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Bolsonaro fará hoje na Paulista um dos discursos mais importantes da sua vida

Bolsonaro na Av. Paulista. - Imagem: Reprodução | Redes Sociais
Bolsonaro na Av. Paulista. - Imagem: Reprodução | Redes Sociais
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 25/02/2024, às 07h45


Bolsonaro convocou uma megamanifestação para este domingo (25) na Av. Paulista. Mais de uma centena de líderes políticos, entre governadores, senadores e deputados estarão presentes no ato. Tudo indica que será a maior participação popular em um evento já registrado no país.

O ex-presidente insistiu para que os manifestantes se comportassem de forma ordeira e pacífica. Pediu para que não portassem faixas ou cartazes contra quem quer que seja. Deixou claro que são dois objetivos do encontro: dar sua versão das acusações que são feitas contra ele e mostrar para o mundo a força daqueles que comungam os mesmos ideais: Deus, família, pátria e liberdade.

O silêncio

Para quem resolveu permanecer em silencio durante o depoimento que prestou na Polícia Federal nesta quinta-feira (22), esse será um enorme desafio. Terá de fazer a sua defesa sem atacar os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). É difícil imaginar como essa proeza poderá ser concretizada

Suas palavras poderão amenizar o sentimento de frustração daqueles que esperavam que se manifestasse durante o depoimento desta semana. O silêncio do ex-presidente os incomodou.São aqueles seguidores que não viam a hora de o ex-presidente explicar o que realmente aconteceu. Supunham que assim poderia esclarecer de uma vez por todas cada uma das “narrativas” criadas contra ele, apenas com o objetivo de prejudicá-lo politicamente.

Quem cala consente

Desde sempre, ouvimos a máxima que afirma “quem cala consente”. Está no imaginário popular a convicção de que, se a pessoa não tiver o que esconder, se for inocente das acusações que lhe são imputadas, não há o que temer. Afirmam que, ao responder às perguntas formuladas, terá boa oportunidade de dar sua versão dos fatos e comprovar sua inocência.

No caso de Bolsonaro, só se acalmaram quando seu advogado Paulo Costa Bueno explicou os motivos pelos quais ele ficou calado. Revelou que o silêncio durante o depoimento à Polícia Federal se deveu ao fato de a defesa não ter tido acesso à integralidade dos autos do inquérito.

O advogado

Segundo o defensor, “A falta de acesso a esses documentos, especialmente as declarações do tenente-coronel Mauro Cid e as mídias eletrônicas obtidas dos telefones celulares de terceiros e computadores, impede que a defesa tenha o mínimo conhecimento de por quais elementos o presidente é hoje convocado a esse depoimento”.

Em seguida, para que não pairasse dúvidas a respeito da decisão tomada, enfatizou: “Que fique claro – o único motivo pelo qual fez uso do silêncio foi dado ao fato de ele responder a uma investigação semi-secreta”.

A Constituição

O silêncio é um recurso contemplado pelo artigo 5º, inc. LXIII da Constituição. Portanto, o fato de o acusado permanecer calado não pode servir de motivo para inferir que seja culpado. Ao não poder exercer o direito de ampla defesa, já que não teve acesso aos documentos com informações que poderiam prejudicá-lo, não há como censurar sua decisão.

Mesmo que essas informações fossem de seu conhecimento, ainda assim teria tido o direito de permanecer em silêncio. Afora o fato de correr o risco de ser visto com desconfiança por quem o apoia, continuaria sendo uma estratégia de defesa.

Mesma situação

Os adversários de Bolsonaro se alvoraçaram em criticá-lo pela atitude adotada. Não hesitaram em dizer que esse é o comportamento de quem tem culpa a esconder. Talvez tenham se esquecido de que Lula, em quem depositam tanta confiança em sua inocência, no dia 5 de abril de 2019, ao prestar depoimento na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, se valeu desse mesmo expediente, com os mesmos argumentos do ex-presidente.

De acordo com a defesa do petista, a recomendação de permanecer em silêncio se deveu ao fato de não terem tido acesso antecipado ao conteúdo da investigação. Não se trata, portanto, de ser culpado ou inocente, mas sim de um direito constitucional. Serve para um e para outro, independente de circunstância ou de viés ideológico.

A oportunidade

Neste domingo, 25, portanto, durante as manifestações, Bolsonaro terá oportunidade de esclarecer tudo o que permanece obscuro nas acusações que fazem contra ele. Diante de tantas pessoas e debaixo do olhar crítico da imprensa nacional e mundial, terá chance de demonstrar sua inocência.

Terá, entretanto, de usar o palanque pisando em ovos. Não poderá, como fez no passado, xingar um ministro de canalha. A sua situação, que já não é tão confortável, poderia se tornar ainda pior. Terá de fazer verdadeiro malabarismo com as palavras já que, para discursar em defesa própria, precisará, de alguma maneira, criticar aqueles que o acusam.

Segundo alguns órgãos de imprensa, os ministros estão atentos ao que ele irá dizer. Certos jornalistas chegaram mesmo a afirmar que, se Bolsonaro disser um ai contra a Alta Corte, será preso imediatamente.

A imprensa

Como nenhum ministro passou essa informação, contamos apenas com o que disseram as notícias, que, como sabemos, vez ou outra carregam nas cores e fazem afirmações seguindo suas preferências políticas, de acordo com o que interpretam dos fatos.

Nenhum pronunciamento do ex-presidente foi tão aguardado como o de hoje. A expectativa é de que suas palavras se transformem num divisor de águas, refutando o que já foi dito até aqui para acusá-lo e mostrando o que efetivamente ocorreu. Não dá para deixar de acompanhar o que irá acontecer.

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