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Saúde Mental

Qual a relação entre o uso de celular e a depressão em adolescentes?

Um estudo investigou o que o aumento no uso de celular, significa para a saúde mental dos adolescentes

Um estudo investigou o que o aumento no uso de celular, significa para a saúde mental dos adolescentes - Imagem: Reprodução/Freepik
Um estudo investigou o que o aumento no uso de celular, significa para a saúde mental dos adolescentes - Imagem: Reprodução/Freepik

Ana Rodrigues Publicado em 13/12/2023, às 09h00


Nos últimos anos, temos visto notícias de crises de saúde mental entre os jovens. Em nossas próprias vidas, sentimos os efeitos, devido ao uso excessivo do smartphone. Os mais novos também passam muito tempo em seus celulares, e isso é algo que qualquer pessoa que convive com eles pode observar.

Segundo o VivaBem, em um novo estudo realizado na Coreia do Sul e recém-publicado no periódico PLOS ONE, investigou o que o aumento no tempo de tela, significa para a saúde mental dos adolescentes.

Esse tema não é algo novo, há muitos anos, pesquisadores tentam quantificar em que medida a tecnologia e as redes sociais são prejudiciais para os jovens.

Porém, é a primeira vez que uma investigação deste tipo foi conduzida em escala nacional, com duas rodadas de entrevistas, nos anos de 2017 e 2020, com mais de 40 mil participantes, que informaram quantas horas - em média - passavam no telefone.

Os adolescentes também foram questionados sobre saúde mental, obesidade e uso de substâncias.

Os pesquisadores observaram que houve um aumento significativo do tempo de tela entre 2017 e 2020, antes 30% relatavam o tempo de uso superiores a 4 horas por dia, três anos depois o número saltou para 55%.

Mais uma coisa que foi comprovada é que, quanto mais tempo os jovens passavam em seus telefones, mais seus índices de impactos negativos na saúde mental, o abuso de substâncias ilícitas e a obsedidade aumentavam.

Os resultados do estudo são consistentes com o que já se sabia sobre o assunto, a correlação entre o aumento do uso de celulares e o compromentimento da saúde mental é incontestável, porém, as deficiências do artigo - que foram destacadas pelos próprios pesquisadores - são significativas.

Apesar da pesquisa se basear em respostas fornecidas pelos próprios participantes do estudo, é algo que foi muito criticado por especialistas na área da tecnologia nos últimos anos.

O tempo de uso relatado pode não ser uma estimativa do tempo de uso real e pode ter sido subestimado devido à tendência [que as pessoas têm] de fornecer respostas socialmente desejáveis e aceitáveis", escreveram os autores do artigo.

Os pesquisadores também reconheceram a segunda limitação deste estudo: não foi monitorado exatamente o que esses jovens estavam fazendo em seus telefones: estavam no TikTok? Jogando? Fazendo longas chamadas de vídeo? Essas informações adicionais ajudariam a entender e precisar melhor os impactos do uso do smartphone sobre a saúde mental.

Não conseguimos especificar o tempo de uso do smartphone de acordo com o propósito (por exemplo, uso de redes sociais, mensagens de texto, educação, compras online), que pode ter afetado os resultados de saúde", constou o estudo.

Para o professor de psicologia e comunicação científica na Bath Spa University, Peter Etchells, não faz sentido se medir o tempo de tela, já que o conceito cobre literalmente qualquer coisa e tudo.

Há muitos anos os pesquisadores pedem uma abordagem mais nuançada, que considere mais o conteúdo específico e o contexto de uso", afirmou.

Ele ainda disse que, é fácil medir o tempo de tela como um mero número em artigos de pesquisa, mas, esse dado sozinho, não revela muita coisa.

Se você imaginar duas pessoas relatando três horas de tempo de tela por dia, essas três horas podem cobrir uma variedade tão grande de atividades que é insensato tentar correlacionar esse número simples com outra coisa, como o bem-estar".

Etchells está trabalhando em um livro sobre a ciência do tempo de tela, onde defende que a pergunta que os pesquisadores deveriam fazer não é "qual a relação entre o aumento do tempo de tela e a saúde mental?", mas sim, "Por que algumas pessoas passam por dificuldades ao usar a tecnologia digital, enquanto outras parecem prosperar?".

Resumindo, quando se fala sobre a medida do impacto do celular na saúde mental, a melhor métrica para ser utilizada não é o tempo de uso da tecnologia, mas sim, o que fazemos quando a usamos, e como essas atividades podem afetar ou não a saúde mental.

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