Como nasceu uma das séries de livros mais bem-sucedidas do país

Por Reinaldo Polito

Como nasceu uma das séries de livros mais bem-sucedidas do país

Eu já havia publicado vários livros. As obras conquistaram muito sucesso e seis delas foram para as listas dos livros mais vendidos do país. Há mais ou menos 25 anos comecei a escrever para jornais, revistas e portais na internet. Descobri logo no início que se quisesse fisgar e manter a atenção dos leitores precisaria elaborar os textos de maneira leve, descontraída, com algumas pitadas de humor. Os leitores desejavam conteúdo, mas se os artigos não fossem atraentes, abandonavam a leitura já nas primeiras linhas.

E assim fui me adaptando a esse novo jeito de escrever. Na verdade, vi que bastaria pôr no papel, isto é, na tela do computador, a mesma linguagem que utilizava em sala de aula com os alunos dos nossos cursos de oratória. Como as pessoas, de maneira geral, sentem muito receio de falar em público, o ensino bem humorado ajuda a descontrair. Assim, sem pressão, se divertem e aprendem. Reproduzi a experiência nos textos e deu certo.

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Quando, entretanto, eu comparava esses artigos com os livros que eu publicara percebi uma diferença assustadora. A linguagem parecia engessada, dura, sem graça. Dava a impressão de que as obras haviam sido produzidas por outro autor. Esse fato me deixou preocupado. Afinal, como essa situação poderia ser contornada? Resolvi conversar com a editora e propor uma reformulação total nos livros. Mesmo me alertando que o trabalho seria muito intenso, toparam.

Foram meses varando madrugadas e finais de semana sem me preocupar com descanso. Confesso que chegou a doer fisicamente. Não esmoreci e segui em frente até que o objetivo fosse alcançado. Reescrevi todos com a linguagem mais solta, sem descuidar da qualidade do conteúdo.

Em determinada madrugada, feliz com o resultado da empreitada, pus os livros todos à minha frente, olhei do lado para ver se ninguém me observava, e me cumprimentei: “muito bom garoto. Deu trabalho, mas valeu a pena”.

Nesse momento bateu uma nova preocupação. Sabia que havia feito tudo muito caprichado, mas os leitores de hoje também desejavam informações mais objetivas, que pudessem em pouco tempo resolver suas dúvidas. Pensei que, se aparecesse alguém fazendo um trabalho com essas características, iria cair no gosto dessas pessoas. Nesse momento eu disse para mim mesmo: espere aí, se aparecer, não, já apareceu. Esse alguém sou eu mesmo.

Naquele instante comecei a reunir material para fazer um livro de dicas, ou melhor, fui mais pretensioso, de superdicas. Estabeleci que seria uma obra pequena, de bolso, com 60 dicas, cada uma com tamanho aproximado de 1.650 toques. Em três dias o livro “Superdicas para falar bem em conversas e apresentações” estava pronto.

Levei para a Saraiva e aprovaram na hora. Em um mês a obra estava lançada com sucesso estrondoso. Vendia entre 15 mil a 20 mil exemplares por mês. Superou os 400 mil exemplares. Em 2006 foi um dos dez livros mais vendidos no Brasil durante o ano todo.

Graças a esse extraordinário resultado, combinei com a editora que eu poderia coordenar uma série com o nome superdicas. Fui em busca dos melhores especialistas em suas áreas convidando para que participassem da série. Foram publicados 30 títulos. A série ultrapassou um milhão de exemplares, tornando-se uma das mais bem-sucedidas da história. Conseguimos emplacar seis títulos simultaneamente em uma única edição da lista dos mais vendidos da Revista Veja. Fui homenageado com placa pela editora por causa do resultado conquistado.

Depois de lançar o meu superdicas com sucesso também na Itália, em italiano “I superconsigli parlare bene per convincere ed essere protagonista”, e em inglês “Super Clues for speaking well”, muitos títulos da série brasileira foram publicados também na Itália, onde passei a coordenar a série “I superconsigli”.

Conto essa história como forma de comemorar a conquista, mas principalmente para mostrar que as oportunidades devem ser agarradas na hora em que aparecem. Se eu tivesse tido a ideia e esperado “uma boa ocasião para pôr em prática”, talvez perdesse o momento. E mesmo que viesse a fazer depois, provavelmente não encontraria o mercado pronto para receber aquela novidade.

Por isso, vamos ficar atentos e prender com unhas e dentes as chances que a vida nos coloca à frente. Como dizia o meu avô: as boas oportunidades são como um cavalo selado que passa trotando. Se você montar nele, fará uma viagem prazerosa e feliz. Se deixar passar, o que vem atrás, quase sempre, é burro chucro, que só dá coice e empaca. Siga pelo Instagram @polito

Alguns países onde o livro “Superdicas para falar bem” foi publicado

Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão Corporativa e Gestão de Comunicação e Marketing na ECA-USP. Presidente Emérito da Academia Paulista de Educação. Escreveu 34 livros com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no [email protected]