Por Rodrigo Constantino
Redação Publicado em 17/12/2021, às 00h00 - Atualizado às 08h45
Por Rodrigo Constantino
Para muita gente, já ficou claro nessa pandemia que tantas medidas autoritárias e incoerentes não visam a controlar o vírus chinês, mas sim o cidadão. Governantes que são vistos aglomerando sem máscara e que permitem transportes públicos lotados resolvem que é preciso apresentar um passaporte vacinal no salão de beleza, no restaurante, no shopping center. Não é pela vida, mas pelo controle.
Tiranos não se tornam tiranos apenas por suas vontades; eles precisam da passividade de seus súditos. Sem o comportamento bovino diante das autoridades, que agem seja em nome de Deus ou da “ciência”, os projetos totalitários teriam bem menos chance de sucesso. Hoje a maior ameaça às liberdades vem de um sistema “progressista”, que explora o medo para avançar com seus tentáculos sobre cada detalhe de nossas vidas. E muitos consentem!
Fazem, na verdade, pior: colaboram com esses líderes autoritários, denunciando quem ousa questionar suas medidas drásticas e ineficazes. O sujeito que se diz pronto para tomar quantas doses de vacina o “especialista” mandar, sem qualquer receio ou dúvida, e ainda chama quem desconfia de tudo isso de “negacionista”, será sempre um soldado pronto para servir à tirania, denunciando o vizinho “dissidente”, o “contrarrevolucionário” e “traidor” que coloca a “saúde coletiva” em perigo.
Uma boa forma de avaliar quem detém de fato o poder é verificar quem pode ou não ser alvo de chacota. O humor sempre foi um tanto iconoclasta, desafiando tabus, ousando mexer com as vacas sagradas, chacoalhando as estruturas mais anacrônicas da sociedade e expondo a hipocrisia daqueles no controle. A transgressão desafia o establishment, em suma. E quem não pode ser alvo de sátiras ácidas atualmente? Os movimentos de “minorias”, os “tecnocratas da ciência”, e os ministros supremos no caso brasileiro, claro.
A contracultura dos anos 60 venceu, chegou ao poder, e se espalhou pela mídia, academia e estado. No comando da cultura e do governo, envelheceu e precisa calar seus adversários, que apontam suas contradições, retiram o manto do altruísmo que mascara sua pura ambição pelo poder. Eles não podem permitir isso, sob o risco de ver esse poder esvanecer. É preciso dobrar a aposta. É necessário explorar crises globais, reais ou imaginárias, para expandir a esfera de controle.
Historicamente, as coisas mais terríveis, as guerras, genocídios e a escravidão, não foram resultados da desobediência, mas sim da obediência. Tem muita gente obedecendo sem pestanejar, apenas para “voltar ao normal”, sem se dar conta de que justamente por conta dessa obediência bovina não voltaremos ao normal. Aqueles no poder gostaram da brincadeira. A “contracultura libertária” de hoje, paradoxalmente, é o conservadorismo, que clama por liberdade.
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