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Criação do homem, sua vida e ciclicidade

Criação do homem. - Imagem: Reprodução | Pixbay
Criação do homem. - Imagem: Reprodução | Pixbay
Rav Sany Sonnenreich

por Rav Sany Sonnenreich

Publicado em 17/10/2022, às 08h33


Ao recomeçarmos o ciclo de leitura da Torá (Bíblia), voltamos à primeira porção, Bereshit, Gênesis, que começa com a conhecida história da criação do mundo. Quando se trata da humanidade, o texto afirma: “D'us criou o homem à sua imagem; à imagem de D'us o criou” ( Gênesis 1-27).

Segundo o rabino Joseph Soloveitchik, autoridade e filósofo rabínico do século XX, o termo Tsélem Elokim “Imagem de D'us” nessa narrativa incorpora a ideia de que, assim como o Eterno, o homem se esforça para criar. De fato, a tradição judaica ensina que os seres humanos foram projetados para serem criadores e parceiros do Todo Poderoso na melhoria do mundo. Na minha visão, essa passagem serve como um desafio e incentivo ao homem para se espelhar em D’us, criando a todo instante.

Essa visão explica o motivo de nós, humanos, sentirmos um apego às nossas obras de criatividade que se assemelha ao apego de D'us a nós, à humanidade. As obras artísticas são vistas como filhas de seus criadores humanos da mesma forma que o texto de Gênesis entende os humanos como filhos de D'us.

A palavra portuguesa criar deriva do verbo latino creo, que significa “dar à luz”. A ideia é que todos os tipos de autores essencialmente dão à luz as suas criações artísticas.

O texto da criação em Gênesis também esclarece que a capacidade humana de se engajar na expressão, inclusive por meio da habilidade artística, é dotada de uma fonte externa. O versículo diz: “O Senhor D'us formou o homem do pó da terra. Ele soprou em suas narinas o sopro de vida e o homem tornou-se um ser vivente” (Gênesis, 2:7). De acordo com a tradição rabínica, a frase “o sopro da vida” é entendida como sendo que D'us soprou seu próprio sopro nas narinas de Adão, assim infundindo os humanos com um tipo especial de alma que os capacita a falar.

Rashi, o grande comentarista da Torá, francês do século XI, explica que a alma do homem é mais viva do que a alma dos animais porque a alma do homem contém os super poderes Divinos da fala e do raciocínio. A fala é uma outra maneira pela qual o homem espelha D'us. 

D'us “falou” e criou o mundo à existência sendo que cada ato criativo precede uma declaração D’Ele e a criatividade humana é um ato de fala.

Outro paralelo significativo entre a criatividade divina e humana aparece em Gênesis 3:19, afirmando que D'us criou os humanos do pó e eles voltam ao pó. Essa noção de ciclicidade também é comum nas discussões sobre a criatividade humana. 

O poeta chileno Pablo Neruda ficou muito satisfeito quando soube que um trabalhador desconhecido havia ouvido seus poemas porque isso era um sinal de que seu dom artístico estava sendo direcionado de volta ao próprio público que lhe serviu de inspiração. O dom de um artista “deve sempre se mover”. Isso abraça esse conceito de ciclicidade da criação decorrente do texto da criação divina.

A criatividade humana resulta em obras que oferecem importantes fontes de esperança e renovação. O desejo de criar é um dom valioso que deve ser nutrido e valorizado e essas passagens iniciais de Gênesis oferecem lições importantes sobre a criatividade humana para todos nós.

Use seus super poderes divinos hoje mesmo e comece a CRIAR!

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