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Imaginar que o chefe do Grupo Wagner foi assassinado é leviandade?

Líder Grupo Wagner - Imagem: Reprodução | Telegram
Líder Grupo Wagner - Imagem: Reprodução | Telegram
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 27/08/2023, às 06h31


A notícia surpreendeu o mundo. Yevgeny Prigozhin, chefe do Grupo Wagner, e outras nove pessoas, segundo autoridades russas, morreram no acidente de avião fabricado pela EMBRAER.

Pelo fato de o líder mercenário ter conduzido uma revolta em junho, as informações que circularam, sem nenhuma comprovação, é de que ele havia sido jurado de morte. O próprio diretor da CIA, William Burns, ajudou a colocar mais combustível nessa fogueira ao afirmar: “Se eu fosse Prigozhin, não demitiria meu provador de comida”. Embora exista uma guerra de narrativas que cerca o conflito entre Rússia e Ucrânia, não é para se desconsiderar um alerta desses.

Se perguntarmos às pessoas o que acham do acidente, provavelmente, quase todas, talvez até influenciadas pelo noticiário internacional, dirão que Prigozhin foi executado. Fazer esse tipo de afirmação, entretanto, é temerário, tendo em vista que as investigações para apurar o ocorrido ainda estão em andamento. Não se deveria descartar, portanto, a possibilidade de ser apenas uma casualidade.

Essas coincidências com mortes de pessoas que ousaram bater de frente com poderosos ocorreram com boa frequência ao longo da história. Ainda estão em nossa mente as mortes dos genros de Sadam Hussein, em Bagdá. Eles haviam fugido do Iraque para a Jordânia e foram considerados desertores. Temendo que pudessem revelar segredos de Estado, o ditador Sadam mostrou-se compreensivo. Concedeu perdão e ofereceu uma boa recompensa em dinheiro e duas toneladas de ouro. Diante de gesto tão caridoso retornaram à terra natal. Assim que chegaram foram executados.

Seria possível relacionar outros incontáveis eventos - coincidências ou não - que marcaram a história. No ano 44 a.C. Júlio César foi traído por um grupo de senadores sob a liderança de Brutus, e assassinado a facadas. Até hoje há dúvida se foi Henrique II quem mandou matar Thomas Becket, Arcebispo de Canterbury, na Inglaterra. Sua animosidade com o rei se deu por disputas de poder e domínio jurisdicional. Em 1940 foi a vez da morte de Leon Trotsky. Depois de perder a disputa pelo poder, foi exilado e assassinado por um agente soviético. Morrer assim depois de ter enfrentado Stalin não parece ter sido um mero acaso.

São apenas alguns exemplos de como aqueles que enfrentam os detentores do poder acabam, coincidentemente, sendo assassinados. A relação dos casos conhecidos é extensa, mas pode ser ampliada de forma expressiva se considerarmos que outras pessoas também desapareceram em situações misteriosas, que nunca foram devidamente esclarecidas.

O caso do líder mercenário Yevgeny Prigozhin é um daqueles que tem tudo para ficar oficialmente para a história como vítima de um acidente aéreo. Ninguém poderá afirmar que não tenha sido assim. Há informações aqui e ali de especialistas mostrando que pelas imagens divulgadas da queda do avião, descendo em círculos, algo fora do normal ocorreu. Disse Miles O’Brien, repórter científico e aeroespacial em uma entrevista: “Uma aeronave como esta não cai catastroficamente do céu sem que algo muito incomum aconteça”. E acrescentou com um parecer ainda mais preocupante: “Pode ter sido provocado por uma explosão dentro ou fora da aeronave, por um explosivo a bordo, ou a aeronave foi atingida por um míssil”.

O presidente russo Wladimir Putin procurou não dar informações conclusivas. Escolheu bem as palavras e disse que as investigações já haviam sido iniciadas e iriam continuar até o final. E, como era de se esperar, declarou ainda que os procedimentos necessários para concluir os levantamentos serão demorados.

Pelo sim, pelo não, de coincidência em coincidência, a história mundial vai sendo escrita. Passado um tempo, quando as novas gerações tiverem acesso a essas narrativas, de acordo com o contexto e a circunstância que estejam vivendo, levando em conta as conveniências de quem esteja no poder, terão como informação um ou outro viés. Alguns acreditarão nas coincidências, pois esses fatos ocorrem mesmo. Outros colocarão em dúvida o que ouvirem ou lerem, já que coincidências demais, com poderosos envolvidos, talvez sejam coincidências além da conta.

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