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O que podemos aprender com os Mexicanos?

O que podemos aprender com os Mexicanos? - Imagem: Reprodução / Rafael Stedile / @rafasted
O que podemos aprender com os Mexicanos? - Imagem: Reprodução / Rafael Stedile / @rafasted
Pablo Nobel

por Pablo Nobel

Publicado em 25/05/2024, às 05h23


O México e o Brasil compartilham grandes semelhanças políticas. Ambos os países são federações, possuem números semelhantes de parlamentares nos Congressos Nacionais, e juntos, compõem as 2 maiores democracias da América Latina. Em 2024, cerca de 100 milhões de pessoas estarão aptas a votar no México, frente a 150 milhões de eleitores brasileiros.

Diante de todas essas semelhanças, o México possui um aspecto no qual o Brasil ainda precisa aprender em termos de melhoria democrática: a questão da representatividade feminina. Por aqui, tivemos uma Presidente mulher antes mesmo do México, porém, o nosso vizinho está anos luz a nossa frente nesta pauta. Por lá, mais de 50% da composição no Parlamento nacional mexicano é feminina e ambas as suas casas legislativas possuem presidentes mulheres. A Suprema corte é presidida por uma mulher, e, a próxima presidente do país será uma mulher, afinal, as duas principais candidatas são, mulheres.

O grande triunfo na participação feminina da política mexicana, que até meio século atrás proibia as mulheres de votarem, foram as leis de ações afirmativas. Em 1996, foi imposto uma participação mínima feminina no Congresso de 30%, em 2014, essa porcentagem subiu para 50%. Esta iniciativa gerou um efeito dominó em todas as demais esferas de representatividades políticas do país.

Incentivos como esse ainda não possuem um apoio majoritário em demais países da América Latina, e são alvos de um debate polarizado. Porém, é inegável afirmar que com mais representação feminina na política, se abre espaço para que mulheres capacitadas consigam atingir objetivos altos, como é o caso de ambas as candidatas à presidência em 2024. Tanto a favorita, Claudia Sheinbaum, quanto a segunda colocada, Xóchitl Gálvez, possuem trajetórias profissionais admiráveis.

Sheinbaum, que ao que tudo indica, será a primeira presidente mulher do México, já havia atingido marca semelhante ao ser eleita a primeira Chefe de Governo da Cidade do México. A candidata foi escolhida pelo atual Presidente Andrés Manuel López Obrador (AMLO), e por seu partido de centro-esquerda, o Morena. Importante destacar que o Morena é o partido que mais possui governantes mulheres. Além da sua trajetória política, Sheinbaum, possui doutorado em engenharia e fez parte do time que ganhou o Nobel da Paz em 2007.

AMLO, padrinho político de Sheinbaum, é o Presidente mais popular da história do México, termina seu mandato com 70% de aprovação, e se consagrou como o primeiro Presidente de esquerda do país. AMLO teve desencontros com pautas feministas e LGBTQI+, porém, foi impecável ao atingir o marco do primeiro gabinete presidencial paritário, entregando pastas de primeiro escalão para mulheres. Pesquisas antecipam que o efeito AMLO fará com que Sheinbaum tenha recordes numéricos eleitorais.

O México segue a tendência de algumas outras democracias latino-americanas que recentemente preferiram lideranças mais de centro-esquerda, como o Brasil e a Colômbia, porém, chama a atenção que neste país, a polarização parece não ser o centro condutor do debate político. Ao que tudo indica, se eleita, Sheinbaum tentará um mandato conciliador, e terá um desafio pela frente de construir sua própria identidade política para suprir o vácuo que a saída de AMLO deixará.

De suas administrações anteriores, podemos afirmar que a candidata dará uma atenção especial ao meio ambiente, à educação e às questões sociais. Em síntese, a trajetória da Sheinbaum nos traz uma ideia de quem é a mulher que pode assumir a maior responsabilidade política do país que está muito à frente dos seus vizinhos em termos de representatividade feminina. Que venham muitas mais.

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