Diário de São Paulo
Siga-nos

Roberto Carlos se irrita com fã e roda a baiana

Roberto Carlos se irrita em show - Imagem: Reprodução | Instagram
Roberto Carlos se irrita em show - Imagem: Reprodução | Instagram

Reinaldo Polito Publicado em 17/07/2022, às 08h41


Vou cavalgar por toda a noite
Por uma estrada colorida
Usar meus beijos como açoite
E a minha mão mais atrevida...

No último dia 14, quarta-feira, o país presenciou um fato inusitado. Roberto Carlos, que sempre esteve sereno e contido em seus shows, perdeu as estribeiras em uma apresentação que fazia no Rio de Janeiro, e mandou um fã calar a boca.
Acrescentou uma música ao repertório
O Rei cantava a música “Cavalgada”, uma canção suave, envolvente, das que mais tocam a emoção das pessoas. Foi acrescentada ao repertório antes de “Como é grande o meu amor por você”. Percebendo que os fãs haviam se equivocado, imaginando que se tratava da última música, quando se aproximam do palco para receber as rosas que ele distribui, Roberto disse: “Já que vocês vieram antes da hora, façam silêncio”.
Alguns não atenderam o seu pedido e continuaram falando bem alto. Em determinado momento, como não conseguia se concentrar, afastou o microfone e, bastante irritado, mandou o fã, que tinha voz mais estridente, calar a boca. Viralizou!
A notícia correu depressa
As imagens gravadas pelos celulares se espalharam rapidamente, como se fossem um rastilho de pólvora. Imediatamente teve início um debate para saber se o cantor havia ou não agido corretamente. As opiniões se dividiram. Uns elogiaram e outros criticaram.
Quem se apresenta em público sabe como é duro aguentar um ouvinte que se comporta de maneira inadequada, importunando o cantor ou o orador. Eu mesmo já fui vítima dessa turma. Os meus amigos palestrantes também reclamam dessas situações. Dizem que são os “loucos de palestras”. Aqueles que vão para o evento com a intenção de aparecer mais que o orador.
O maior orador que conheci
No prefácio que fez para o meu livro “Como falar corretamente e sem inibições”, Blota Júnior, o maior orador que conheci, disse:
“Ali está a plateia, ou fria, ou indiferente, ou inamistosa, ou expectante, ou fanatizada, ou enlouquecida. A partir do instante em que o orador desfecha a palavra inicial, não mais se pertence ou se protege. Cabe-lhe enfrentar a incontrolável maré e vencê-la. Por sua voz, e apenas pelo que fala, ou domina ou se perde. Ou convence ou se frustra. Pela simples força de sua expressão, terá de conquistar uma vontade esquiva e dispersa”.
É um desafio. Diante de ouvintes inconvenientes, faço de tudo para manter a calma e o equilíbrio. De maneira geral, a própria plateia cuida do intruso. Ao perceber que a pessoa está exagerando em suas manifestações, fazem: “psiu, psiu, hei, vamos ouvir”. Funciona. Muitos daqueles que agem assim, até nem têm consciência de que estão sendo inadequados. E chegam a pedir desculpas.
Gente saliente
Outros não. Querem continuar aparecendo. Nesses casos, interrompo o que estou dizendo, fico em silêncio, procuro tomar um pouco de água, ou mexer nas anotações. E só volto a falar quando o ouvinte se cala. Sem brigar, sem criticar, sem mostrar irritabilidade. Embora, por dentro, esteja pegando fogo.
Há, porém, situações incontornáveis. Lembro-me de uma das mais graves que tive de enfrentar. Eu falava para um grupo de livreiros, mais ou menos umas 700 pessoas. Naquela época, para explicar a importância da emoção, analisava os debates da campanha presidencial entre Collor e Lula. De repente, um ouvinte começou a me agredir, dizendo que não admitia que eu mencionasse o nome do Collor. Estava tão enfurecido que tiveram de retirá-lo da sala.
O erro foi meu
Depois entendi. Ele havia vendido uma casa para comprar outra. Enquanto o recurso estava na conta, Collor sequestrou o dinheiro dos brasileiros. Esse ouvinte havia ficado sem a casa e sem o dinheiro. Por isso, espumava de raiva. O erro foi meu. Diante de situações que mexam muito com a emoção das pessoas, o ideal é deixar o assunto de quarentena até que a poeira baixe.
No caso de Roberto Carlos, o mais adequado talvez fosse parar de cantar e deixar a música por conta do público. Agora, é fácil falar aqui de longe, sem viver a raiva do momento. Como ele sempre manteve comportamento amistoso e respeitoso com o público ao longo dessas décadas todas, tem muito crédito. Os fãs continuarão aplaudindo. E, provavelmente, nenhum engraçadinho vai mais se meter à besta quando ele estiver cantando. Siga pelo Instagram @polito pelo facebook.com/reinaldopolito, pergunte no [email protected].

Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão Corporativa e Gestão de Comunicação e Marketing na ECA-USP. Escreveu 34 livros com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países.

Compartilhe  

últimas notícias