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Denúncia!

Uma das maiores disputas empresariais do país vira escândalo de espionagem

A disputa pelo controle da Eldorado Celulose, entre a Paper Excellence e a J&F, virou caso de polícia

J&F e Paper Excellence travam disputa bilionária pelo controle da Eldorado Celulose - Imagem: reprodução Instagram Acritica Net
J&F e Paper Excellence travam disputa bilionária pelo controle da Eldorado Celulose - Imagem: reprodução Instagram Acritica Net

Vitória Tedeschi Publicado em 28/09/2022, às 19h11


Uma das maiores disputas empresariais em curso no país, a briga pelo controle da Eldorado Celulose, virou caso de polícia sob uma acusação grave: espionagem.

Nesta quarta-feira (28), dois executivos da Paper Excellence foram indiciados pela Polícia Civil de São Paulo sob acusação de terem contratado hackers para invadir computadores da J&F para monitorar emails em tempo real.

A J&F, holding - empresa que possui a maioria das ações de outras empresas - dos irmãos Batista, dona do frigorífico JBS, e a Paper Excellence travam há cerca de quatro anos uma disputa bilionária pelo controle da Eldorado Celulose.

A novidade neste momento é que o delegado Nelson Caneloi Junior, do 1º Distrito Policial de Diadema, afirma ter reunido provas materiais e depoimentos suficiente para comprovar que os executivos da Paper Excellence, Claudio Laerte Cotrim e Josmar Verillo, teriam contratado uma empresa de tecnologia e programação de Moema Ferrari Normanha para invadir e-mails e celulares de diretores da J&F enquanto as duas empresas iniciavam uma disputa arbitral pelo controle da Eldorado.

Ainda de acordo com Nelson, foi comprovado 'de forma nítida' que a empresa Moema teria sido contratada pelos executivos da PE, e que ela contou com os serviços de hackers de seu sócio Leonardo Lopes e do funcionário Danilo Vaz Bernardi para invadir os computadores e instalar um software de espionagem.

Além disso, dentre outras provas, segundo o inquérito, ainda existem transferências pelo pagamento de serviços prestados por Danilo na época e um depoimento deste confessando ter sido contratado por Moema.

Na última semana, o ministro Alexandre de Moraes negou um pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal, solicitado por parte dos advogados de Moema, a fim de tentar impedir que um depoimento de Danilo - o funcionário envolvido - fosse incluído como prova no inquérito de Diadema.

Ambos executivos, Cotrim e Verillo, foram indiciados pelos crimes de invasão de dispositivo informático e associação criminosa, previstos no Código Penal. O inquérito, que ainda não é conclusivo, precisa ser acolhida pelo Ministério Público para virar um processo judicial.

Vale recordar que este não é o primeiro escândalo de espionagem neste caso. Isso porque, o inquérito policial teve início em 2019 quando a CTI Net, empresa que hospeda os servidores da JBS, fez um boletim de ocorrência após suspeitar de invasão em computadores de outro cliente.

A suspeita da CTI era de que ex-funcionários seus estariam invadindo servidores de clientes para depois oferecer soluções. Só posteriormente foi feita uma associação com o caso J&F.

A depender do encaminhamento do inquérito, a J&F pode ainda usar a invasão dos hackers a benefício próprio, para tentar invalidar uma decisão da Câmara de Comércio Internacional (CCI), que no ano passado deu ganho de causa à Paper Excellence. O caso também deve ser usado na disputa que acontece na Câmara de Arbitragem do Mercado (CAM), na B3.

No meio do conflito entre empresas, no início desta semana, os três árbitros que julgam o caso na CAM renunciaram após a J&F denunciar haver conflito de interesse. Isso porque a secretária da câmara, que já havia sido afastada, é casada com um advogado que representa a Paper Excellence.

Procurada pelo O Globo, a Paper Excellence afirmou que o inquérito é "inusitado" e sem "valor jurídico".

Veja o posicionamento da empresa:

"A Paper Excellence recebe com perplexidade a notícia de que o 1º Distrito Policial de Diadema determinou, sem provas ou qualquer informação nova além do que já apreciado pelas autoridades, o indiciamento de dois de seus representantes em investigação sobre um suposto desvio de e-mails de empresas da J&F Investimentos. Os fatos e depoimentos apresentados - ou requentados - nesse inquérito já foram amplamente investigados em outro inquérito da Polícia Civil, em São Paulo, que foi encerrado e arquivado pela justiça em primeira e segunda instâncias. Mais: a 2ª Vara Empresarial e Conflitos de Arbitragem também concluiu que não há provas que possam relacionar a Paper ao suposto hackeamento de empresas da J&F, após analisar, em profundidade, as investigações conduzidas pela DHPP e pela delegacia de Diadema, e ouvir hackers e diversas testemunhas sobre o caso.O inusitado inquérito de Diadema nada contém, portanto, que já não tenha sido analisado anteriormente por outras autoridades da Polícia, do Ministério Público e da Justiça criminal e cível, e apenas requenta argumentos para a J&F produzir notícias falsas na tentativa de iludir a Justiça na disputa cível. É nesse contexto que se insere a “novidade” do momento, a qual nenhum valor jurídico real possui e logo deverá ser assim reconhecida, mais uma vez, pelo MP e pela Justiça. Provocar indiciamentos sem provas, assim como fomentar estranhas e heterodoxas investigações, são parte do modus operandi da J&F em sua tentativa desesperada de tumultuar o processo envolvendo o controle da Eldorado Celulose, que - por decisão unânime de um tribunal arbitral e já confirmada pela justiça comum - deve passar a ser controlada pela Paper Excellence".

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