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COLUNA

Mr. Biden, derrube este muro!

Joe Biden - Imagem: Divulgação / The White House
Joe Biden - Imagem: Divulgação / The White House
Marcus Vinícius De Freitas

por Marcus Vinícius De Freitas

Publicado em 16/08/2023, às 05h07


Em 12 de junho de 1987,em Berlim Ocidental, o presidente norte-americano, Ronald Reagan, pronunciou, ao Portão de Brandenburg, o seu discurso mais famoso: “Mr. Gorbachev, tear down this wall!” (Sr. Gorbachev, derrube este muro!). Era uma convocação de Reagan a Mikhail Gorbachev, Secretário Geral do Partido Comunista da União Soviética, a abrir o Muro de Berlim, que cercava, desde 1961, a cidade de Berlim Ocidental.

As palavras de Reagan ecoam pelo tempo e deveriam ser sempre ouvidas por todos aqueles que são amantes da paz: “Acolhemos a mudança e a abertura; pois acreditamos que liberdade e segurança andam juntas, que o avanço da liberdade humana só pode fortalecer a causa da paz mundial. Há um sinal que os soviéticos podem fazer que seria inconfundível, que promoveria dramaticamente a causa da liberdade e da paz. Secretário-Geral Gorbachev, se você busca a paz, se você busca a prosperidade para a União Soviética e a Europa Oriental, se você busca a liberalização: venha até este portão! Sr. Gorbachev, abra este portão! Sr. Gorbachev, derrube este muro!”

Contrariamente a este espírito, temos observado, paulatinamente, por parte do governo norte-americano – seguido por alguns aliados – a construção de um muro contra a China. Este muro tem sido feito à base de uma política intensa de críticas constantes ao país asiático, imposição de sanções comerciais e a construção de uma barreira militar na chamada estratégia indo-pacífica. Para tanto, tem tentado arrastar consigo países numa repetição de receitas da época da guerra fria. Temos ouvido mantras como “eixo do mal”, “autoritarismo”, “ditadura sanguinária” e por aí vai. O receituário é o mesmo. E a imprensa tem assumido o papel de propagação de inverdades. É só pensar no seguinte dado: nos últimos 3 anos, quando foi que você leu alguma notícia positiva sobre a China?

As provocações são infindáveis. O arsenal impressiona. Mas, ainda assim, o efeito não tem sido aquele esperado. O Sul Global, em particular, já notou que a estratégia para criar-se o caos e depois tentar-se vender medidas para eliminá-lo não condizem com aquilo que é necessário para que esses países avancem economicamente.

Porém, em nenhuma outra situação se observa mais esse comportamento incendiário por parte dos líderes norte-americanos do que na questão de Taiwan, que constitui um assunto doméstico chinês, assim reconhecido pela comunidade internacional desde a década de 1970, conforme o reconhecimento do Princípio de Uma Só China. Por este princípio, é reconhecido que existe uma só China e Taiwan é parte inseparável dela.

No entanto, nos últimos anos, com o fito de provocar e – quem sabe – até mesmo levar a uma guerra, os norte-americanos e alguns aliados vêm-se posicionando em confronto à China nesta questão. Não poderia haver uma irresponsabilidade maior do Ocidente do que estimular uma guerra no Oriente para “garantir” hegemonia a qualquer custo, até mesmo sob uma cortina de fumaça de teorias conspiratórias e inverdades. Os chineses já afirmaram que Taiwan constitui uma linha vermelha intransponível nas relações sino-estadunidenses.

A pergunta fundamental é a seguinte: precisamos de uma nova guerra no mundo? A Guerra na Ucrânia tem tido um custo enorme por gerações. Será preciso que milhares de pessoas tenham de morrer para manter o jogo errático do poder global? Não é irresponsável, por parte da principal nação do mundo querer, sob a fumaça de um excepcionalismo auto-outorgado e triunfalista, manter-se como hegemônica a qualquer custo? 

A participação do vice-líder de Taiwan, Lai Ching-te, na posse do novo presidente do Paraguai – um dos 13 países que reconhecem Taiwan como independente – com passagem em Nova Iorque e São Francisco – constitui uma nova provocação, uma vez que fortalece a agenda separatista de Taiwan e constitui uma interferência direta na política doméstica chinesa.  Para piorar o quadro, Lai viaja aos Estados Unidos como candidato presidencial com a mensagem de que pretende assumir um papel mais relevante internacionalmente. O resultado é que tais provocações levam a uma tensão crescente que, de fato, não é benéfica ao mundo.

Por várias vezes, o mundo esteve próximo ao inverno nuclear. Felizmente, as forças políticas souberam frear o processo para impedir que o pior acontecesse. Na Guerra da Ucrânia, a grande contenção nuclear tem vindo da China quanto à Rússia. Beijing já deixou claro a Moscou que qualquer solidariedade expressa seria perdida se houvesse o uso de armas nucleares.

Ainda assim, um muro contra a China vem sendo edificado há alguns anos pelo establishment político ocidental, o que não é saudável para o mundo. Este muro, ainda em construção, já precisa ser derrubado para alcançarmos uma verdadeira e melhor cooperação global. As medidas de  Joe Biden, desde o início de seu mandato presidencial, seguem no processo acrescentando tijolos para isolar a China do mundo. Cada medida visa conter a China. Essa instabilidade não é boa para o mundo.

Enquanto há tempo, se quiser a paz, “Mr. Biden, derrube este muro!”

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