Diário de São Paulo
Siga-nos
Chocante

Empresário e gerente queimam mãos de funcionários como tortura

O inquérito foi concluído recentemente pelo Ministério Público do Trabalho

O crime aconteceu em Salvador (BA) - Imagem: reprodução/TV Globo
O crime aconteceu em Salvador (BA) - Imagem: reprodução/TV Globo

Mateus Omena Publicado em 04/10/2022, às 13h30


Os empresários foram indiciados pela Polícia Civil por tortura após queimarem as mãos de funcionários de uma loja. Os crimes aconteceram em Salvador, na Bahia.

O inquérito foi concluído e enviado ao Ministério Público da Bahia (MP-BA), na última quinta-feira (29), informou a TV Globo.

De acordo com a Polícia Civil, o empresário Alexandre Carvalho foi indiciado pelos crimes de constrangimento ilegal e exercício arbitrário. Já o gerente, Diógenes Carvalho, só responderá por tortura.

O laudo pericial do Departamento de Polícia Técnica (DPT) também confirmou que os funcionários sofreram tortura pelos empregadores. Um deles teve as mãos queimadas com o número 171, como punição pelo suposto furto de R$ 30 da empresa. No entanto, a vítima negou que tenha roubado o dinheiro.

William de Jesus teve as mãos queimadas e foi agredido com pauladas nas mãos e no corpo. O colega de trabalho dele, Marcos Eduardo Serra, também foi agredido a pauladas.

O caso foi denunciado pelos dois homens no mês passado. Os patrões, Alexandre e Diógenes Carvalho, foram ouvidos mais de uma vez pelo delegado Willian Achan, responsável pela investigação do caso. O dono da empresa e o gerente confessaram as agressões, mas afirmaram que não torturaram os jovens.

Por outro lado, o delegado afirmou que ainda não há elementos para pedir a prisão dos patrões das vítimas, no curso das investigações.

Em entrevista à TV Globo, as duas vítimas disseram que foram atacadas na própria loja onde trabalhavam, em uma emboscada armada pelos patrões. Mas, cada um deles foi agredido em um dia diferente. William contou como foi agredido.

"Começaram a falar que eu estava roubando, aí começaram as agressões, tanto física quanto verbal, fizeram aquela tortura. Só eu sei o que eu passei".

E acrescentou: "Brincaram comigo como se eu fosse um objeto. Acho que foi uma hora ou 40 minutos [de agressões], não sei, era muito doloroso para mim contar o tempo. Passei por muita dor e muito sofrimento. Eu pedi a todo instante para ele parar, pedia a todo momento pela minha vida e ele só me agredia".

Os dois homens contaram à polícia que os patrões proferiram insultos racistas. "Tentei sair, tentei me explicar a todo momento. Tentei conversar, mas ele estava com frieza. Ele sorria para mim e me agredia demais com palmatória, murros. A todo momento era só agressão. Eu chorava muito e pedia para ele não faz isso. Ele sorriu e disse que eu ia passar as coisas que os negros passaram [na escravidão]. Foi muito humilhante. Ainda me colocaram uma saia".

"Eu consegui fugir. Acho que se eu ficasse mais tempo eu não ia resistir, de tanta paulada. Ele me deu muita paulada, foi muita agressividade. Achei que não ia conseguir resistir. Eu não desejo a ninguém passar por isso".

Antes das queimaduras, os patrões ainda colocaram um pano na boca de William, para servir como mordaça e abafar os gritos dele.

"Não vi arrependimento no olhar dele, eu vi o querer fazer toda essa situação que ele fez comigo. Ele queimava com calma para eu sentir a dor. Eu gritava muito, apesar de eu estar com o pano a boca, para não fazer zoada, para não chamar atenção. Ele me queimava devagar, com aquela crueldade, ainda falando que não queria estar na minha pele".

A prisão

O delegado Willian Achan pediu a prisão dos gestores, que deve ser emitido somente quando a polícia estiver com mais provas do crime. No entanto, o agente explicou que a prisão ainda não foi oficializada porque um dos suspeitos se apresentou à polícia e se mostrou disposto a contribuir com as investigações, sem risco de fuga.

"Eles ficaram algum tempo trancafiados, sofreram agressões e outros tipos de situações mais graves, com queimaduras, mordaças, teve mãos e pés amarrados. Então, isso foi uma crueldade bem acintosa e que justifica a aplicação da Lei da Tortura", detalhou o delegado.

Já o Ministério Público do Trabalho (MPT) abriu o próprio inquérito para investigar os empresários.

De acordo com o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), a tortura é um crime hediondo e inafiançável, ou seja: não cabe indulto ou liberdade provisória. Mas, o delegado Willian Achan apontou que não há dúvidas de que houve a prática da tortura contra os jovens.

Compartilhe  

últimas notícias