Crescente insegurança obrigou mulheres de Nuevo León a viver em constante estado de alerta e a cuidar sozinhas de sua segurança pessoal, pois dizem que as autoridades não fazem nada para protegê-las
Redação Publicado em 31/05/2022, às 00h00 - Atualizado às 08h43
Basta caminhar por apenas alguns minutos pelas ruas do centro de Monterrey e você verá até quatro fotos de pessoas desaparecidas. Há também murais com rostos e nomes daqueles cujo paradeiro é desconhecido. Eles estão em cada poste, em cada esquina.
Trata-se de um sinal diário da crise que vive Monterrey — e todo o Estado de Nuevo León, no norte do México: há mais de 6.000 desaparecidos, segundo dados oficiais.
Mas foi o recente aumento de casos, especialmente de meninas muito jovens, que disparou todos os alarmes sobre a insegurança que perturba o cotidiano de milhares de mulheres.
“Como eu sei que você é jornalista? Por que você não usa um gravador?”, me pergunta desconfiada Guadalupe, uma mulher que estava em um café depois das 22h na cidade velha de Monterrey.
“Já tinha notado que você andou até lá e depois se aproximou… Estamos em alerta constante, chegamos a esse ponto”, confessa sua amiga Diana, sentada à mesma mesa na animada rua José María Morelos, uma área repleta de bares e restaurantes.
Ambas as mulheres dizem que se recusam a “viver com medo, trancadas”, mas admitem que esta noite “pensaram um pouco mais” antes de sair sozinhas. “Estamos mais atentas, não temos escolha a não ser cuidar de nós mesmas. É triste, mas é assim.”
Outras mulheres, no entanto, optam por desistir de seu direito de aproveitar a noite.
No conhecido Morelos Salon, um bar próximo com música ao vivo, frequentadores dizem que “desde o caso Debanhi” (Debanhi Escobar, uma jovem que foi encontrada morta em uma cisterna de hotel em abril) menos pessoas vão lá e muitas saem mais cedo do que costumavam.
“Olha, é muito raro você ver meninas sozinhas na rua. Elas sempre vêm em grupos ou acompanhadas (por homens)”, diz María Palacios, que trabalha no local. Segundo ela, os funcionários estão mais agora atentos às garotas quando elas deixam as instalações e que, “quando estão bêbadas“, se recusam a vender mais álcool.
“Temos que cuidar umas das outras”, diz ela.
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