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Em vídeo, mulher ataca PM em hospital e delegado fala pela primeira vez sobre o caso: “Um surto psicótico”

Imagem Em vídeo, mulher ataca PM em hospital e delegado fala pela primeira vez sobre o caso: “Um surto psicótico”

Redação Publicado em 23/06/2022, às 00h00 - Atualizado em 27/06/2022, às 14h32


Uma mulher causou tumulto no hospital Santa Casa de Misericórdia de Araraquara (SP), no último domingo (19), ao bater de frente com os enfermeiros por desrespeitar as regras do local.

Quando dois policiais militares foram chamados, ela os atacou com ofensas e ameaças. Depois do tumulto, a moça foi algemada e detida pelos oficiais. De acordo com o delegado que respondeu ao caso, a agressora foi acometida por um surto psicótico.

Em entrevista exclusiva ao Diário deSão Paulo, o delegado Edivaldo Ravenna Picazo, da Delegacia Secional de Polícia Civil do Estado na cidade, descreveu o distúrbio na unidade de saúde e as condições psicológicas da mulher, cuja identidade permanece desconhecida.

Segundo o agente, a mulher foi encaminhada à delegacia pelos PMs com sinais de agitação e desequilíbrio emocional. Ele apontou que a confusão gerada no hospital foi motivada por uma alteração repentina no estado mental da agressora. Além disso, a mulher já protagonizou outros episódios de violência, em virtude desse tipo de surto. No momento em que foi apreendida, ela não estava sob efeito de nenhuma droga.

“Segundo os familiares, ela tem problemas de depressão e toma medicamentos. Provavelmente, ela teria deixado de tomar algum medicamento naquele dia e acabou manifestando o distúrbio”, disse o delegado.

De acordo com um levantamento da National Alliance Mental Illness (NAMI, na sigla em inglês), organização norte-americana de estudos sobre saúde mental, um surto psicótico é um temporário evento de dissociação entre a realidade e a percepção que uma pessoa tem a respeito dela.

Na maioria das vezes, os sintomas são: alucinações, delírios, ansiedade, agressividade, pensamento desorganizado e/ou comportamento desorganizado.

Psiquiatras indicam que, em geral, o primeiro episódio psicótico tem origem orgânica, sem estar necessariamente associado ao uso de drogas e medicações e, mesmo assim, não há como evitar que ele ocorra. Em certos contextos, o desequilíbrio pode ser impulsionado por uma perda, um trauma, uma doença sofrida ou uma grande mudança na vida.

Para o delegado Edivaldo Picazo, a cena de hostilidade da visitante do hospital contra os policiais e as outras pessoas próximas ocorreu de modo espontâneo, apesar de ela ter se desentendido com os profissionais de saúde ao violar normas do local.

“Esse tipo de surto normalmente acontece sem nenhuma motivação. Como ela foi confrontada pelos enfermeiros por desrespeitar algumas regras, isso pode ter sido o gatilho para aagressão”, disse o profissional.

“O distúrbio piorou quando ela começou a incomodar os demais pacientes que ali estavam. Nesse momento, ela já deveria estar iniciando o processo de surto. Então, o problema chegaria ao ápice a qualquer momento. A pessoa que tem um surto psicótico precisa de alguém para ecoar o que ela está fazendo”, completou.

Entenda o episódio

O incidente que aconteceu na Santa Casa de Misericórdia de Araraquara, interior de São Paulo, e foi gravado por testemunhas e, em seguida, compartilhado na internet.

A jovem mulher estava no local como acompanhante de sua tia de 60 anos, que estava internada. Segundo testemunhas, ela aparentava estar calma e controlada. No entanto, seu comportamento mudou repentinamente quando recebeu reclamações dos enfermeiros por violar normas de segurança.

Os profissionais alegaram que a visitante estava alimentando a paciente, o que é proibido pelo hospital, além de incomodar outras pessoas internadas. A partir disso, ela se descontrolou e agrediu verbalmente a equipe médica. Assista aqui ao vídeo completo.

Após viralizar no Whatsapp, o vídeo também ganhou grande repercussão no Facebook, chegando a ter mais de 12 milhões de visualizações. Nos mais de 200 mil comentários, os internautas reprovaram o comportamento da moça para com o policial militar.

As hostilidades se intensificaram quando os profissionais pediram para que a visitante deixasse imediatamente o hospital. Ela rebateu, dizendo que não sairia. “Eu pago os meus impostos e vou ficar para cuidar da minha tia”.

APolícia Militar logo foi chamada pelos funcionários da Santa Casa. Quando os oficiais chegaram ao local, iniciou-se um novo confronto nos corredores. Um dos policiais solicitou à mulher para se retirar do hospital, mas ela reagiu com xingamentos e ameaças.

“Você [policial] não sabe nada de leis. Eu estudei para isso, o que estou fazendo é baseado em leis. O que você está fazendo na polícia? Me fala. Vamos resolver isso lá fora”, disse a agressora.

No momento em que ela se aproximou do policial, ele alertou: “Não levanta a mão para mim. Se fizer isso, terei que te prender. Sai de perto”. No entanto, a mulher insistiu em provocá-lo e encostou os punhos na farda dele: “Me prende!”, disse.

Imediatamente, o policial a imobilizou pelo braço, com a ajuda de outro oficial, e a algemaram. Contudo, a mulher resistiu à abordagem: “Tirem a mão de mim. Estão me machucando. Você não é homem, só porque está com essa arma e essa roupa acha que é homem. Você é um covarde”, exclamou. “Eu vou te matar. Não põe a mão em mim”, finalizou antes de cuspir no oficial.

Em relação ao vídeo da prisão da mulher, o delegado ressaltou que a abordagem dos policiais é considerada padrão para lidar com casos de pessoas com descontrole emocional e psicológico.

“O protocolo nessas circunstâncias é o uso progressivo da força. As palavras e o diálogo usados pelo policial naquele momento não foram suficientes para parar a agressora. Então, recorreram à força física de um modo que o impacto não causasse danos à mulher, como pode ser visto na gravação”, explicou.

“Ela foi algemada não apenas para impedir qualquer ataque aos policiais e aos pacientes, mas principalmente pela segurança dela mesma, porque da maneira como se comportava, poderia se ferir”, acrescentou.

Depois de ser ouvida, ela foi liberada e levada para um pronto-socorro pelos familiares para ser medicada, de acordo com o delegado Edivaldo Picazo.

Processo

O delegado Edivaldo Picazo também ressaltou que agora, o caso está sob análise de um juiz municipal. Para ele, os xingamentos e as ameaças aos agentes de segurança configuram como crime de desacato. No entanto, a condição de saúde da mulher pode ser levada em conta na decisão judicial.

“A princípio, é um caso de ofensas à policiais. Mas, em virtude do surto psicótico, a agressora falou uma série de impropérios que se direcionaram para qualquer pessoa que estivesse diante dela. Não era nada pessoal contra os oficiais, pois uma pessoa com esse tipo de problema pode enxergar um marido ou um vizinho como inimigos e torná-los alvos de seus ataques”.

E continuou: “Foi encaminhado ao juiz um termo circunstanciado do processo criminal por desacato. E ele deve analisar o caso para determinar se o episódio configura como crime de desacato ou se é um fato decorrente de doença, que requer tratamento. Ele será o responsável por impor as condições de tratamento para a mulher”.

A Santa Casa de Misericórdia de Araraquara emitiu uma nota de esclarecimento sobre o caso:

“Em relação ao episódio de desacato à autoridade ocorrido no domingo passado (19/6) na Santa Casa de Araraquara, o hospital esclarece que a acompanhante (de paciente com mais de 60 anos) importunou outros pacientes da ala, de modo que foi inevitável acionar a polícia para manter as condições adequadas de assistência. Internamente, foram feitos registros no plantão administrativo e nas ouvidorias (interna e externa). O hospital está à disposição das autoridades competentes se o caso tiver desdobramentos.”

Procurada pelo Diário de São Paulo, a Santa Casa de Araraquara não quis comentar o assunto.

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