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Luta por justiça

Patrícia Maldonado detalha morte da mãe e explica porque está cobrando Justiça: "Exijo punição correta"

Em entrevista exclusiva ao Diário de S. Paulo, apresentadora compartilhou detalhes da investigação sobre o acidente que levou a vida de dona Florinda Maldonado aos 74 anos

Patricia Maldonado ao lado da mãe, Florinda Maldonado Aricó - Imagem: reprodução/Facebook
Patricia Maldonado ao lado da mãe, Florinda Maldonado Aricó - Imagem: reprodução/Facebook

Mateus Omena Publicado em 24/08/2022, às 16h55


Conhecida por sua passagem pela Record TV, Band e Globo, a apresentadora Patricia Maldonado, 47, revelou no último domingo (21), pelas redes sociais, uma tragédia familiar sofrida no início do ano, que resultou na morte de sua mãe.

Segundo a publicação, em 21 de fevereiro, Florinda Maldonado Aricó, 74, voltava de uma farmácia com o marido, Vicente Aricó, 75, em Valinhos, no interior de São Paulo, quando o carro do casal foi atingido por outro veículo. O motorista que provocou a colisão não prestou socorro às vítimas e fugiu do local.

No entanto, a apresentadora, que atualmente vive em Orlando (EUA) com a família, alegou que o caso foi classificado como homicídio culposo, no qual não há a intenção de matar, e apontou para um descaso por parte das autoridades sobre o incidente que matou sua mãe.

Ela ressaltou que ainda não houve resposta para o crime e cobrou dos investigadores mais empenho no caso, assim como muitos outros associados a violações das regras de trânsito.

Em entrevista ao Diário de S. Paulo, Patrícia Maldonado detalhou como a tragédia aconteceu:

“Era feriado aqui nos Estados Unidos. Minhas filhas e eu dormimos até tarde naquele dia. Meu irmão ligou várias vezes, mas não consegui atender. Quando finalmente consegui falar com ele, soube que tinha acontecido um acidente com os meus pais. Os bombeiros estavam tentando reanimar minha mãe, já tinha passado muito tempo desde o acidente e não tiveram sucesso. A colisão ocorreu às 08h do horário local”.

Ela contou que, por meio de imagens feitas por uma câmera de segurança, a polícia comprovou que o motorista que bateu no carro de seus pais estava dirigindo em alta velocidade e, em alguns momentos, na contramão. 

“Um motoboy que testemunhou a cena da batida relatou no depoimento que o motorista estava fazendo zigue zague pela rua. Ele contou também que o motorista nem foi socorrer meus pais, nem se importou se estavam gravemente feridos. Aquele motoboy foi muito importante naquele momento, porque ele tentou ajudar meus pais, ligando para a emergência”.

O pai de Patrícia, Vicente, teve uma lesão na bacia devido ao impacto. Ele não passou por cirurgia, mas tem dificuldades para andar e necessita de cadeira de rodas. “É uma sequela que ele vai ter para sempre. Mas, apesar do dano físico, o maior sofrimento é o psicológico, porque ele foi casado com minha mãe por 50 anos e assistiu à morte dela. Enquanto ela estava desacordada, ele entrou em desespero”.

Revolta

Seis meses após o doloroso episódio, a família não aceita que o crime seja tratado como um homicídio culposo e exige que seja considerado o dolo eventual, quando o infrator assume o risco de cometer crimes que resultem de seus comportamentos.

Nesse caso, o réu não planejou matar, mas sabia que poderia fazer isso ao assumir uma atitude perigosa.

“A maneira como a polícia e a Justiça estão tratando o caso é o que está acabando com minha família. Antes de revelar isso nas redes, eu pensava que era óbvio que haveria punição para a pessoa que estava dirigindo de maneira irresponsável e se omitiu em prestar socorro às vítimas. O dolo eventual garantiria que a justiça fosse feita e que minha família não precisasse mover um processo para fazer o que é certo. Mas, nós percebemos que infelizmente não vai dar em nada, porque o caso é tratado como um simples acidente de trânsito”, explicou.

De acordo com Patrícia, as investigações não progrediram, apesar do surgimento de provas de infrações cometidas pelo motorista, através de depoimentos de testemunhas e imagens de câmeras de segurança.

Ela contou também que a polícia não solicitou a perícia do velocímetro dos carros e que algumas imagens do circuito de câmeras foram perdidas.

Embora os investigadores tenham localizado um suspeito, optaram por ignorar todas as evidências.

“Por isso, eu recorri às redes sociais, usando minha imagem como apresentadora de televisão, para manifestar essa incoerência e mudar o rumo desta história. Exijo que a punição correta seja feita, mas às vezes percebo que não é o suficiente, que não fará diferença”.

Depois da repercussão do post de Patrícia sobre a tragédia, muitos usuários compartilharam com a apresentadora histórias semelhantes.

“É desesperador a quantidade de DMs que recebo todos os dias, desde que fiz o post, de pessoas que sofreram em situações parecidas com a minha. Muitas pessoas me contaram que perderam mãe, filha, namorado, pai e melhor amigo em acidentes de carro, em condições parecidas com a dos meus pais, e os culpados por essas tragédias saíram impunes”, contou.

“Várias pessoas tiveram que se conformar, dizendo que: ‘A justiça é assim mesmo, nada acontece’. Quando leio cada relato como esse, eu perco a esperança. Parece que minha mãe vai entrar em mais uma estatística de mortes por acidente de trânsito”, lamentou.

Saudade

Patricia Maldonado
Patricia Maldonado junto com a mãe, Florinda, e as filhas Maitê e Nina / Imagem: Reprodução/Facebook

Ao longo da entrevista, Patrícia recordou diversos momentos ao lado da mãe, Florinda, e compartilhou um dos mais marcantes.

“Em uma das últimas conversas que tive com a minha mãe, ela me disse que um dos maiores sonhos da vida dela era ver minhas filhas se formando. Ela falou: ‘Olha, vou acompanhar. Isso vai acontecer. Quero estar na festa e comemorar com elas’”.

E continuou: "Eu compartilhava com minha mãe tudo da vida da Nina (12 anos) e da Maitê (10 anos), inclusive dificuldades de escola e ela sempre dizia: ‘Fica tranquila, elas vão longe e vou vê-las se formando'. Mas esse sonho nunca vai se realizar. Eu nunca vou ver minha mãe aplaudindo as netas, porque, em uma cidade pequena e pacata, uma pessoa tirou ela de nós”.

A investigação

Procurado pelo Diário de São Paulo, o MP-SP (Ministério Público de São Paulo), órgão que acompanha o caso junto com a Promotoria de Justiça de Valinhos, informou que o crime foi determinado como homicídio culposo, depois de uma análise preliminar de inquérito realizada em 29 de maio.

O MP preferiu não se proncunciar sobre o caso e emitiu nota para a reportagem. Leia na íntegra o que o ministério compartilhou com o Diário:

“A Promotoria de Justiça de Valinhos informa que, em uma análise preliminar do inquérito policial, em 29.05.2022, o Ministério Público vislumbrou a prática dos delitos de homicídio culposo e lesão corporal culposa na direção de veículo automotor, tipificados nos artigos 302 e 303 do Código de Trânsito Brasileiro, os quais possibilitam a celebração do acordo de não persecução penal, quando requereu algumas providências visando à designação de audiência, as quais ainda não foram atendidas.

Essa manifestação foi reiterada em 03.08.2022, em razão de pedido formulado pela vítima de lesão corporal culposa e esposo da vítima de homicídio culposo, que pretendia o reconhecimento do homicídio doloso e não culposo”.

A equipe de redação entrou em contato com o TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), mas não obteve resposta. A Secretaria de Segurança Pública de Valinhos também foi procurada e não quis comentar o caso ou compartilhar detalhes sobre a investigação. 

Atualização

Após a publicação da matéria, o TJ entrou em contato com o Diário para compartilhar uma nota sobre a investigação da morte do incidente que levou à morte Florinda Maldonado Aricó.

"Há inquérito policial em andamento para apurar crime de trânsito. Por se tratar ainda de inquérito, os autos correm sob segredo de Justiça e, por isso, essas são as informações que podemos passar".

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