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Cinco passos para saber se um candidato é bom de oratória

Candidatos à Presidência. - Imagem: Divulgação
Candidatos à Presidência. - Imagem: Divulgação

Reinaldo Polito Publicado em 04/09/2022, às 08h14


Ao assistir a um discurso de determinado político podemos ou não gostar de seu desempenho. Por que será que alguns nos encantam e outros não? Certos indicadores nos ajudam a fazer essa avaliação.

De largada, é preciso, por mais difícil que possa ser, afastar a audição seletiva. Sim, já que, de maneira geral, só ouvimos e aplaudimos o que beneficia o nosso candidato e prejudica o adversário. Para entender a qualidade da comunicação dos políticos é importante nos distanciarmos dessas paixões ideológicas.

Tendo em vista essa análise, podemos entender também por que o candidato decide ou não participar dos debates programados pelas emissoras de televisão. Alguns se saem tão mal que ganhariam mais ficando em casa que participando desses confrontos.

Há uma frase curiosa atribuída a Maurice Switzen: “É melhor calar-se, e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota, que falar e acabar com a dúvida”. Só que não dá para eles se esconderem o tempo todo. Poderão se esquivar em um momento aqui, outro ali, mas precisam ter consciência de que assim poderão deixar o caminho livre para a concorrência.

Além dessa observação, será possível ainda aprender um pouco de oratória com os erros e acertos desses políticos. Cada um, à sua maneira, pode se constituir em excelente exemplo a ser seguido ou rechaçado. Vamos estudar alguns pontos que poderão nos dizer se o político está ou não dominando a arte de falar em público.

Primeiro – O político tem consciência do que está dizendo? Até por causa do nervosismo que ataca os candidatos durante os debates, os menos experientes passam por uma espécie de vazio mental. Em vez de aguardar o pensamento e depois encontrar as palavras para vesti-lo de forma adequada, se precipitam e jogam palavras, muitas vezes desconexas, para tentar formar o raciocínio a partir desses vocábulos. A situação é desesperadora, pois demonstram claramente que não sabem bem o que estão dizendo.

Segundo – O candidato demostra no olhar, no brilho dos olhos, que está vendo os ouvintes ou tendo um contato seguro com a câmera? Especialmente os menos experientes confessam, em conversas reservadas, que olham na direção do público, mas não enxergam ninguém. Veem apenas uma nuvem escura, sem identificar a fisionomia daqueles que estão à sua frente. Só com muita experiência e bastante segurança é que essa nuvem vai se dissipando e o contato visual deles com as pessoas se torna mais efetivo.

Terceiro – O político fica ansioso nos momentos de pausas? Talvez esse seja um dos aspectos mais fáceis de serem identificados. Quando um candidato ainda não domina a arte da oratória, assim que conclui o pensamento, volta a falar rapidamente, de maneira precipitada. Dessa forma, por insegurança, deixa de aproveitar o momento de silêncio para valorizar o que disse, criar expectativas a respeito do que irá dizer na sequência e demonstrar controle e domínio sobre o assunto que está expondo.

Se o candidato tiver o domínio de cada um desses aspectos, significa que evoluiu bem com a sua comunicação. Para chegar a esse estágio da arte de se expressar há necessidade de muito estudo e larga experiência. Poucos conseguem esse nível excepcional de comunicação. Há, todavia, outros ingredientes que precisam ser considerados.

Quarto – O candidato demonstra conhecimento profundo sobre o que diz? Fica evidente quando um político possui apenas um raso verniz a respeito do tema que está abordando. Nesse caso, ele pode ser visto somente como um falador, mas não como bom orador. Por isso, é preciso que ele esteja muito bem preparado para abordar todas as matérias.

Quinto – O político se apresenta com raciocínio bem estruturado? Alguns se perdem ao longo da apresentação. Terminam quando ainda deveriam reforçar a linha de argumentação, ou refutar possíveis objeções. Repetem desnecessariamente informações até não muito relevantes, tornando-se prolixos e enfadonhos. Se souberem exatamente o caminho que pretendem percorrer desde o início até a conclusão, passarão a imagem de quem têm autoridade nas questões expostas.

As técnicas oratórias são numerosas, quase infindáveis. O cuidado que o político precisa ter é o de aprender e dominar os conceitos dessa arte o mais rápido possível e da maneira mais ampla que puder. Ainda que deva se apressar, precisará dar um passo de cada vez, pois não há atalhos.

E para quem ainda não sabe, a maioria desses que brilham nos palanques e diante das câmeras se dedicou exaustivamente a esse aprendizado. Os presidentes de praticamente todos os grandes partidos políticos do país passaram pelo meu curso. Sei bem como tiveram de se submeter a sacrifícios para chegar ao patamar em que se encontram hoje. Siga pelo Instagram: @polito

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