Diário de São Paulo
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Assédio no trabalho

Homem é acusado de assédio sexual por 70 mulheres, todas psicólogas

Segundo as vítimas, o acusado se passava por paciente para conseguir o contato das profissionais

Homem é acusado de assediar 70 mulheres, todas psicólogas - Imagem: Unsplash
Homem é acusado de assediar 70 mulheres, todas psicólogas - Imagem: Unsplash

Nathalia Jesus Publicado em 12/09/2022, às 11h29


Lucas Silva Dornelles, de 34 anos, é acusado de importunação sexual por cerca de 70 psicólogas durante as sessões. As profissionais afirmam que o morador de Bom Retiro (RS) utiliza as redes sociais para encontrar as vítimas, entra em contato fingindo marcar uma consulta online e assedia as mulheres.

Algumas profissionais comentam que receberam mensagens de cunho sexual e logo em seguida já encerraram o contato com o homem. Porém, outras entraram em chamadas de vídeo para as supostas consultas, onde Lucas aparecia se masturbando em frente a câmera.

Em entrevista a Universa, a psicóloga de 27 anos, Letícia Martins de Oliveira, relata como foi o seu primeiro contato com o criminoso:

"Ele entrou em contato comigo se passando por paciente, disse que tinha uma deficiência e que precisava de atendimento online. Esse é o modus operandi dele, ele fala isso para sensibilizar a psicóloga e conseguir uma abordagem mais rápida. Achei um pouco atípico, mas o tratei como trato todos os pacientes", lembra a profssional.

Letícia ainda conta que durante a suposta consulta online, Lucas pediu para fazer a sessão deitado por conta de uma deficiência física. O criminoso posicionou a câmera de forma que mostrasse somente o seu rosto e chegou a falar para a psicóloga que tinha "feitiche fora de controle".

Pelos movimentos dos braços, expressões e respiração, Letícia percebeu a situação em que estava e logo saiu da chamada.

Após o ocorrido, Lucas insistiu em uma segunda consulta durante alguns dias, até que Letícia cedeu.

Na segunda oportunidade, o criminoso passou a relatar um sonho erótico que teria tido com a psicóloga e voltou a se masturbar durante a ligação, momento em que Letícia desligou a chamada mais uma vez.

Lucas ainda insistiu em conversar com Letícia por mensagem de texto, onde enviava mensagens de cunho sexual para a psicóloga, até que a profissional decidiu fazer a denúncia.

Mesma operação, estados diferentes

A delegada responsável por recolher o depoimento de Letícia, Wanessa Miranda Ferreira, da 3º DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) de São Paulo, disse que o inquérito ainda está em curso e, por isso, não é possível afirmar que o caso se trata de uma importunação sexual.

Longe dali, Dornelles já teria feito mais vítimas em pelo menos 12 estados diferentes, fato que, segundo a delegada, dificulta ainda mais para o andamento das investigações.

Atualmente a primeira denúncia contra Lucas Dornelles, a da psicóloga Letícia Martins, está sob investigação do Ministério Público de São Paulo.

Liliany Souza, de 37 anos, também foi contatada através de redes sociais em um domingo à noite para uma "sessão" de urgência com Lucas, há aproximadamente seis meses.

Após a primeira negativa, o homem passou a ligar incessantemente para a psicóloga na tentativa de conseguir uma chamada de vídeo. Depois de negar novamente fazer a "consulta", Liliany começou a ser agredida verbalmente pelo suspeito.

"Bota bunda e tetas de fora para atrair clientes. Capaz que eu ia por dinheiro fora com psicóloga. Só ia te pagar porque você é gata", teria dito o homem.

No dia seguinte, a psicóloga decidiu compartilhar em suas redes sociais o que havia acontecido e se surpreendeu com o número exorbitante de denúncias sobre a mesma pessoa que haviam sido feitas por suas colegas de trabalho.

"Choveu gente no meu Instagram falando que foi assediada por ele, ou que ele tinha tentado entrar em contato. Me toquei que se tratava de um cara que fazia isso em série", disse Liliany. Ela reuniu as vítimas e criou um grupo no Telegram, que já conta com mais de 70 profissionais, todas assediadas pelo mesmo suspeito.

Colegas de Liliany relataram que já haviam indicado profissionais homens para Lucas, mas ele se recusou a tentar contato.

É crime!

A Lei nº 13.718 configurou, em 2018, a importunação sexual como sendo crime em todo o territótio brasileiro.

Para enquadrar uma situação como o crime previsto na lei, deve haver o ato libidinoso (de cunho sexual) na presença de alguém que não deu autorização para que haja a prática.

"Podem ser considerados atos libidinosos, práticas e comportamentos que tenham finalidade de satisfazer desejo sexual, tais como: apalpar, lamber, tocar, desnudar, masturbar-se ou ejacular em público, dentre outros", diz o texto.

O tempo de reclusão caso seja comprovado o crime é de 1 a 5 anos.

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