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A arte de (não) comunicar da Prefeitura de São Paulo

A arte de (não) comunicar da Prefeitura de São Paulo - Imagem: Reprodução | Arquivo Pessoal
A arte de (não) comunicar da Prefeitura de São Paulo - Imagem: Reprodução | Arquivo Pessoal

Fernando Sampaio Publicado em 25/08/2022, às 09h00


Um elemento básico de boa gestão é a comunicação eficiente entre os diversos órgãos administrativos. A troca de informações traz dinamismo e maior produtividade, evitando, no mais das vezes, o desperdício de recursos públicos.

Recentemente, a Prefeitura de São Paulo idealizou o Projeto Centenário Mário de Andrade, prevendo intervenção em praças espalhadas pelos distritos da cidade. A implantação ficou a cargo da Secretaria Municipal das Subprefeituras, incluindo a instalação de brinquedos acessíveis e de espaço reservado para animais.

Seria algo interessante para melhoria de áreas verdes, muitas delas, vale ponderar, sem cuidados básicos. Todavia, faltou justamente à Prefeitura a sensibilidade de saber se comunicar. Primeiro, internamente. Por mais espantoso que possa parecer, as próprias Subprefeituras desconheciam o teor das intervenções propostas pela Secretaria das Subprefeituras, outrora chamada Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, coordenação esta que, aparentemente, se perdeu nos últimos anos.

Além do lamentável esvaziamento das funções de uma Subprefeitura, na contramão dos motivos que levaram a sua criação, a gestão municipal parece querer isolar de vez os gestores locais, sequer comunicando as intervenções que serão executadas em seus próprios territórios.

Também, falha a Prefeitura em se comunicar com a sociedade civil organizada, que muito tem contribuído com as gestões municipais atualmente e anteriormente. As associações de bairro, por exemplo, assumem a responsabilidade pela manutenção de diversas áreas verdes após firmarem um termo de cooperação com a municipalidade. É esse instrumento que permite dar maior fôlego ao poder público em suas funções de zeladoria, deixando-se a cargo dos particulares a varrição, a limpeza, a coleta de resíduos, a irrigação, entre tantas outras ações que os espaços públicos cooperados demandam.

A falta de tato da Prefeitura é surpreendente. Está claro que, a parceria firmada entre particulares e a gestão municipal, é uma via de mão única. Afinal, em nenhum momento o diálogo com a comunidade foi estabelecido. Não houve comunicação alguma, como se espera de governos democráticos voltados para o bem-estar social. 

Associações de moradores que tanto auxiliam o poder público municipal foram alijadas do processo de intervenções em áreas verdes da cidade. A escolha das praças, as instalações necessárias em cada local, o início das obras, tudo foi engendrado sem qualquer participação das entidades que realizam um trabalho relevante para o bem de toda coletividade e que assumem, com zelo, um papel que compete, em verdade, ao poder público municipal.

Dos elementos acima expostos, podemos concluir que, falta à administração municipal, um olhar mais atento à gestão local, dando às Subprefeituras maior poder de decisão e melhor capacidade em resolver problemas cotidianos que estão a seus olhos. Importante, ainda, ter-se maior cuidado com a participação social na elaboração da política urbana, ouvindo as necessidades das comunidades, dialogando com quem desfruta efetivamente dos espaços públicos no dia a dia, fundamental para a excelência da comunicação entre administradores e administrados.

Sobre o autor:

Fernando Sampaio é jornalista e publicitário, marido da Christiane, pai da Fernanda e do Frederico, avô do Antonio, Theo e Carolina. Também é presidente da associação de moradores, AME Jardins, entidade que representa os bairros dos jardins América, Europa, Paulista e Paulistano, e morador da região há 39 anos.

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