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Você é o famoso quem?!

Você é o famoso quem?! - Imagem: Freepik
Você é o famoso quem?! - Imagem: Freepik
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 11/06/2023, às 07h07


Para demonstrar autoridade e conquistar credibilidade do público é importante que os ouvintes saibam quem você é. Se a plateia for informada a respeito de sua qualificação, não só aceitará sua presença sem resistências, como respeitará ainda mais sua competência para abordar o tema.

Há duas hipóteses para essa apresentação: a primeira, e ideal, é que outra pessoa o apresente. Neste caso, ainda que o orador carregue nas cores do seu currículo, não haverá problema, pois é normal que o responsável por falar de você capriche nos adjetivos.

A segunda opção, se não houver ninguém para fazer esse papel, é que você mesmo se apresente. Nesta hipótese, não será adequado que enalteça seus próprios atributos, pois correrá o risco de ser visto como prepotente, arrogante. Bastará que diga o nome, a função e a organização onde esteja atuando.

Não podemos também partir da pressuposição de que todos os ouvintes saibam quem somos. Mesmo que sejamos conhecidos, alguns talvez não tenham essa informação.

Passei por uma experiência pessoal que serviu como grande aprendizado. Ministrei 51 cursos na CST (Cia. Siderúrgica de Tubarão), hoje ArcelorMittal, em Vitória, ES. Cada turma era composta de 20 a 25 participantes. Mais de mil passaram pelas nossas aulas. O treinamento era bastante conhecido pelos gerentes e especialistas da empresa. Eu já havia orientado mais de 30 grupos. Por isso, imaginei que todos ali me conhecessem. Depois de uns cinco minutos do início da aula, um dos participantes levantou o braço e perguntou quem eu era. Aproveitei a oportunidade para fazer uma espécie de brincadeira e dei a resposta: “Opa! Pensei que já tivesse me apresentado assim que comecei a falar. Acho que ainda sou novo demais para esse tipo de esquecimento”. E me apresentei.

Foi também uma boa oportunidade para criar expectativas no grupo. Comentei sobre a importância da apresentação do orador, e que essas informações estavam planejadas dentro do estudo da retórica que seria realizado no período da tarde. A situação foi bem contornada, mas a partir daquele dia nunca mais iniciei nenhuma palestra ou aula sem que alguém me apresentasse ou eu mesmo fizesse a minha própria apresentação.

Esses atropelos podem ocorrer. Às vezes nos preparamos e nos programamos com todo cuidado e, quando menos nos damos conta, surge um fato inesperado. Um dos mais curiosos aconteceu comigo no Rio de Janeiro. Fui ministrar uma palestra para uma plateia de 1.200 pessoas. Cheguei ao local com boa antecedência para confirmar se estava tudo em ordem com microfones e outros equipamentos. Perguntei ao responsável pela minha contratação se estava de posse do currículo e se ele mesmo faria a minha apresentação. Ele disse que um político conhecido da região iria me apresentar.

Foi um desastre. Ele resolveu falar sem ler os meus dados. Começou errando no assunto que seria abordado. Disse que eu era um renomado mestre da motivação. E depois de discorrer a respeito dos benefícios que uma palestra motivacional proporcionaria a todos, apontou para mim e disse de forma entusiasmada e pausada: Com vocês, o professor Alfredo Hipólito.  Ou seja, errou o tema e o nome do palestrante.

Eu não poderia deixá-lo em posição desconfortável. Se o corrigisse diante do público, ele poderia se sentir ridicularizado, e eu ficaria mal diante dos ouvintes, já que o político era conhecido e querido naquela comunidade.

Contei uma história verdadeira. Disse que há pouco tempo havia ministrado uma palestra em Recife. Comentei que o responsável pelo evento, ao receber a incumbência de convidar as pessoas para a minha apresentação, confessou que estranhou muito o meu nome: “Reinaldo Polito, Reinaldo Polito, que nome mais esquisito esse. Tenho certeza de que este evento vai me dar tanto trabalho que jamais vou me esquecer desse nome”. Com essa história consegui brincar com a situação e fazer a correção sem criticar o apresentador.

A apresentação pessoal consome apenas alguns segundos e é um dos momentos mais importantes para que o orador se sinta confortável diante do público e tenha aceitação mais tranquila. Por isso, não deixe a plateia se perguntando: quem é o famoso quem?

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