A penúltima noite da Festa de Barretos (SP) foi uma aula prazerosa de história da música sertaneja. Pelo palco passaram os veteranos Matogrosso & Mathias, os embaixadores do evento, Zezé di Camargo & Luciano, e o cantor Gusttavo Lima, que, apesar de não ser novato, era o mais jovem entre todos.
De cara, Zezé e Luciano lançaram “Estrada da Vida”, sucesso de Milionário & José Rico ainda na década de 1970. O público cantou junto a música que é um hino sertanejo, e todo o cansaço pela espera de uma hora e meia – as provas de rodeio se estenderam além do horário previsto – foi deixada de lado.
Como anunciado, o repertório levou os fãs a relembrarem sucessos dos 25 anos de carreira dos filhos de Francisco, como “É o amor”, lançado em 1991, “Tão linda e tão louca”, hit no ano seguinte, “Sem medo de ser feliz”, de 1995, e “Cada volta é um recomeço”, de 1997. “Flores em vida” foi a única composição mais recente da dupla levada ao palco.
Passava de 2h30 de domingo (28), quando Zezé e Luciano convidaram ao palco Matogrosso & Mathias, a segunda atração da penúltima noite. Os quatros cantaram “De igual pra igual”, de 1985. Na Arena, os fãs formaram um grande coral, com mãos e chapéus para o alto. “É uma glória para mim esse acontecimento”, disse Matogrosso.
Zezé relembrou que Matogrosso & Mathias – na formação original – foram jurados de um festival onde ele e o então parceiro Areovaldo da Silva, o Zazá, se apresentaram, na década de 1970. “Falso Juramento”, a música apresentada na época foi executada pelas duas duplas. Ao final, Zezé e Luciano deixaram o palco, sem a pompa devida aos embaixadores.
Um show memorável e repleto de canções que marcaram época. Matogrosso & Mathias fizeram o público da Arena de Barretos cantar forte músicas que embalaram gerações. No palco, Matogrosso comemorou 40 anos de carreira, dos quais seis ao lado do jovem Raphael Belchior, sobrinho dele e que assumiu o nome Mathias.
Uma hora depois, Matogrosso & Mathias chamaram ao palco Gusttavo Lima. Os três cantaram juntos “Um século sem ti”. Em seguida, foi a vez de “E aí”, música gravada pela dupla no DVD comemorativo de 40 anos de carreira, com participação do cantor mineiro. O álbum foi lançado durante a Festa de Barretos.
Gusttavo assumiu o palco e já soltou o ritmo dançante de “Não paro de beber”, levantando o público. Assim como o DVD mais recente, “50/50”, lançado em março, o show em Barretos misturou os estilos romântico e baladeiro do cantor.
Zezé realmente não é mais o mesmo. Sem conseguir alcançar notas altas, o cantor entregou muitas letras ao público. Luciano segurou as pontas em diversos momentos, mas a voz falhada e cansada do irmão ficou bastante evidente em quase todas as canções, principalmente, em “Como um anjo” e “Sem medo de ser feliz”.
“Essa música é do brasileiro, é do Brasil, e eu não vou cantar”, disse Zezé logo nos primeiros acordes de “No dia em que eu saí de casa”, composição que exigiu bastante esforço do cantor. O público cantou junto. Luciano assumiu a frente do palco e a primeira voz em boa parte da letra, diante da rouquidão de Zezé.
Acompanhados de sanfona, saxofone e trompete, Zezé e Luciano fizeram os fãs dançar ao som de modas antigas, mas que estão sempre na ponta da língua de quem ama o sertanejo de raiz. Primeiro, lançaram “Do outro lado da cidade”, continuaram com “Ainda ontem chorei de saudade” e seguiram com “Sonhei com você”.
Zezé relembrou um encontro com Cristiano Araújo em Minas Gerais. Homenageou o cantor e o pai dele, João dos Reis Araújo, que estava no fundo do palco. Em seguida, chamou Felipe Araújo, irmão de Cristiano, que havia se apresentado horas antes no Palco Festeja.
O menino fez uma homenagem ao irmão, morto em junho do ano passado em um acidente de carro, com “Maus Bocados”. Nem precisou cantar a letra toda, bastou soltar a primeira estrofe para o público continuar todo o refrão.
“Felipe, você não está aqui porque é irmão do Cristiano, porque o Cristiano partiu prematuramente. Você está aqui também pelo valor. Você canta muito, tem um vozeirão, é de família. Parabéns, o palco é seu”, disse Zezé. Os três cantaram juntos “O Defensor”.
Durante o show de Zezé e Luciano, o compositor César Augusto Abdala, de Jaborandi (SP), recebeu uma homenagem do clube Os Independentes, organizador da Festa do Peão de Barretos, pelos 20 anos na música sertaneja. Zezé lembrou que os sucessos “Pare” e “Vou Chorar” foram escritos por Abdala.
Logo após a primeira música do repertório, Gusttavo Lima pediu ajuda aos seguranças para levar uma garotinha até o palco. Em prantos, Maria Eduarda abraçou e beijou muito o ídolo, ajoelhado ao palco. O cantor pegou a menina no colo e pediu para ela mandar um beijo aos festeiros na arena.
Gusttavo também fez muitos selfies com as fãs e deu um pouco de trabalho aos seguranças, avançando na ponta do palco para pegar os celulares. Em anos anteriores, o cantor chegou a passar para os camarotes no meio do show. Dessa vez, foi mais comportado.
Apesar de levar para Barretos sucessos antigos e composições do novo DVD “50/50”, Gusttavo Lima empolgou mesmo com letras de outros cantores. “Infiel”, de Marília Mendonça, foi cantada por todos os festeiros na Arena, em um grande coral. O axé de “Praieiro” também levantou o público, já por volta de 4h.
“Boate Azul” é uma das músicas sertanejas mais icônicas do Brasil. E foi com ela que Matogrosso & Mathias abriram a apresentação na madrugada deste domingo (28). Ao público, não economizou na voz e fez bonito ao acompanhar a dupla.
Mas, outros sucessos que falam em sua essência de pessoas com o coração partido passaram pelo set list, como “Tentei te esquecer” e “Pedaço de minha vida”, música que rendeu o primeiro disco de ouro da dupla, em 1976.
Versão de “Just give me a reson”, da cantora norte-americana Pink, “Diz pra mim” foi uma das músicas românticas que Gusttavo Lima cantou na Arena. Nesse momento, o clima de balada diminuiu e os fãs cantaram junto o sucesso lançado há dois anos. Em seguida, o cantor emendou “Você não me conhece”, de 2015.
O momento “dor de cotovelo” foi encerrado com “Abre o portão que eu cheguei”, uma das músicas do novo DVD. “É muito melhor viver embriagado, do que viver iludido de amor”, disse Gusttavo Lima no palco, enquanto as fãs gritavam histericamente na Arena.
Como escolheram a Festa de Barretos para lançar o novo DVD, Matogrosso & Mathias fizeram uma promoção para vender o trabalho e para que todos da Arena pudessem levá-lo para casa.
“Maravilha, Barretão. Nesse DVD, Gusttavo Lima tá com nós, Bruno & Marrone tá com nós, João Carreiro tá com nós, Zé Henrique e Gabriel tá com nós. Quem não pegar vai se arrepender. Está sendo vendido para todo mundo aqui. O preço é simbólico, R$ 10”, disse Matogrosso.
A primeira vez que Matogrosso & Mathias cantaram na Festa do Peão de Barretos foi na 21ª edição. Segundo o veterano, Tião Carrero & Pardinho também participaram do evento. Para relembrar a data, eles cantaram “Amargurado”, música que talvez possa ser considerada precursora da sofrência, em uma época bem, bem distante.
A dupla Matogrosso & Mathias prestou homenagens a três grandes nomes da música que já não estão mais entre os fãs. “Solidão”, de Milionário & José Rico, “Cê Que Sabe”, de Cristiano Araújo e “Memórias”, de Chico Rey & Paraná, foram executadas no palco.
“Grandes valores da música sertaneja têm ido embora. É o caso do meu amigo José Rico, que se foi. Pra mim ele não se foi, foram 40 anos juntos. Logo em seguida, veio o Cristiano Araújo, precocemente foi embora, tinha tudo na vida. Mais recentemente, nosso amigo Chico Rey. Vamos cantar uma homenagem para eles”, disse Matogrosso.
Um “transformer” iluminado com leds e repleto de efeitos especiais foi a surpresa que Gusttavo Lima levou para a Festa de Barretos. Como de costume, o cantor transformou a arena em balada, assumindo as pick-ups e colocando os fãs para dançar ao som de hits eletrônicos, como “Without you” e “Bang Bang (my baby shot me down)”, e funks, como “Bumbum Granada”.
O público continuou dançando ao som de “Gatinha assanhada” e “Balada – tchê tchê rere”, que nunca ficam de fora do repertório e sempre agradam.
Era por volta de 5h, uma hora e meia após ter subido ao palco, quando Gusttavo Lima disse que o repertório do show havia acabado, mas ficaria na Arena até o nascer do sol. Puxou a saidera “Cachaceiro”, de Eduardo Costa. A música foi emendada com “Boate Azul”, “Último Adeus” e “Vida Vazia”.
“Quem quiser pedir uma música, anota em um papelzinho e manda aqui pra cima”, disse o cantor, já com o violão nas mãos e sentado em um banco. Um copo que parecia ser de whisky foi colocado ao lado e o show continuou até o início da manhã.