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É fundamental fazer ajustes no discurso observando a reação dos ouvintes

É fundamental fazer ajustes no discurso observando a reação dos ouvintes - Imagem: Freepik
É fundamental fazer ajustes no discurso observando a reação dos ouvintes - Imagem: Freepik
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 23/07/2023, às 05h08


O orador não pode negligenciar. Para garantir o sucesso da apresentação precisa ser diligente na análise dos ouvintes. Todos os aspectos são relevantes nessa avaliação - a faixa etária, o nível intelectual, e o conhecimento que a plateia tem sobre o assunto a ser abordado. Ao identificar as características predominantes do público e as aspirações das pessoas que irão ouvi-lo, estará em condições de acertar a sintonia com a assistência e determinar o caminho seguro para transmitir a mensagem.

Dificilmente será possível encontrar pessoas com perfil idêntico. Por isso, o que deve ser levado em consideração são os aspectos predominantes. Dessa forma, com pequenos acertos, todos poderão ser contemplados com a mensagem.

Esse estudo preliminar poderá dar ao palestrante um nível de acerto elevadíssimo. Embora não haja pesquisa a esse respeito, não seria exagero afirmar que talvez supere os 90 ou 95%. É a segurança de que a forma de abordar a mensagem irá ao encontro do perfil da plateia.

A dedução lógica e imediata é a de que se o acerto será nesse percentual, existe um risco de equívoco entre 5 e 10%. Essa falha pode ser equacionada durante a própria apresentação. Desde o princípio, já nas primeiras palavras, o orador precisa ficar atento às reações dos ouvintes. Se, por exemplo, havia planejado uma exposição mais técnica, e a plateia não reage de acordo com suas expectativas, ele deverá redirecionar a fala para um discurso com histórias e interações mais frequentes, ou vice-versa. Dessa forma, em pouco tempo poderá eliminar os defeitos da avaliação preliminar e estabelecer um novo canal livre de comunicação.

Certa vez, recebemos um grupo de 20 executivos para participar do curso de oratória. Como sempre fazemos, analisamos as fichas de inscrição de cada um dos participantes. Eram todos jovens. Para dar ideia, o mais velho tinha 29 anos, era o VP da empresa. Os outros na faixa de 26 a 28 anos, ocupando as funções de diretores e gerentes. O diagnóstico foi rápido e muito simples. Deveríamos levar as aulas de maneira leve e bastante descontraída. Até com a roupa fomos mais à vontade, sem formalidade.

Um bom indicador da aceitação dos ouvintes é o humor. Na ocasião, percebemos que os alunos não estavam reagindo nem diante das brincadeiras que normalmente dão resultado em praticamente todos os ambientes. Enganáramos na avaliação daqueles profissionais.

Notamos que mesmo sendo jovens, provavelmente pelas atividades que exerciam, tornaram-se muito amadurecidos. Deixamos de lado a descontração e o humor que havíamos adotado e passamos a falar de um jeito mais sério, com foco em argumentos mais racionais e assertivos, de acordo com as exigências da vida corporativa. A resposta foi rápida, com excelente interação do grupo. No final, fizeram uma avaliação do treinamento, e gabaritou com nota máxima.

Se tivéssemos insistido na primeira análise, e não observássemos o comportamento dos ouvintes já nos instantes iniciais, provavelmente, o curso não conseguiria a excelência que atingiu.

Em apresentações presenciais, essa leitura é mais fácil, pois o orador, a partir do contato visual, avalia de forma mais concreta a reação do público. Até intuitivamente, nota como as pessoas estão se comportando. Se mexem no celular, se estabelecem conversas paralelas, se saem da sala com frequência, se perdem a atenção. Nas reuniões online, essa observação torna-se mais complexa. Ainda que seja possível ver as pessoas nos quadradinhos na tela, essa leitura periférica fica prejudicada. Por isso, nesse caso, o ideal é estudar com mais profundidade as características dos ouvintes, de tal maneira que o risco de equívoco possa ser reduzido de 5 para 1 ou 2%. Ainda que seja mais difícil fazer a avaliação do público nos contatos remotos, com esse percentual mais baixo de risco de engano, será possível promover os acertos necessários.

Portanto, para ter sucesso na apresentação, é fundamental avaliar bem e com antecedência as características e aspirações dos ouvintes. Tão importante quanto essa análise antecipada, entretanto, é a observação das reações das pessoas para se certificar se houve ou não alguma falha nesse estudo. Essa leitura dirá ao orador que adaptação deve ser efetuada já diante do público. 

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