Diário de São Paulo
Siga-nos
COLUNA

Lula remove embaixador brasileiro de Israel e gera nova crise diplomática

CONIB lamenta e diz que decisão “nos afasta da tradição diplomática brasileira de equilíbrio e busca de diálogo”

Embaixador brasileiro de Israel - Imagem: Reprodução | AGÊNCIA SENADO
Embaixador brasileiro de Israel - Imagem: Reprodução | AGÊNCIA SENADO
Agenor Duque

por Agenor Duque

Publicado em 30/05/2024, às 07h28


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criou uma nova crise diplomática com Israel. Por decisão sua, e publicada no Diário Oficial desta quarta-feira (29), o Brasil não tem mais embaixador em Tel Aviv.

Frederico Meyer, que ocupava o cargo, havia retornado a Israel na última sexta-feira (24) para fazer as malas. Ele foi transferido para Genebra, na Suíça, onde assumirá uma missão permanente com o nome Conferência do Desarmamento.

Desde fevereiro, Brasil e Israel trocam farpas, na esteira do conflito de Israel com o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza. O combate iniciou após os membros do grupo radical terem invadido o território israelense, em 7 de outubro de 2023, quando mais de 1.200 pessoas foram mortas e cerca de 250 foram sequestradas. 

No início de 2024, o embaixador brasileiro foi chamado pelo chanceler israelense, Israel Katz, ao Museu do Holocausto. Na ocasião, Israel protestou contra um pronunciamento de Lula, que disse: “O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus”.

Por isso, O presidente brasileiro passou a ser “persona non grata” no país até que se retratasse. Segundo Katz, a afirmação foi um “grave ataque antissemita”.

O governo brasileiro classificou como “inaceitável” a postura de Katz e mandou chamar Meyer de volta para consultas. Foi uma sinalização que precisava ouvir esclarecimentos de seu diplomata a respeito de uma atitude considerada “hostil” por parte da nação de Israel.

Com a remoção do embaixador Meyer, a representação diplomática brasileira em Israel fica sem um ministro de primeira classe. O comando da embaixada passou para o encarregado de negócios, o ministro conselheiro Fábio Farias. Este é um sinal claro da redução de importância que as relações com Israel passam a ter para o Brasil.

Em nota, a Confederação Israelita do Brasil (CONIB), maior organização judaica do país, lamentou a decisão do Brasil. A entidade destacou o “impacto dessa medida nas relações bilaterais” e que “a medida unilateral [...] nos afasta da tradição diplomática brasileira de equilíbrio e busca de diálogo e impede que o Brasil exerça seu almejado papel de mediador e protagonista no Oriente Médio”.

Lembrou ainda que “os dois países têm uma rica história de cooperação e afeto, iniciada desde a aprovação da partilha da Palestina pela ONU, em 1947, em votação na Assembleia Geral da organização conduzida pelo brasileiro Oswaldo Aranha. Desde então, as relações prosperaram e os laços entre os países se fortaleceram em benefício mútuo de seus povos”.

Desde outubro de 2023, o conflito em Gaza continua se acirrando. Ao longo desse período, diferentes figuras do Partido dos Trabalhadores se pronunciaram a favor dos palestinos e contra Israel.

Foi amplamente noticiado que o governo Lula considerou expulsar o embaixador israelense Daniel Zonshine de Brasília. Um mês após o início do conflito em Gaza, ocorreu uma reunião sobre o tema no Palácio da Alvorada, envolvendo Lula, o então ministro Paulo Pimenta (Secom) e o assessor internacional da Presidência para assuntos internacionais, embaixador Celso Amorim.

Posteriormente, a presidente do PT, deputada federal, Gleisi Hoffmann (PR), e o deputado Lindbergh Farias (RJ), ecoaram publicamente o pedido para mandar Zonshine embora.

A expulsão de um embaixador é considerada um ato dos mais graves que podem ser tomadas em termos diplomáticos.

A revista Veja e outros órgãos de imprensa do país noticiaram que o PT organizou manifestações no Brasil e em outros países em apoio à Palestina. Essa mobilização foi coordenada por núcleos do PT no exterior, com participação do PCdoB, e movimentos sociais, como Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) e Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz).

Além disso, em 23 de maio Lula classificou como "histórica", a decisão de Espanha, Irlanda e Noruega reconhecerem o Estado palestino. Para o mandatário, a posição “terá efeito positivo em apoio aos esforços por paz e estabilidade na região. Isso só ocorrerá quando for garantida a existência de um Estado Palestino independente". Nos termos públicos da Carta do Hamas, uma nação palestina deve ir “do Rio [Jordão] ao Mar Mediterrâneo]”. O que, na prática, significa que Israel deverá deixar de existir.

O Brasil reconheceu a Palestina como estado independente em 2010, durante o segundo governo de Lula. A ONU não é favorável ao reconhecimento, que poderia gerar uma guerra em grande escala no Oriente Médio.

Compartilhe  

últimas notícias