Diário de São Paulo
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Você a.C e Você d.C

Por Fernanda Trigueiro*

Fernanda Trigueiro
Fernanda Trigueiro

Redação Publicado em 12/11/2021, às 00h00 - Atualizado às 08h40


Por Fernanda Trigueiro*

Você a.C e Você d.C

Você deve ter percebido como o trânsito está cada dia pior na capital. Os bares e restaurantes ficando cheios novamente. Festas e shows sendo anunciados. No aeroporto, passageiros para todos os lados, embarcando e desembarcando na cidade que não dormia. E agora São Paulo parece mesmo estar acordando do pesadelo chamado “pandemia”.

Essa semana, o estado pela primeira vez ficou um dia sem registros de mortes. No pior momento da “Era Covid”, em abril, a média chegou a 890 óbitos por dia. Sim! Há motivos para comemorar desde que os cuidados ainda sejam tomados. São Paulo é o estado com maior porcentagem da população imunizada, fato que trouxe os resultados positivos. Junto com a vacina contra a covid-19, a população parece ter recebido também uma injeção de ânimo.

E a humanidade novamente foi dividida em duas. Nada relacionado ao Antigo e Novo Testamento. Hoje, temos a.C  para “antes do Coronavírus” e d.C para “depois do Coronavírus”. Quantas mudanças. Um ano e meio depois, somos uma sociedade diferente. Uma outra sociedade. A caminhada foi mais longa do que imaginávamos, e há sinais de que tudo está voltando ao “normal”. Mas e você como se sente? Está tudo “normal” mesmo por aí?

Aquele mundo corrido e cheio de horários a cumprir em que estávamos acostumados, de repente acabou. O barulho foi tomado pelo silêncio. A cidade grande se limitou a sua casa.  A multidão ao redor que você encontrava todos os dias se tornou apenas a família e poucos amigos. O abraço e o beijo viraram versão on-line. As relações pessoais cada vez mais distantes. Era o tal do “novo normal”.

E você que vivia naquela inércia louca não teve outro jeito. O tempo que te faltava, sobrou. E aquilo que você tanto fugia, parece que veio à tona. A pandemia trouxe ao ser humano a chance de se ouvir, de se olhar, se perceber e se sentir. Quem não podia parar ou melhor quem não queria parar foi obrigado. Medos e angústias que estavam quietos e escondidos, em meio ao seu “novo mundo” se afloraram. O que não fazia sentido, parece que ficou insuportável.  Percebemos que não tínhamos mais tempo para o amanhã. Não sabíamos o que seria de nós e se teria um dia seguinte.

Quanta gente na pandemia não deu um chacoalhão na vida? Talvez, você seja uma dessas pessoas que largou o emprego, mudou de cidade, se distanciou de gente, encontrou um novo hobby… fez o que podia e o que não podia para se achar. Hoje parece outra pessoa. Seu novo normal, com certeza, é novo. Porque você realmente não é o mesmo e nunca mais será.

Você pode ter perdido pessoas queridas, ficado desempregado, ter sentido medo da morte. Precisou ressignificar a vida, seus valores e as pessoas a sua volta. A dor transforma. É transforma-dor. E não teve um único ser humano nesta pandemia que não sofreu. Aqui, não quero menosprezar nada e nem ninguém. Independentemente da dor. Foi a sua dor e dor não se compara. Não faça isso com você e com os outros. O momento foi difícil é de readaptação. Não queira ser aquele fulano/a a.C. Seja você em sua nova versão. Se cuide, se respeite, mantenha os cuidados e sorria mesmo que ainda estejamos de máscara. Esperamos que o pior já tenha passado!

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*Fernanda Trigueiro é uma jornalista apaixonada por pessoas e suas histórias.
Repórter de TV por opção, mas uma escritora por vocação. Vê a notícia além da manchete e dos números.
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