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O plano parecia ser bom, mas deu tudo errado no início da apresentação

O plano parecia ser bom, mas deu tudo errado no início da apresentação - Imagem: Pixabay
O plano parecia ser bom, mas deu tudo errado no início da apresentação - Imagem: Pixabay
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 29/10/2023, às 05h26


No papel, na tela do computador, em nossos pensamentos a estratégia para conquistar os ouvintes funciona maravilhosamente. Na prática, entretanto, o resultado nem sempre sai como planejado. Por isso, todos devemos ter um plano B na manga para fazer frente a essas emergências.

Não há necessidade de elaborar uma saída específica para cada situação. Basta ter duas ou três de reserva para pôr uma em jogo quando a circunstância exigir. São aqueles coringas que nunca falham, que nunca nos deixam na mão, independentemente do ambiente e do tipo de plateia. Os meus têm sido úteis nas mais diversas oportunidades.

Fogo amigo

Nós é que montamos as armadilhas para nós mesmos. Um deslize comum é o de repetir modelos bem-sucedidos em momentos distintos. Uma piada ou uma história que deu certo na palestra para determinado público não garante necessariamente o mesmo sucesso com pessoas diferentes. Ainda que possam ter perfis semelhantes.

Embora eu aconselhe os meus alunos e leitores a evitar piadas no início de suas apresentações, vira e mexe acabo por contrariar os meus próprios ensinamentos. Começo alertando sobre os riscos da piada no início do discurso por três motivos: a piada não ter graça. Ter graça, mas ser muito conhecida. Não guardar interdependência com o conteúdo.

O desconforto do começo

Explico que os primeiros momentos são os mais difíceis para o orador. São aqueles instantes em que a adrenalina ainda não foi devidamente metabolizada e provoca disfunções no organismo. O coração bate mais forte. As pernas começam a tremer, as mãos a suar. As borboletas voam no estômago. A voz enrosca na garganta. Os pensamentos ficam desnorteados. O começo da fala provoca mesmo grande desconforto em quem se apresenta em público.

Ora, se a piada não tiver graça, a situação que já é desagradável poderá ficar ainda pior. Se for engraçada e os ouvintes já a conhecerem, o resultado talvez seja até mais constrangedor. Além desses dois motivos, há um terceiro bastante grave, a piada quase nunca guardar interdependência com o restante da mensagem.

Faça o que eu mando, mas não faça o que eu faço

Apesar de todos esses riscos, quando julgo conveniente começo contando uma piada. Antes dou todas as explicações sobre os perigos de usar esse expediente. Assim que percebo a concordância do público com o que eu disse, revelo que vou contar uma piada. Como pego a todos no contrapé, costumam rir bastante. Depois da piada, esclareço que ela só foi adequada porque estava intimamente relacionada com o tema da palestra.

Pois é, conto aqui, conto ali, até que, como dizia a minha avó, macaco que muito pula quer chumbo. Há poucos dias, em um ambiente que tinha tudo para dar certo, não deu. A plateia não reagiu. Imediatamente fui lá no meu estoque buscar a solução salvadora. Passei a falar a respeito das técnicas de que dispomos para conquistar e manter a atenção dos ouvintes. Essa é uma matéria infalível. Todos gostam.

Não bastou um equívoco

Como desgraça pouca é bobagem, na mesma semana proferi palestra para cerca de 550 advogados. Já ministrei mais de uma centena de palestras para esses profissionais. O meu livro que mais vende hoje é “Oratória para advogados”.

Ao falar da importância da oratória para eles, leio um trecho de um discurso do professor Ernesto Leme. O mestre mostra com bons exemplos que os advogados são excelentes oradores. Ou seja, coloca sobre os ombros dos que atuam na área do Direito a responsabilidade de terem de ser bons de tribuna. Infelizmente nem todos são. Talvez a maioria não seja. Essa leitura, além de ser muito adequada, mostra que esses conceitos estão no livro, e que a obra poderá ser útil a eles.

Começaram a sair

Nessa minha palestra a leitura não deu certo. Como o auditório era muito grande, mesmo tendo explicado que se tratava apenas de uma citação, as pessoas talvez tenham entendido que a apresentação seria lida. Alguns começaram a sair da sala. Isso é morte para um palestrante. Sem hesitar, deixei a leitura de lado e... dá-lhe orientações de como conquistar e manter a atenção. Incrível, advogados que já estavam de saída, em pé no corredor, voltaram a se sentar. Ufa!

Portanto, podemos nos enganar. Faz parte dos riscos de quem fala em público. Só não podemos insistir no erro e continuar seguindo o plano equivocado sem fazer tentativas de mudanças para reconquistar as pessoas.

Esse é um conselho que dou com toda a convicção: escolha dois ou três temas que sempre agradam os ouvintes e deixe como segurança. Assim que perceber que precisa fazer alterações, não vacile – tenha em mãos o seu assunto irresistível.

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