O jornal francês, Le Monde, afirmou que a empresa é usada por família controladora para manobras duvidosas no mercado
Vitória Tedeschi Publicado em 08/03/2023, às 11h05
Uma investigação do jornal francês Le Monde, revelou mais uma polêmica da Paper Excellence envolvendo fraudes ambientais. A conclusão foi de que a empresa é usada pela família controladora para manobras duvidosas no mercado.
As revelações feitas pelo jornal estrangeiro foram trazidas na última terça-feira (07) pela coluna do Lauro Jardim, no jornal O Globo, que também revelou uma ligação nebulosa entre a Paper Excellence a Asia Pulp & Paper, que é acusada de desmatamento, conflitos com comunidades locais e de provocar incêndios catastróficos.
Além disso, de acordo com a reportagem do principal jornal da França, que integra uma série chamada "Deforestation Inc", a PE, que briga no Brasil pela Eldorado Celulose, vem servindo de fachada para ações de "greenwashing" realizadas pela Asia Pulp & Paper.
Foi descoberto também pelo Le Monde, que a APP é responsável pela derrubada de mais de 1 milhão de hectares de florestas, o que a fez perder a certificação FSC (Forest Stewardship Council), essencial para entrar nos mercados da Europa e da América do Norte.
A nova descoberta, no entanto, é que, agora, como manobra para continuar seu domínio nocivo no mercado de celulose, a Paper Excellence está sendo usada para uma série de aquisições de empresas que possuem esse ou outros selos de sustentabilidade, como a Eldorado.
O jornal também aponta que as duas empresas, juntas, adotam práticas de mercado questionáveis em busca de vantagem competitiva. Alguns exemplos dessas práticas seriam: destinar a maior parte da celulose produzida para o consumo próprio e mecanismos de otimização fiscal, jogando com os preços dos produtos.
Ao ter acesso a dezenas de documentos levantados por um ex-analista-chefe da APP, o Le Monde comprovou o envolvimento dessa empresa nas movimentações de mercado da Paper Excellence, por mais que as empresas aleguem ser totalmente independentes.
As evidencias apontam que executivos da Asia Pulp & Paper colaboraram, a pedido de Jackson Widjaja, presidente da Paper Excellence, para arquitetar planos sobre as próximas aquisições da companhia e os documentos apresentados às autoridades de concorrência chinesa e europeia para a aquisição da Eldorado Brasil, do Grupo J&F.
Vale citar que todas as descobertas da investigacão do Le Monde foram elaborada em parceria com o ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos) e teve por base o testemunho de um ex-analista-chefe da APP, que trabalhou na empresa até 2018.
Estudos baseados em documentos obtidos pelos ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo, na silga em inglês) e ONGs internacionais indicam a existência de vínculos ocultos entre a empresa canadense Paper Excellence e uma produtora indonésia de papel e celulose acusada de causar desmatamentos.
No Brasil, a companhia do setor florestal está em processo de disputa na Justiça pela aquisição da Eldorado Celulose.
De acordo com os relatórios, a Paper Excellence tem laços estreitos com a Asia Pulp and Paper (APP), que é acusada de desmatamento, conflitos com comunidades locais e de provocar incêndios catastróficos. A companhia também faz parte do Sinar Mas Group.
No documento, produzido com base em registros corporativos de 10 países, há registros de lobbies, contratos de empréstimo, demonstrações financeiras e comunicados corporativos que indicam que as duas empresas são controladas pela poderosa família Widjaja.
Segundo a revista Forbes, os magnatas indonésios possuem fortuna estimada em cerca de US$ 10 bilhões (R$ 50 bilhões, na cotação atual).
No entanto, as empresas negam que haja qualquer ligação e afirmam que as companhias são administradas separadamente.
Em 2007, um órgão internacional de monitoramento de compliance ambiental retirou a certificação da APP, por estar “associada a práticas florestais destrutivas”.
No Brasil, a Paper Excellence está envolvida em uma disputa judicial de R$ 15 bilhões pelo controle da Eldorado Brasil Celulose. A empresa tem mais de 100 mil hectares de reserva de mata preservada e cerca de 230 mil hectares de florestas plantadas no estado do Mato Grosso do Sul.
A batalha ocorre ao mesmo tempo em que os números relativos ao desmatamento no Brasil são criticados internacionalmente. Em 2021, esse índice já foi o pior em 10 anos, de acordo com informações divulgadas pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Os dados apontam que mais de 10 mil quilômetros de mata nativa foram destruídos no ano passado — um crescimento de 29% em relação a 2020.