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Direitos Humanos

Médicos relatam dificuldades para salvar Yanomamis e alertam para novas tragédias

Os profissionais de saúde convivem com roubo de alimentos, ameaças e recursos escassos

Médicos atendem população yanomami em comunidades de Roraima - Imagem: divulgação/Ministério da Saúde
Médicos atendem população yanomami em comunidades de Roraima - Imagem: divulgação/Ministério da Saúde

Mateus Omena Publicado em 08/02/2023, às 10h33


O Brasil enfrenta uma grave crise humanitária e sanitária, apresentada por casos de desnutrição, fome e mortes de povos yanomamis em Roraima.

Diante da situação, equipes médicas trabalham dentro da Terra Indígena (TI) Yanomami desde 30 de janeiro - quando o problema foi revelado - para dar assistência aos povos locais, mas encaram sérias dificuldades no atendimento e na segurança. Além disso, a população ainda pode ficar sem ajuda necessária para sobreviver.

De acordo com a agência Deutsche Welle,apenas um médico, uma enfermeira e três técnicos de saúde estavam disponíveis no território indígena na última semana, perto da fronteira brasileira com a Venezuela, onde vivem cerca de 30 mil indígenas em situação de risco.

A equipe ficava alocada no polo-base de saúde de Surucucu — a 270 km da capital Boa Vista ou duas horas de viagem em um avião de médio porte —, e se desdobrava dia e noite para cuidar dos 200 indígenas que estavam internados no local, que tem estrutura para atender somente 25 pacientes.

"Neste momento, os profissionais de saúde têm de escolher quem salvar. Eles removem de Surucucu para Boa Vista primeiro quem eles acham que tem maior chance de sobrevivência", relatou o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami, Junior Hekurari.

A equipe médica do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) também enfrentava a demora da chegada a Surucucu dos primeiros voluntários da Força Nacional do SUS, convocada pelo Ministério da Saúde, depois da declaração de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional na TI Yanomami, no dia 20 de janeiro.

Segundo Hekurari, o primeiro voo da Força Aérea Brasileira (FAB) que levaria 16 voluntários da Força Nacional do SUS ao polo-base de Surucucu chegou à terra indígena com três dias de atraso, e com menos profissionais do que o esperado, apenas quatro enfermeiros e três médicos. Como não há hospital dentro do território yanomami, os casos mais graves continuarão sendo levados para Boa Vista.

“Faltam equipamentos nas unidades de saúde da terra yanomami, faltam medicamentos, e não há profissionais para trabalhar nesses lugares. A saúde entrou em colapso no território yanomami e não é de hoje”, criticou Dário Kopenawa Yanomami, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami .

Mais problema pela frente

Em meio ao cenário caótico provocado pela crise sanitária, as lideranças indígenas locais denunciaram recentemente novas ameaças de morte desde que foi declarada a emergência no território.

Em 30 de janeiro, uma comitiva do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania embarcou para Boa Vista para apurar violações contra defensores locais de direitos humanos e chefes de grupos indígenas.

O Ministério da Justiça apontou também para escalada de violência contra as comunidades desde que a pasta fechou o espaço aéreo no dia 1º de fevereiro, após decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o texto, o governo federal tem a autorização para neutralizar aeronaves e equipamentos ligados ao garimpo e permite a Força Nacional de Segurança proteger equipes de saúde no território Yanomami.

Sônia Guajajara também sobrevoou o território yanomami no último domingo (5) e visitou algumas comunidades. Ela informou à imprensa que os garimpeiros que não conseguiram fugir da terra indígena desde que a Polícia Federal (PF) entrou na região estão se deslocando dos garimpos menores para os maiores.

A diretora de Promoção e Desenvolvimento Sustentável da Funai, Lucia Alberta, também relatou que o envio de cestas básicas foi suspenso temporariamente em duas regiões por causa dos garimpeiros, que têm roubado os alimentos dos indígenas.

“Por conta dessa pressão que os garimpeiros estão sentindo de não conseguirem mais levar os insumos para os garimpos [por causa do espaço aéreo agora controlado pelo Ministério da Justiça], eles estão buscando os alimentos que nós estamos enviando para os indígenas”.

As autoridades afirmaram também que o mercúrio usado no garimpo também contaminou os rios locais, que são essenciais para os yanomamis em suas atividades e subsistência. Para resolver o problema, o governo federal vai construir cisternas para armazenar água potável e perfurar poços artesianos nas aldeias, informou Sônia Guajajara. Ela não deu um prazo para início da ação.

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