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E a Copa do Mundo?

Futebol pode ser uma paixão, mas ser humanista é obrigação

Não pode ser mais aceitável, que a Fifa escolha seus destinos sem levar em conta a necessidade das nações sediantes de adequar suas regras aos padrões internacionais de defesa dos direitos humanos - Imagem: reprodução Instagram @fifaworldcup
Não pode ser mais aceitável, que a Fifa escolha seus destinos sem levar em conta a necessidade das nações sediantes de adequar suas regras aos padrões internacionais de defesa dos direitos humanos - Imagem: reprodução Instagram @fifaworldcup

Rodrigo Sayeg Publicado em 22/11/2022, às 11h04


Começou essa semana a Copa do Mundo! O Evento esportivo mais aguardado deste ano teve seu pontapé inicial no domingo em um jogo entre Qatar e Equador.

Estamos diante de uma série de partidas que a população do mundo irá, por algumas semanas, coletivamente tentar esquecer dos problemas e mazelas do mundo.

Especialmente aqui no Brasil, após o resultado de nossas eleições presidenciais que evidenciaram uma polarização extrema de nossa nação, vislumbra-se que tudo foi esquecido. Conforme se vê na pesquisa realizada pelo IPEC, a ampla maioria dos brasileiros, 69%, tem muita ou alguma animação para o torneio, sendo que metade dos brasileiros acham que a seleção tem muitas chances de ganhar.

Os jovens brasileiros, de 16 a 24 anos, são os maiores entusiastas: 44% deles se dizem muito animados, sendo que somente um quarto da população (25%), no entanto, se diz estar desanimado com a Copa do Qatar.

Durante o período eleitoral, as camisas da seleção brasileira foram para o meio da disputa eleitoral e mesmo assim, a população não deu sinais de polarização quando o assunto é a Copa do Qatar.

Dentre os entusiastas encontra-se o autor desta coluna, que está torcendo para o Brasil conquistar o Hexa, especialmente diante de todos os momentos difíceis que a nossa nação passou.

Ocorre que, infelizmente, é o caso de se enfrentar os problemas vivenciados por nosso anfitrião, o Qatar.

Estes problemas graves incluem violações de direitos humanos das mais variadas espécies, as quais não podem ser ignoradas.

Cita-se aqui o exemplo da dona dos direitos de transmissão da Copa do Mundo na Inglaterra, a BBC, que optou por não exibir a festiva cerimônia de abertura no Qatar. No lugar, exibiu uma reportagem sobre os problemas do país em matéria de direitos humanos e lembrou todos os questionamentos que envolveram a escolha da sede pela Fifa. Por outro lado, a Globo ficou silente e evitou abordar esse assunto.

Cita-se aqui o ex-jogador e comentarista Gary Lineker foi logo lembrando os problemas que envolvem o Qatar. "É a Copa do Mundo mais polêmica da história recente e nem uma bola foi chutada”. E de fato, desde as denúncias de corrupção no processo de licitação; ao tratamento dado aos trabalhadores migrantes que construíram os estádios onde muitos perderam a vida; ao fato que a homossexualidade é ilegal e os direitos das mulheres também estão no centro das atenções, a escolha do Qatar foi extremamente polêmica.

E o problema disso? Como todos os nossos problemas deste ano, infelizmente corre-se o risco destas polêmicas virarem apenas um rodapé na história do futebol.

Eu sei caro leitor, é desconfortável enfrentarmos mais uma nova polêmica ao invés de aproveitarmos o espetáculo que está por vir e acompanhar nossa nação na torcida. Mas infelizmente, várias pessoas estão passando por um sofrimento, no qual após a perda dos olhares do mundo, ficará esquecido e isso significaria deixar milhões para trás.

Desta forma, não pode ser mais aceitável, que a Fifa escolha seus destinos sem levar em conta a necessidade das nações sediantes de adequar suas regras aos padrões internacionais de defesa dos direitos humanos.

Futebol pode ser uma paixão, mas ser humanista é obrigação.

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