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Nem Biden nem Trump. Será?

Apesar da popularidade do Presidente Biden em queda, as eleições de meio de mandato que ocorreram no último dia 08 não foram tão desastrosas como previstas

Apesar da popularidade do Presidente Biden em queda, as eleições de meio de mandato que ocorreram no último dia 08 não foram tão desastrosas como previstas - Imagem: reprodução Instagram
Apesar da popularidade do Presidente Biden em queda, as eleições de meio de mandato que ocorreram no último dia 08 não foram tão desastrosas como previstas - Imagem: reprodução Instagram
Dennis Munhoz

por Dennis Munhoz

Publicado em 15/11/2022, às 15h49


Apesar da popularidade do Presidente Biden em queda, quer seja pela inflação, quer seja por sua postura insegura e constantemente questionada pelo eleitor norte-americano, as eleições de meio de mandato que ocorreram no último dia 08 não foram tão desastrosas como previstas.

Muitos analistas previam derrota acachapante para o partido democrata e para o atual Presidente, na câmara dos deputados e senado, todavia isto não ocorreu.

Em que pese a vitória republicana na câmara dos deputados, não ocorreu a “goleada” esperada pelo ex-presidente Donald Trump e maioria do partido republicano. Perder o controle desta casa é muito ruim para o Presidente Biden, que além de enfrentar a resistência dentro do próprio partido democrata, inflação, juros altos e economia em retração, terá outra parada indigesta: negociar com os republicanos, oposição ferrenha e com sede de poder.

Outro aspecto muito relevante nesta derrota diz respeito às comissões da câmara. As investigações sobre a invasão do Capitólio em janeiro de 2021 podem ficar esquecidas e sem muita movimentação, enquanto instauração de comissão para investigar o suposto envolvimento do filho do Presidente, Hunter Biden, com a Rússia deve atrair o foco da maioria republicana que ditará o ritmo. Isto poderá provocar “sangramento” lento e eficaz na atual administração Biden, que gastará mais tempo se defendendo e tendo que negociar cada vez mais.

A maioria dos eleitores já manifestou a contrariedade a possível reeleição do atual Presidente, tornando improvável o partido democrata insistir nesta estratégia. Muitos candidatos democratas ao Senado e Câmara dos Deputados procuraram se afastar da imagem do Presidente e atual momento econômico para manter as probabilidades de eleição. Ele foi pouco requisitado para comícios e concentrações, muito diferente do ex-presidente Obama que foi mais acionado pelos candidatos.

Por outro lado, as eleições não foram o mar de rosas previsto pelo ex-presidente Donald Trump, que alardeava vitória esmagadora do partido republicano e os candidatos diretamente por ele apoiados. A vitória apertada na Câmara e a disputa extremamente acirrada no Senado, inclusive com o segundo turno no Estado da Georgia, tiraram o ex-presidente da zona de conforto e acenderam a luz amarela para sua equipe.

Parece que os eleitores não transferiram tantos votos como o previsto para os candidatos diretamente apoiados por Donald Trump, principalmente aqueles que mantém o discurso de fraude nas eleições de 2020. Como o ex-presidente não é unanimidade dentro do partido republicano, os concorrentes internos ficaram mais fortes e animados.

Quem ganhou com estas eleições?

Ron DeSantis, Governador reeleito da Flórida com muita vantagem e aliado de Donald Trump. Venceu com facilidade o ex-governador Charlie Crist, democrata e ligado ao Presidente Biden, mantendo suas fortes posições contra aborto, liberação de drogas, valores familiares e conservadorismo que agrada a boa parte do eleitorado norte-americano, inclusive aqueles que votaram em Trump apesar de não concordarem com algumas posturas do ex-presidente.

Muitos analistas acreditam que a vez de DeSantis seria em 2028, mais maduro e sem a sombra de Trump, todavia o momento político do ex-presidente não é muito favorável, quer seja pelas investigações em curso como dos documentos confidenciais encontrados em sua casa em Mar-a- Lago, envolvimento com a invasão do Capitólio em 06 de janeiro de 2021, supostas fraudes fiscais de suas empresas e até alegado assédio sexual na década de 80, podem facilitar em muito as pretensões até de leias escudeiros como o Governador Da Flórida.

A mensagem passada pelos eleitores indica o descontentamento com a administração democrata, desgaste da imagem do atual Presidente e vontade de mudanças sem muito envolvimento com o passado. Porta aberta para políticos não desgastados e mais voltados para resolução dos muitos problemas internos dos Estados Unidos.

Logicamente que o ex-presidente Trump irá lutar com todas as armas para sair sem muitos danos das investigações e bloquear qualquer pretensão a candidatura presidencial dentro do partido republicano que não seja a dele própria.

Ele possui capilaridade muito grande e boa fatia do eleitorado que o apoia sem restrições, mas cabe a seguinte indagação: Será isto o suficiente para vencer a disputa interna do partido e anular as fortes denúncias apoiadas pelo partido democrata?

Apesar da boa administração do Governador DeSantis em importante Estado norte-americano, ele enfrenta rejeição em outros Estados devido à sua postura contundente na pandemia da COVID-19, onde foi contra o fechamento total e uso de máscaras, além de proibir escolas da Florida abordar assuntos sobre orientação sexual e identidade de gênero no ensino primário. Agradou a muitos, mas também criou vários problemas, inclusive com o Grupo Disney que alavanca o turismo que é a principal fonte de renda do Estado.

Tudo indica que a disputa mais acirrada ocorrerá internamente no partido republicano, mesmo porque até agora o partido democrata não parece ter alguém com força para encarar a disputa. Ainda temos dois anos pela frente e muita coisa pode mudar.

Revisão: Moacyr Minerbo

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