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Demanda inesperada: concessionárias enfrentam escassez de veículos após vendas com desconto

Lojas recebem até o triplo dos clientes de dias anteriores à medida; incentivo de R$ 500 milhões não vai durar os 4 meses previstos

Demanda inesperada: concessionárias enfrentam escassez de veículos após vendas com desconto - Imagem: Reprodução | UOL
Demanda inesperada: concessionárias enfrentam escassez de veículos após vendas com desconto - Imagem: Reprodução | UOL

Marina Roveda Publicado em 13/06/2023, às 08h48


Um fim de semana com feriado prolongado normalmente não é visto como uma boa oportunidade de vendas, especialmente no setor automotivo, que vem enfrentando uma sequência de quedas no desempenho. No entanto, contrariando experiências anteriores, as concessionárias de veículos registraram um aumento nas vendas, com algumas dobrando o número de vendas realizadas em apenas dois dias, em comparação com o volume habitual.

"Desde o anúncio do pacote do governo e o início dos descontos, o incremento nas vendas foi surpreendente. O destaque foi o fim de semana, que teria um movimento fraco por ser um feriado prolongado, mas as vendas foram 60% maiores do que em um fim de semana normal", relata Marcos Leite, diretor de vendas da rede de concessionárias Amazon Fuji, da Volkswagen, que possui cinco lojas na cidade de São Paulo.

No mês passado, o setor automotivo registrou o pior desempenho em maio desde 2016, com a venda de 166.361 carros novos, conforme divulgado pela Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores). Isso representa uma queda de 5% em relação ao mesmo mês do ano anterior.

A melhoria desse cenário se deve ao "mecanismo de desconto patrocinado na aquisição de veículos sustentáveis", uma medida do governo federal que entrou em vigor na terça-feira (6), com a publicação da Medida Provisória nº 1.175 no Diário Oficial da União. Essa medida estabelece reduções de R$ 2.000 a R$ 8.000 nos preços de tabela dos veículos zero-quilômetro que custam menos de R$ 120 mil. Esses descontos serão aplicados até o limite de R$ 500 milhões, que serão repassados às montadoras.

Segundo Marcos Leite, até o momento, o programa está cumprindo seu objetivo. "Muitas pessoas acreditavam que não seria alcançado [o objetivo]. A medida trouxe de volta o público que não estava comprando carros e, além disso, atraiu também os compradores de veículos acima de R$ 120 mil, que estão fora do pacote de descontos. Ela correspondeu bem ao que o governo pretendia. Os carros que mais saíram foram Polo, Gol e T-Cross, do estoque 2022-2023", avalia.

Corrida às concessionárias

Fábio Varela, gerente-geral de veículos novos das quatro unidades da Renault R-Point na capital, afirma que o movimento e as vendas praticamente triplicaram. "Normalmente são vendidos de oito a dez carros em uma semana. Nesta semana, apenas de quinta a sábado, com o alto volume de clientes, foram 44 automóveis comercializados", revela.

A Renault, juntamente com a Fiat (com o Mobi), é a marca que possui o carro mais barato do mercado, o Kwid Zen, que, com o desconto, é vendido por R$ 58.990. Talvez por esse motivo, o público que visitou essas lojas nos últimos dias, com idade entre 28 e 42 anos, foi um pouco diferente da clientela habitual, que se concentra na faixa etária de 35 a 50 anos, como relata o gerente.

Para Varela, a corrida dos consumidores às concessionárias durante o primeiro fim de semana do programa de descontos pode ser explicada pela limitação dos recursos do programa. "Os clientes sabem que esse dinheiro deve acabar logo. A indústria calcula que será suficiente para subsidiar 62 mil carros, o que não dá para quatro meses. Além disso, pode haver falta de estoque de veículos, já que as montadoras ainda enfrentam a crise de componentes, que começou na pandemia."

A "urgência" de aproveitar os descontos é uma observação feita por todos os gestores de concessionárias entrevistados. Eles compartilham a opinião de que os recursos de R$ 500 milhões destinados pelo governo ao pacote de descontos para carros não devem durar um mês.

Ney Faustini, diretor da concessionária Chevrolet Absoluta, afirma que os clientes têm a percepção do prazo curto. "O movimento foi muito intenso, teve gente que passou pelas lojas apenas para conferir se os descontos eram reais e, embora ainda não tenham fechado o negócio, já estão voltando nesta semana para comprar. Hoje, segunda-feira (antes das 17h), já realizamos cinco vendas. Na sexta-feira e no sábado, vendemos mais do que o dobro de um dia normal", comemora.

A concessionária Hyundai Grand Brasil registrou um crescimento de 40% nas vendas durante o fim de semana, de acordo com o gerente Jonas Lopes. "Esperávamos um pouco mais, mas a alta taxa de juros e a restrição no crédito pesam muito na decisão dos clientes, e é por isso que estamos perdendo muitas vendas", diz.

Ele afirma que não haverá falta de carros da marca, que está incluída em todo o programa com a linha completa do HB20 e HB20S. Além dos descontos do governo, a montadora e a concessionária oferecem bônus extras aos clientes. "Esses R$ 500 milhões de incentivo não vão durar 30 dias", projeta.

Uma diferença observada por ele nos últimos dias foi o aumento do número de casais, na faixa etária de 30 a 40 anos, visitando as concessionárias.

Essa corrida às concessionárias impulsionada pelos descontos é um sinal positivo para o setor automotivo, que busca se recuperar das dificuldades enfrentadas nos últimos meses. O programa de descontos trouxe fôlego para as vendas e estimulou a procura por carros zero-quilômetro. No entanto, a limitação dos recursos e a possibilidade de falta de estoque são desafios que precisam ser enfrentados tanto pelos consumidores quanto pelas montadoras.

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