A filha da mãe

Qual a maior recordação que você tem da sua mãe? Esteja ela aqui ou não. Lembre, reviva, busque na memória e no coração. Tenho certeza que estas lembranças ainda estão vivas ai dentro. Naquela sensação boa que dava ao ver a mamãe na porta da escolinha te esperando. Em um brinquedo da infância ainda guardado no armário ou na boneca que você colocava no colo e balançava exatamente como um dia ela fez com você. Talvez um aroma? O cheiro de bolo assando ou de calda de chocolate no fogo.... Cheirinhos que se espelhavam pelo ar e por toda a casa.

Mais crescidinhas, meninas recordam das mães acertando a barra do vestido para aquela grande festa. Arrumando o penteado do cabelo para uma apresentação. Passeando no shoppingatrás daquela roupa tão desejada. Trocando intimidades e descobertas. Ao sangrar pela primeira vez, é a mãe quem ela confia. E qual mulher não se orgulhou da filha virar "mocinha"? Enquanto a menina ainda está confusa com o as mudanças do corpo, a mãe tem vontade de contar (quando não contava) pra todos o que tinha acontecido...

E assim agora mais semelhantes e próximas, elas também passam a dividir confissões. Noites em claro conversando e divagando sobre a vida e suas reviravoltas. Ser filha e ter uma mãe ao lado é uma delícia. Uma mistura de sentimentos. A melhor amiga, a confidente, aquela que dá bronca, briga de vez em quando e ao mesmo tempo a que mais acolhe e protege.

Segredos. Qual mamãe, na defesa da filha, nunca escondeu do marido ou do pai dela alguma coisa? Pode até já ter inventado alguma situação pra acobertá-la? As duas dividem as alegrias do primeiro amor e também a frustração de um pé na bunda. Quando a filha cai, quando algo dói, ela só quer o colo da mãe. Seja dor física ou emocional, a mãe tem o melhor remédio. E ali, juntas, a mãe se vê na filha, afinal ela também um dia foi menina. Já passou pelas mesmas coisas e tem a certeza de que tudo vai passar... e passa mesmo!

Quando eu me decepcionava, sabia que aquele aperto no peito só ia aliviar com a minha mãe ao meu lado. Tinha certeza que se lágrimas escorressem, ela estaria ali para enxugá-las. Nunca me senti julgada. Minha mãe me criou para o mundo, me deu autonomia para crescer e fazer o que eu achava que era certo. Errei muitas vezes... talvez ela já presumia, mas minha mãe sempre soube que uma hora não poderia mais tomar decisões por mim. Me guiou, me orientou e me deixou viver e experienciar o que eu tinha vontade. Ela confiavaem mim, porque no fundo confiava nos ensinamentos que me transmitiu.

No maternar, não existe certo ou errado. Mas uma coisa é unânime, a boa mãe cria a filha pro mundo. Por mais difícil que isso seja e por mais protetora que ela queira ser, o verdadeiro sentimento está em dar oportunidade para a menina se tornar mulher. Estimular a coragem, a força feminina e provar que juntas serão mais fortes. A filha e a mãe. A mãe e a filha. O futuroe o passado. O ontem, o hoje e o sempre.