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No mês das mulheres algumas reflexões sobre “machismo feminino”

No mês das mulheres algumas reflexões sobre “machismo feminino” - Imagem: Reprodução | Freepik
No mês das mulheres algumas reflexões sobre “machismo feminino” - Imagem: Reprodução | Freepik
Fabiana Sarmento de Sena Angerami

por Fabiana Sarmento de Sena Angerami

Publicado em 27/03/2024, às 08h30


A trajetória das mulheres no Brasil e no mundo é marcada por discriminações, desigualdades e violências.

Desde há muito a  luta feminina por  respeito e igualdade vem  tentando romper os grilhões impostos por padrões culturais convenientemente estabelecidos e pela prevalência da força física.

Tendo por referência a greve das operárias russas que no ano de 1917 clamavam dentre outras pelo fim da 1° Guerra Mundial,  a ONU, em 1975,  declarou oficialmente o dia 08 de março como o "Dia Mundial da Mulher".

A partir de então o dia 08 assim como todo o mês de março, agora reputado mês das mulheres, vem sendo ladeado de homenagens de todas as ordens, inflamados discursos, campanhas de conscientização acerca de direitos, distribuição  de flores e inúmeras promoções, grande parte de cunho meramente comercial,  que não raro divagam acerca de um pseudo  protagonismo feminino.

No Brasil, conforme o Censo de 2022, há seis milhões de mulheres a mais do que homens. Entretanto, embora as mulheres sejam maioria,  ainda têm representatividade incipiente na política e em cargos de comando, seja na iniciativa pública ou privada,  em regra recebem remuneração inferior aos homens e, frequentemente,  independente de raça ou classe social,  são submetidas as mais variadas formas de violência.

No quesito violência, pesquisa realizada pelo Instituto DataSenado no ano de 2023 revelou que cerca de 30% das mulheres brasileiras já sofreram algum tipo de violência doméstica ou familiar praticada por homem.

Esses dados revelam que a luta por igualdade de gênero e institucional tende a enfrentar batalhas ainda mais cruentas, posto  não ser invulgar que o nascedouro da subjugação feminina seja o próprio ceio familiar.

Neste contexto, verifica-se que legislações afirmativas e discursos verborrágicos não têm tido o condão de alcançar a tão festejada igualdade entre homens e mulheres.

Esses dados, aliados aos festejos do mês de março,  fazem eclodir a seguinte questão: "Se as mulheres são maioria, por que não são do mesmo modo  representadas?"

Será que centenas de anos de subjugação fizeram com que as mulheres carregassem em seu (sub)consciente um machismo estrutural?

Um machismo oculto que faça com que mulheres não votem em mulheres, seja na política, no condomínio ou no Big Brother. Um machismo tão arraigado que faça com que mães obriguem suas filhas a fazerem trabalhos domésticos enquanto os filhos são poupados de tal mister. Um machismo tão convenientemente construído que faz com mulheres tentem justificar violências sexuais com base nas roupas ou maquiagens usadas por outras mulheres. Um machismo corporativo que faz com que mulheres encarem como normal dupla jornada de trabalho enquanto seus companheiros se regozijam em frente a TV. Um machismo tão diabolicamente edificado ao longo de centenas de anos que faz com que as próprias mulheres duvidem de seus talentos e se enxerguem como rivais.

Que as águas de março façam com que as mulheres percebam que mais do que promessas de campanha e mimos inúteis  precisam mesmo é de união.

Que águas que fecham o verão levem  o machismo secular impingido nas entranhas femininas, de modo que as mulheres consigam entrever que juntas serão capazes de,  por meio da educação e do exemplo, no próprio ceio familiar, dissipar das gerações vindouras quaisquer resquícios de dominação e sujeição, e, assim, fazer erigir  a consciência de uma verdadeira equidade. 

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