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Bolsonaro e Trump usam o mesmo argumento para se defender

Jair Bolsonaro e Donald Trump. - Imagem: Reprodução | Twitter
Jair Bolsonaro e Donald Trump. - Imagem: Reprodução | Twitter
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 11/02/2024, às 08h38


Uma das palavras mais citadas na imprensa nos últimos dias foi “golpe”. Os governistas, não perdem oportunidade de dizer aos quatro cantos que as ações de 8 de janeiro foram um golpe, ou para não enfraquecer o próprio argumento, tentativa de golpe.

Não é, entretanto, o que a maioria da população pensa. Segundo resultado da pesquisa realizada pela Atlasintel, no dia 8 de janeiro, exatamente no dia em que os governistas promoviam evento para relembrar os “atos antidemocráticos”, apenas 18,8% dos entrevistados disseram acreditar que o vandalismo ocorrido nos prédios públicos se caracterizou como golpe.

A oposição defende a mesma tese. Dizem os adversários do governo que naquele dia aconteceu uma baderna. Afirmam também que os manifestantes sempre se comportaram de forma ordeira. Tanto que nem sujeira deixavam por onde passavam. Não são poucos aqueles que acreditam ter havido infiltração de grupos que desejavam incriminar Bolsonaro e seus seguidores.

O mais curioso nessa história é que os apoiadores do ex-presidente Donald Trump, nos Estados Unidos, usam o mesmo argumento para defendê-lo. Um dos motivos que os Democratas alegam para impedir a candidatura do líder Republicano é o episódio de 6 de janeiro de 2021.

Naquela oportunidade, partidários do candidato derrotado foram convocados por ele para se reunirem em Washington, D.C. para mostrar seu descontentamento contra o resultado das eleições do ano anterior. Incitados pela ideia de Trump de que havia ocorrido fraude nas votações, queriam pressionar o vice-presidente Mike Pence e os congressistas a rejeitar a vitória de Joe Biden.

Os manifestantes invadiram as dependências do Capitólio e o ato se prolongou da tarde até o início da noite. Somente na madrugada é que os policiais conseguiram retomar o controle da situação. Como consequência, o prédio foi bastante depredado. Quatro manifestantes e um policial morreram no confronto. Trump foi acusado de incitar as pessoas para que agissem daquela maneira. Ele sempre negou ter tido qualquer tipo de participação no que ocorreu.

A oposição ao ex-presidente bate nessa tecla de maneira recorrente desde a sua saída da Casa Branca. Tentam assim impedir que ele volte a ocupar a presidência. A Suprema Corte dos Estados Unidos está decidindo se Trump pode ou não concorrer nas próximas eleições. A discussão é sobre a iniciativa do Colorado ter tirado o nome dele das primárias do partido Republicano naquele estado.

Durante os debates, Jonathan Michell, advogado do ex-presidente, entre outros argumentos, enfatizou que não houve insurreição no 6 de janeiro, mas sim um tumulto. Sua tese se apoia no fato de que não ocorreu uma tentativa organizada de derrubar o governo por meios violentos.

É uma enorme coincidência, pois é o mesmo argumento utilizado para desqualificar os atos de 8 de janeiro em Brasília. Alegam alguns juristas, especialmente aqueles que defendem a posição de Bolsonaro, que para existir um golpe há necessidade de liderança, forte poder bélico e apoio das Forças Armadas. Nenhum desses requisitos parece ter sido contemplado para que aquela baderna pudesse receber a chancela de um golpe.

Essa questão se mostra interminável. Nos últimos dias a Polícia Federal cumpriu 33 mandados de busca e apreensão, quatro mandados de prisão preventiva e 48 medidas cautelares com diversas prisões. A ordem foi dada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) para ser cumprida em nove estados e o Distrito Federal.

De acordo com notícias divulgadas, a Operação Tempus Veritatis tenta descobrir se o grupo investigado atuou para disseminar a ideia de que haveria fraude nas eleições de 2022. Dessa forma, tentariam inviabilizar o pleito e justificar uma intervenção militar.

De posse de farto material, agora poderão apurar se todas essas acusações procedem. Muitos oposicionistas alegam que todo “esse espetáculo midiático” tem objetivo político. Segundo acreditam, querem enfraquecer a imagem de Bolsonaro para diminuir sua influência nas próximas eleições.

Os parlamentares que compõem a ala conservadora do Congresso reagiram. Pedem que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, tome uma posição firme, pois, se não o fizer, o país ficará cada vez mais sob o poder do Judiciário.

Como os acusados são adversários da atual gestão, os governistas insuflam ainda mais essas ações, já que assim estariam combatendo aqueles com os quais precisarão concorrer no próximo pleito.

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