Por Kleber Carrilho
Redação Publicado em 05/02/2022, às 00h00 - Atualizado às 08h07
Por Kleber Carrilho
A esquerda que mata a esquerda ainda é esquerda?
Nas eleições, os concorrentes em geral não estão de lados opostos. Afinal, para tentar alcançar os votos, é muito mais fácil com quem está disponível por perto, do que ir buscar alguém do outro lado. E foi isso o que aconteceu em Portugal, no dia 30 de janeiro.
Durante pouco mais de seis anos, o primeiro-ministro socialista António Costa conseguiu se manter no governo com uma aliança razoavelmente instável com o restante da esquerda. Era tão estranha que tinha o apelido de “Geringonça”.
Pois bem, em outubro do ano passado, na hora de votar o orçamento para 2022, ele não negociou com os parceiros da esquerda, nem com o partido da centro-direita, nem com ninguém. Apresentou o que queria e perdeu.
O Partido Comunista, em coligação com os Verdes, e o Bloco de Esquerda, uma espécie de PSOL português, criticaram os socialistas, disseram que não tinham sido consultados e por isso chumbaram (que é o termo que eles usam aqui) a proposta.
Então, como sem orçamento o país não anda, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa, aquele senhor bacana que vive nas praias de Cascais, convocou novas eleições, que ocorreram agora.
Durante a campanha, a esquerda criticou, demonstrou que podia participar mais, que tinha ótimas propostas e que garantiria um governo socialista, mas, para isso, o primeiro-ministro deveria mais democrático.
Enquanto isso, António Costa trabalhou com a estabilidade e procurou a maioria absoluta, para não precisar mais dos outros partidos. Falou sobre as conquistas dos seis anos de governo, dos salários mínimos aumentados e levou uma cópia impressa do orçamento ao principal debate na televisão, demonstrando que ele era o único que não precisava falar, pois tinha a promessa clara, tinta sobre papel, que só não tinha sido aprovada porque os outros não quiseram.
A centro-direita (PSD) até que conseguiu empolgar um pouco, com o discurso de defesa das empresas, da liberdade econômica, da diminuição dos impostos. Porém, ao lado, tinha os liberais de verdade (IL) e uma extrema-direita (Chega!) que levava os mais apaixonados.
Na contagem dos votos, a centro-direita se manteve com o mesmo percentual da eleição anterior, a direita teve um crescimento importante, mas quem ganhou foi o Partido Socialista, que roubou grande parte dos votos dos outros partidos de esquerda. Foi o maior comparecimento às urnas dos últimos anos, mesmo ainda havendo pandemia, deixando claro que os portugueses queriam a estabilidade contra uma possível ameaça à direita. Era o que António Costa precisava para conquistar a tal maioria absoluta e continuar a ser primeiro-ministro, com o orçamento pronto e conseguindo esmagar os antigos companheiros, que o fizeram liderar por tanto tempo.
Pode ser uma lição importante para quem faz política e para o Brasil em outubro. Quem ganha é quem consegue derrotar os concorrentes próximos, não os aparentes adversários.
Enquanto uma parte da esquerda brasileira comemora os resultados em Portugal, fica a pergunta: a esquerda que mata a esquerda continua sendo esquerda? Ou já assumiu que é centro?
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