Fernanda Trigueiro Publicado em 04/11/2022, às 09h18
Esses últimos textos me fizeram ter a certeza de um fato. Como é difícil falar de sentimentos. Psicólogos, especialistas e coachs devem saber disso melhor que eu. Sou repórter e escrever faz parte da minha rotina. Todo dia tem uma matéria. Cada dia, um assunto diferente. Inspirada ou não, a coisa tem que sair.
Mas fazer uma reportagem, eu diria ser mais "fácil". É mais preto no branco. São situações reais e contra fatos não há argumentos. Já a emoção... este assunto é bem mais profundo. Faz parte de nós, só que com o tempo vamos aprendendo a esconder o que sentimos. Medode parecermos fracos, de sermos julgados... seja lá o que for, nos tornamos seres sentimentais que pensam.
O neurologista António Damásio de forma objetiva e brilhante explicou bem o que tento dizer: "Não somos máquinas de pensar, somos máquinas de sentir que pensam". O médico português estuda o cérebro e as emoções humanas e entre suas tantas conclusões, confirmou que por mais racionais que possamos ser, muitas das nossas decisões são baseadas na emoção.
Ai volto ao inicio do texto. Não há problema em falar sobre algo concreto. Mas ao falar de sentimentos, nos faltam palavras. Às vezes é difícil reconhecer e dar nome ao que sentimos. Quando criança lembro da minha mãe, que sempre me estimulava a falar sobre o que eu sentia. E se por acaso eu não soubesse direito explicar ou tivesse com vergonha, ela sugeria que eu fizesse uma carta. Às vezes funcionava. Talvez tenha começado daí o meu amor por tentar transformar a vida em palavras.
Mas confesso que ainda tem horas que travo. É como escrever pra alguém querido. Tem dia que só saem frases rasas como: "o aniversário é seu, mas quem ganha presente sou eu", "te amo tanto que nem sei" e "você é especial. Quem nunca se viu sem criatividade e caiu no senso comum?
Para ficar ainda pior é só tentar traduzir a dor. As palavras se embaralham. Como é complicado se reconhecer e passar para o papel o que aperta no peito. Dar voz aos nossos sentimentos é um ato de coragem. E procurar palavras pra traduzir o que habita em nós, nos fortalece.
Escrever é um exercíciode autoconhecimento. Então, escreva. Escreva cartas, bilhetes, mensagens, e-mails, legendas de fotos e recados. Escreva para o outro e para você também. O importante é não perder a oportunidade de se expressar. Palavras aliviam e podem até nos ajudar a organizar o que parece estar tão bagunçado ai dentro. Pode não sair um belo verso, mas te garanto que se ler faz sempre bem!
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