afinidades e viver momentos especiais com ela.

"Eu mentia e dizia que sim, que nós usávamos roupas diferentes... eu precisava manter o legado da irmã secreta, era difícil", contou. "Estou meio que feliz, esperando que as pessoas vejam isto e tenham a história completa."

E acrescentou: "Nunca pudemos retomar o passado porque éramos gêmeas, mas não éramos irmãs. Nós não crescemos juntas e, até hoje, isso tem sido uma parte muito difícil do nosso relacionamento."

O estudo pode ter tentado descobrir como os genes e o ambiente influenciam a construção de identidades, mas acabou trazendo graves prejuízos às vidas dos gêmeos e das suas famílias. Muitos dos gêmeos adotivos que foram entrevistados pela BBC alegaram que a descoberta de seus irmãos idênticos secretos mudou as suas vidas para sempre.

Os trigêmeos envolvidos no estudo enfrentaram problemas de saúde mental por anos após saberem a verdade sobre suas origens, embora muitos deles nunca tivessem apresentado problemas psiquiátricos na adolescência. Segundo a emissora britânica, um deles cometeu suicídio. Acredita-se que sua mãe biológica tinha histórico de problemas de saúde mental.

Estima-se que outra mulher de um par de gêmeas - que foi separado, mas não estudado - também tenha tirado a própria vida. A família biológica da mulher também possuia histórico de depressão.

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