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Lula já não é mais o grande orador que foi

Luiz Inácio Lula da Silva. - Imagem: Reprodução | Ricardo Stuckert
Luiz Inácio Lula da Silva. - Imagem: Reprodução | Ricardo Stuckert
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 06/08/2023, às 06h37


Apesar dos erros gramaticais, da voz desgastada e da falta de foco nas mensagens que transmitia, Lula chegou a ser considerado o grande orador da política brasileira. Há 15 anos escrevi um texto com este título: “Aprenda com Lula – o mestre da oratória”. Naquela época o líder petista rondava sempre os 80% de aprovação. Havia se transformado em um dos maiores fenômenos políticos de todos os tempos.

Até os adversários se curvavam diante do seu magnetismo. Arthur Virgílio, por exemplo, que era líder do PSDB no Senado, disse em entrevista às Páginas Amarelas da Veja: “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um líder de massas, o maior que o país já teve desde Getúlio Vargas. Ele sempre foi identificado com causas populares. É o principal protagonista da história das eleições presidenciais. O carisma dele é inegável”.

Fernando Henrique Cardoso, que naquele período vivia levando bordoada todos os dias do presidente que o sucedeu, revelou que seu maior mérito político havia sido “o de vencer Lula, um líder carismático”.

Seus discursos empolgavam. Sabia exatamente como adaptar a mensagem de acordo com o tipo de plateia que encontrava. Ninguém conseguia contestá-lo.

A oposição vivia na esperança de “um fato novo” para poder atacá-lo, mas não desvendavam argumentos para combatê-lo. Como confrontar um político com aquela popularidade? Praticamente o país todo o aplaudia. Nem as acusações pesadas que sofreu no julgamento do mensalão conseguiram abalar seu prestígio.

Todos os fatores contribuíam para que se mantivesse inatingível. A economia mundial favorável dava a ele o respaldo de que precisava para mostrar à população que seu governo era competente.

A maneira como proferia os discursos era primorosa. Usava uma linguagem que todos entendiam com facilidade, por mais incultas e despreparadas que as pessoas fossem. Diante da massa, se valia de histórias e metáforas. Comparava os assuntos mais complexos com futebol ou churrasco. Conseguia assim tocar o coração dos ouvintes.

Depois que saiu da prisão, entretanto, sua oratória perdeu o encanto. Continua sendo aplaudido por aqueles que o veneram. Pode dizer o maior disparate que seus seguidores irão ovacioná-lo. Aquela quase unanimidade de admiradores, todavia, desapareceu.

Seus discursos tornaram-se repetitivos e deixaram de ser atraentes. Até as pessoas que o cercam perceberam que suas mensagens não têm consistência. Tanto assim que procuram impedir que fale de improviso, pois todas as vezes em que se apresenta sem um apoio escrito acaba por dizer o que não deveria. E pensar que os discursos improvisados eram sua maior habilidade de comunicação.

Talvez nem tenha sido sua capacidade oratória que deteriorou, mas sim a percepção do público que mudou. Há 15 anos a maioria das pessoas não se interessava tanto por política. O público aceitava sem resistências os discursos que ouvia. Hoje, provavelmente, devido às mídias sociais, a população está mais inteirada dos acontecimentos do país. Qualquer informação pode ser checada imediatamente.

Os discursos de Lula, que eram proferidos sem nenhuma contestação, agora são analisados com lupa. Antes mesmo de ele terminar de falar, as pessoas já verificaram se a mensagem encontra respaldo na realidade.

Qualquer deslize, por mais insignificante que possa parecer, passa a ser criticado. E se os dados não forem confirmados, ele é obrigado a se explicar.

Lula envelheceu. Suas ideias se tornaram ultrapassadas, desconectadas da realidade. A estratégia de procurar o tempo todo um culpado pelos resultados negativos deixou de funcionar. Toda vez que tenta culpar o ex-presidente, como cansou de fazer com Fernando Henrique Cardoso, ou apontar o dedo para o presidente do Banco Central, suas palavras não encontram eco.

Parece que não há mais como resolver. Ele piorou e a população ficou atenta. Os brasileiros hoje, em certas circunstâncias, sabem mais sobre política que de futebol. Situação impensável até há poucos anos.

A única saída para o presidente é se dedicar a ler os discursos que escrevem para ele, porque se depender do que diz espontaneamente é quase certeza de arrumar encrenca, como tem ocorrido com boa frequência.

Com o país sem rumo, debaixo de uma política econômica que não respeita os limites de gastos, e tenta acertar as contas na base do aumento de impostos, não há discurso que consiga se sustentar. Nem mesmo se alguém redigir primorosas peças oratórias para que ele leia.

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