por Kleber Carrilho
Publicado em 29/10/2022, às 15h08
Pela primeira vez na minha vida, não vou votar. Desde 1994, quando tinha 16 anos, fui a todas as eleições na Escola Municipal Olival Costa, no Jardim Sapopemba, na Zona Leste de São Paulo, onde estudei na infância e sempre revejo amigos de longa data. E minha mãe sempre vai comigo. Antes, também ia a Dona Maria, uma vizinha que morreu. Depois, passaram a votar na mesma escola o meu filho, a minha irmã e o meu cunhado. No primeiro turno, foi essa turma que esteve comigo por lá.
Agora, estou fora do Brasil, acompanhando de longe, com uma ansiedade que talvez seja ainda maior do que se estivesse por perto. Por causa dessa ansiedade, pensei em fugir do assunto hoje, de usar este espaço para outra coisa, sem citar as eleições. Mas não tinha como fazer isso. Afinal, nos últimos anos, aqui e outros cantos, a contenda política foi meu assunto principal. Li pesquisas, previ cenários, até torci para que algumas coisas acontecessem. Agora, resta o momento de ver o resultado de tudo isso.
E também não daria para fugir do tema eleitoral em uma semana como esta, que começou com os tiros e bombas de Roberto Jefferson, passou por fakenews e ameaças de todos os lados, pelo aniversário populista e messiânico de Lula e por um debate em que um dos candidatos a governador assumiu que concorda com a destruição de provas sobre um homicídio.
Foi uma semana também que nos fez pensar nas voltas que a política dá. Se alguém foi a uma viagem interplanetária e ficou os últimos anos longe da Terra, talvez não tenha conseguido entender o que está acontecendo. Afinal, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em vídeo para as redes sociais, não disse que Lula é um bom candidato. Não! Ele disse com todas as letras: “vote treze!”. Realmente, seria algo inimaginável há pouquíssimo tempo. Fez-me até lembrar a personagem da professora que não é informada da queda do regime comunista da Alemanha Oriental, no fantástico filme Adeus, Lênin!
E teve mais: o presidente Jair Bolsonaro, sentindo que talvez não tenha a resposta que espera das urnas, deu mostras que vai apostar em uma prorrogação que nem está prevista nos regulamentos do campeonato. Porque, com certeza, ninguém deve ter deixado claro para ele que uma derrota seria possível. E esse é um problema de quem está no poder e se cerca daqueles que concordam sempre.
Mas, talvez, seja momento de respirar fundo e entender que a História continua. E que este é só mais um momento importante. Houve já muitos, haverá mais outros e a única coisa que a gente não pode fazer é permitir que a nossa democracia, com todos os seus problemas, deixe de existir.
Não vamos mudar completamente o país, que sempre foi e deverá sempre ser um caldeirão de diversidade e também de contradições. Porque, se a gente achar que o ideal é ter pensamento único, aí não conseguiremos chegar a lugar nenhum. Por isso, eu quero que, a partir do dia 31, continuemos a construir um país em que seja possível fazer política com crítica, sem medo e com mais estabilidade nas instituições.
Então, amanhã, ao votar, pense em que país você quer. O que valoriza a democracia? Ou o que acha que é melhor ter uma única forma de pensar?
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