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As vantagens e riscos do uso de máximas, provérbios e pensamentos

As vantagens e riscos do uso de máximas, provérbios e pensamentos - Imagem: Reprodução / Freepik
As vantagens e riscos do uso de máximas, provérbios e pensamentos - Imagem: Reprodução / Freepik
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 15/09/2024, às 08h00


Há quem goste muito. Há quem deteste. As opiniões se dividem quanto à conveniência de usar ou não pensamentos, máximas e provérbios.

O crítico e dramaturgo Jules Lemaître utilizou, paradoxalmente, uma máxima para criticar esse recurso: “Os pensamentos e máximas são um gênero esgotado e um gênero fútil”.

Há quem admire, como Machado de Assis, um dos adeptos desse recurso: “Sentenças latinas, ditos históricos, versos célebres, brocados jurídicos, máximas, é de bom aviso trazê-los contigo para discursos de sobremesa, de felicitação e de agradecimento”.

Bom senso e adequação

Para reforçar os favoráveis, trazemos também a opinião do escritor e pesquisador Eno Teodoro Wanke: “Os provérbios são telegramas que os antigos nos deixaram para nos transmitir notícias de sua sabedoria”.

Afinal, diante dessas controvérsias, devemos ou não lançar mão de frases célebres nos textos que escrevemos e nos discursos que proferimos? Sim e não. Tudo depende de sua propriedade, bom senso e adequação. Não é porque alguns as desconsiderem que devemos fechar as portas. Também não vamos fechar os olhos e aceitá-las sem reserva porque certas pessoas as recomendem.

Excessos atrapalham

Os excessos quase sempre são condenáveis. Horácio já alertava: “Há uma medida em todas as coisas, existem afinal certos limites”. Se seguirmos esse ensinamento, não iremos transformar um discurso numa sequência indevida de citações. Alguns exageram, começando com uma informação e logo ilustrando com uma citação, desenvolvem uma tese mais adiante e dá-lhe nova citação.

Há casos em que as citações são usadas com tanta frequência que acabam por desinteressar os ouvintes. Mesmo que você aprecie citações, é importante evitar o uso excessivo para não enfraquecer a mensagem e prejudicar o interesse das pessoas. Devemos ter sempre em mente que a medida certa estimula o público ou o interlocutor a acompanhar o raciocínio.

Uma regra para reflexão

Embora você deva decidir sobre o que é ou não apropriado, uma boa regra para reflexão é lançar mão desse recurso para apoiar ideias, complementar ou ilustrar aspectos relevantes da mensagem, evitando assim que essas citações se transformem por si no conteúdo exposto.

Só o fato de se perguntar se valeria ou não a pena incluir determinado pensamento já constitui um bom passo para o acerto.

As frases que se transformaram em chavões beiram à vulgaridade. Algumas até representam um pensamento profundo, mas foram desgastadas pela repetição frequente. Não só a mensagem perde a força como também a imagem do orador fica comprometida. Essas ideias podem ser aproveitadas fazendo-se algumas adaptações.

Uma nova roupagem

Há maneiras criativas de revitalizar até mesmo as frases mais surradas, adaptando-as ao contexto, sem que percam o seu significado. Um exemplo disso ocorreu quando Nei Gonçalves Dias paraninfou as turmas do nosso curso de oratória, transformando uma frase comum em uma mensagem fascinante.

A frase desgastada em muitas formaturas é a seguinte: “Esta solenidade provoca ao mesmo tempo o sentimento de alegria e o sentimento de tristeza; de alegria pela conclusão de uma etapa importante na vida de todos os alunos, recebendo o certificado de conclusão do curso; de tristeza pela despedida de colegas que se tornaram amigos tão caros”.

A criatividade do orador

A mesma ideia foi transmitida de forma criativa pelo orador: “Friedrich Nietzsche, o grande filósofo e pensador alemão, desenvolveu uma tese que retrata fielmente os momentos vividos pelos alunos deste curso. Segundo ele, a vida apresenta momentos semelhantes ao da criança quando está na praia e ri e pula de alegria quando as ondas trazem as conchas coloridas para a areia, e chora de tristeza quando as ondas levam as conchas coloridas de volta para o mar.

Esta solenidade de formatura trouxe as conchas coloridas de cada um, dando alegria a todos pelo simbolismo da conquista da comunicação, mas deu também a tristeza, porque, assim como o mar leva as conchas coloridas, ao final do último discurso, levará embora o convívio desta amizade tão bonita”.

O perigo dos chavões

Esse é um cuidado que devemos tomar: fugir de frases que se enfraqueceram com o tempo como: quem não se comunica se trumbica, o sol nasceu para todos, a união faz a força, uma andorinha só não faz verão, e outras pérolas que vivem rondando conversas e auditórios.

Se julgar que uma dessas frases pode reforçar sua tese e ajudar a entreter ou persuadir os ouvintes, procure vesti-la com uma roupagem nova, diferente, criativa.

Portanto, máximas, provérbios e pensamentos poderão constituir excelentes recursos de comunicação, desde que usados com critério, sensibilidade, inteligência e criatividade. Podemos concluir que o valor de uma máxima está na sua capacidade de tocar o público, desde que usada com objetivo determinado e atualidade.

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