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TrateCov: Ministério da Saúde nega ‘ataque hacker’ e diz que possível ‘disponibilização não autorizada’ ocorreu 17 dias após lançamento oficial

O Ministério da Saúde (MS) negou a possibilidade de um ataque hacker ter sido o responsável pela disponibilização do aplicativo TrateCov, desenvolvido pela

TRATECOV
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Redação Publicado em 20/06/2021, às 00h00 - Atualizado às 11h55


Dados obtidos pelo G1 via Lei de Acesso à Informação desmentem depoimento do ex-ministro Eduardo Pazuello na CPI da Covid. Aos senadores, ele disse que aplicativo ainda estava em fase de testes e foi divulgado incompleto após ataque online.

O Ministério da Saúde (MS) negou a possibilidade de um ataque hacker ter sido o responsável pela disponibilização do aplicativo TrateCov, desenvolvido pela pasta e que indicava medicamentos sem eficácia para tratamento da Covid-19. A informação foi obtida pelo G1 via Lei de Acesso à Informação (LAI).

Em resposta a um questionamento da reportagem, o MS disse que houve uma “possível disponibilização não autorizada” da plataforma, em 28 de janeiro. No entanto, o aplicativo já tinha sido lançado oficialmente 17 dias antes, em 11 de janeiro, pelo então ministro Eduardo Pazuello, em visita a Manaus durante a crise de oxigênio na região. Em 21 de janeiro, a plataforma foi retirada do ar.

As informações do ministério desmentem o depoimento de Pazuello à CPI da Covid, em 20 de maio. Aos senadores, o ex-ministro disse que um hacker “roubou” o aplicativo durante um ataque e jogou uma versão incompleta na rede (veja mais abaixo). Segundo o MS, isso não ocorreu.

TrateCov: O que disseram Pazuello e Mayra Pinheiro sobre o aplicativo na CPI

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G1 pediu à pasta detalhes sobre a “disponibilização não autorizada” da plataforma já lançada oficialmente. No entanto, a pasta não se manifestou até a última atualização deste reportagem.

A reportagem também tentou contato com Eduardo Pazuello, via assessoria de imprensa do Palácio do Planalto, já que o militar trabalha atualmente como secretário de Estudos Estratégicos da Presidência da República. No entanto, não houve resposta.

Versão do MS

Questionado sobre o depoimento do ex-ministro da Saúde à CPI, o MS disse que houve “episódio distinto do que foi informado pelo cidadão [Pazuello], este, sim, identificado e registrado por esta Secretaria, mas que não se confunde com ‘ataque hacker'”.

Segundo a pasta, “na madrugada do dia 28 de janeiro de 2021, foi identificada uma possível disponibilização não autorizada da Plataforma Digital TrateCOV Brasil”. Nessa data, o aplicativo já tinha sido retirado do ar há uma semana.

“Assim, foram adotadas as medidas internas cabíveis, como a comunicação à unidade responsável desta pasta ministerial, para averiguação, bem como foi providenciado boletim de ocorrência na Polícia Civil para apuração de crimes praticados pela internet, como a invasão de dispositivo informático”, diz o ministério.

À reportagem, a Polícia Civil do DF disse que “não localizou o registro no sistema” dessa ocorrência.

Já quanto à derrubada da plataforma, dez dias após o lançamento, a pasta informou que “não há que se falar em retirada da ferramenta do ar, haja vista que a plataforma foi disponibilizada em ambiente de simulação, apenas de forma prototípica”.

Depoimento na CPI

Compare: o que Pazuello falou na CPI e o que disse quando estava no Ministério da Saúde

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As informações do MS descartam a versão apresentada por Pazuello em depoimento na CPI da Covid. À ocasião, o ex-ministro disse que o aplicativo foi ao ar antes de estar pronto, por ação do suposto hacker.

“No dia 10 [de janeiro] embarcamos para Manaus apresentou-se no momento em que estava o desenvolvimento dele [aplicativo], não estava completo porque precisaria colocar todos os CRMs lá dentro, precisaria puxar para dentro dele todos o bojo de pessoas que poderiam contatar. Naquele dia que foi apresentado e foi feita o roubo dessa plataforma e foi feito um BO. Foi roubado e foi feito…Ele foi hackeado por um cidadão”, afirmou Pazuello.

Pazuello disse que o hacker alterou dados do programa e disponibilizou o programa na rede. “Existe um boletim de ocorrência uma investigação que chega nessa pessoa. Ele foi descoberto, ele pegou esse diagnóstico, botou, alterou com dados lá dentro e colocou na rede pública. Quem colocou foi ele, tem todo boletim de ocorrência eu vou disponibilizar aqui. No dia que nós descobrimos que ele foi hackeado eu mandei tirar do ar imediatamente”, argumentou o ex-ministro.

No entanto, o aplicativo foi lançado oficialmente pelo então ministro, sem menção a ataques. Além disso, o ministério não cita qualquer possibilidade de alteração nos dados do programa de forma indevida.

TrateCov

Dez dias depois do lançamento do aplicativo, sob críticas, o governo tirou o TrateCov do ar, alegando que um hacker tinha invadido a plataforma — Foto: Ministério da Saúde/Facebook

Dez dias depois do lançamento do aplicativo, sob críticas, o governo tirou o TrateCov do ar, alegando que um hacker tinha invadido a plataforma — Foto: Ministério da Saúde/Facebook

O TrateCov era uma plataforma na qual médicos e enfermeiros podiam inserir dados do paciente – como peso, altura, e comorbidades – e sintomas. Caso houvesse indicação de Covid-19, o aplicativo indicava remédios como a cloroquina, a hidroxicloroquina e a azitromicina, que comprovadamente não possuem eficácia contra a doença.

À época, o Ministério da Saúde disse que lançou a plataforma “para auxiliar os profissionais de saúde na coleta de sintomas e sinais de pacientes visando aprimorar e agilizar os diagnósticos da Covid-19”. O aplicativo foi anunciado pelo então ministro Eduardo Pazuello, em um evento em Manaus.

À época, o Amazonas vivia um pico da doença, com recordes de mortes e internações, e o site foi destinado inicialmente apenas a profissionais da capital do estado.

A plataforma, no entanto, foi duramente criticada por especialistas. O Conselho Federal de Medicina pediu a retirada do aplicativo do ar e disse, em nota divulgada à época, que o sistema “assegura a validação científica a drogas que não contam com esse reconhecimento internacional” e “induz à automedicação e à interferência na autonomia dos médicos”.

Dez dias após a disponibilização, o Ministério da Saúde retirou o sistema da rede.

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Fontes: G1 – Globo.

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