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Crime

Vítimas de trabalho análogo à escravidão em vinícola relatam rotina terrível: "Era espancado"

O caso foi descoberto na última quarta-feira (22)

Vítimas de trabalho análogo à escravidão em vinícola relatam rotina terrível: "Era espancado" - Imagem: reprodução Rodoviária Federal via g1
Vítimas de trabalho análogo à escravidão em vinícola relatam rotina terrível: "Era espancado" - Imagem: reprodução Rodoviária Federal via g1

Vitória Tedeschi Publicado em 25/02/2023, às 11h10


Vítimas de trabalho análogo à escravidão em uma vinícola em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, dois baianos fugiram após presenciarem agressões físicas, verbais e ameaças de um empresário, que não teve o nome divulgado.

O caso foi descoberto na última quarta-feira (22), após a Polícia Rodoviária Federalresgatar mais de 200 trabalhadores da situação desumana.

No local, que antes era visto como uma oportunidade de trabalho e renda, os funcionários não tinham acesso a toalhas, lençóis ou talheres, e precisavam comer as "quentinhas"- geralmente estragadas - com as mãos.

As duas vítimas, dois homens amigos que saíram da Bahia juntos em janeiro de 2023 rumo a uma oportunidade de emprego de dois meses colhendo uvas na tal vinícola, souberam da vaga por meio do familiar de um deles, que mora no Estado há alguns anos.

A proposta inicial incluía alojamento, três refeições e um salário de cerca de R$ 4 mil pelos dois meses. Além disso, as passagens de ida e volta seriam pagas pela empresa. No entanto, ao chegar até o local, a realidade era totalmente outra.

"Chegamos lá com um grupo grande de pessoas. Quando vimos a situação, todos quiseram ir embora, mas a gente não tinha dinheiro para voltar", contou uma das vítimas ao g1, que preferiu não se identificar.

"Quando souberam que dei baixa na minha carteira [de trabalho], ele [suspeito] passou com a pistola com o cabo para fora para me intimidar. Apontavam a arma para irmos trabalhar, davam choque no pé. Era trabalho forçado", relatou.

Além das agressões, os dois ainda contaram que as jornadas de trabalho passavam de 15h por dia e muitos deles começavam a colheita nas primeiras horas da manhã e voltavam para o alojamento após 23h. No dia seguinte, o ciclo se repetia: "Acordavam a gente 4h da manhã, chamando a gente de demônio e presidiário. Nem força para trabalhar a gente tinha", disse um deles.

O alojamento tinha câmeras, era tudo monitorado. Se reclamasse de alguma coisa, espancavam a pessoa", contou uma das vítimas, que não foi identificada.

Segundo o g1, o responsável por recrutar e manter os trabalhadores é uma empresário baiano que não teve o nome divulgado. Ele foi preso após a Polícia Rodoviária Federal, mas foi liberado depois de pagar uma fiança de R$ 40 mil.

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